
Avaliando a auto-avaliação escolar
Com
muita frequência, as mídias falada e escrita noticiam que seria adotada, no
processo de avaliação educacional discente municipal, uma auto-avaliação por
parte dos próprios alunos, bem como, de seus pais, complementando a tradicional
avaliação de conteúdos praticada pelos professores. Assim considerando, esse
processo de avaliação teria, em princípio, três componentes avaliativos: o do
aluno, o dos pais e o do professor. Evidentemente, cada um deles deve ter uma
ponderação, esperando-se que o peso maior seja dado pelos professores,
usualmente capacitados para tal. Mas, o que me surpreendeu foi que, novamente,
os professores estão fugindo, ou sendo obrigados a fugir, do que deles se espera:
avaliar os domínios do conteúdo ensinado aos, e aprendido pelos, alunos. É
natural esperar que, dentro do processo educacional, os professores sejam os
agentes mais capacitados para avaliar os domínios ensinados. Parece-me,
novamente, que o “romantismo educacional”, ingênuo, volta a atacar as escolas
ribeirão-pretanas. Pois, ao transferir parte da avaliação, ainda que ponderada,
aos alunos e pais, surge imediatamente a questão: “Saberiam estes quais
domínios avaliar?”, “Teriam estes condições de avaliar domínios específicos,
habilidades de solução de problemas, características emocionais e afetivas
inseridas no processo de aprendizagem?”. É óbvio que não. E isto caracteriza um
professorado, consciente ou à revelia, fugindo de suas responsabilidades.
Uma avaliação pode ser definida
tanto como o julgamento de um valor, ou o impacto de um programa, procedimento
e ganhos individuais, quanto um julgamento do processo de ensino como um todo.
Três tipos podem ser identificados: (1) avaliação
diagnóstica, realizada durante a elaboração dos objetivos educacionais.
Usada para decidir quais estratégias e táticas de ensino podem ser
implementadas, considerando as características cognitivas, afetivas e
motivacionais dos alunos, é realizada antes de se iniciar o programa
educacional; (2) avaliação formativa,
realizada dentro de, ou durante o, desenvolvimento de um programa educacional,
é aplicada tanto para melhorar o desenvolvimento do estudante e do professor,
quanto daquele que efetuou o planejamento escolar. Sua importância reside em
sua aplicabilidade para determinar o nível de “domínio de conteúdo” dos
estudantes e as estratégias necessárias para alcançá-lo e, finalmente, (3) avaliação somativa final, realizada no
final de um programa educativo para obtenção de notas, certificação e admissão.
É utilizada nas tomadas de decisões, considerando o futuro da aprendizagem dos
estudantes, ou no destino do programa aplicado, ou seja, se o mesmo será
reduzido, continuado, terminado, replicado ou disseminado.
Considerando estes três tipos de
avaliação, quatro tipos de domínios cognitivos, fundamentais, precisam ser
capturados. São eles: o matemático, o de leitura e escrita, o científico e a
habilidade de solução de problemas. O domínio matemático envolve a habilidade
dos estudantes em analisar, raciocinar e comunicar idéias, tal qual eles a
possuem, formulam, expressam e interpretam, para solucionar complexidades. O de
leitura e escrita envolve a habilidade em ler e escrever textos escritos, bem
como, interpretar textos orais, em ambos identificando personagens, ações,
pensamentos, experiências, etc. O científico é definido como habilidade para
usar o conhecimento científico, e seus processos, não apenas para entender o
mundo natural, como, também, para participar das decisões que lhes afetam.
Conceitos, processos e princípios científicos são os ingredientes ativos deste
domínio. Finalmente, o de habilidade de solução de problemas, é entendido como
a capacidade de utilizar processos cognitivos para solucionar problemas
interdisciplinares reais, nos quais as soluções, e os domínios aplicáveis, ou
mesmo, as áreas curriculares são imediatamente óbvias. Na realidade, os três
primeiros domínios envolvem o que chamamos de inteligência cristalizada,
enquanto o último, o que chamamos de inteligência fluída.
Pergunto: são os pais e os
estudantes, seus filhos, capazes de avaliar tudo isso? O quê, de fato, ambos
avaliariam? Que aprenderam ou não aprenderam? Que os professores são
competentes ou negligentes? Ou então, que estes faltam ou não faltam? Seriam
pais e alunos, seus filhos, isentos de vieses para avaliar tal domínio? Certamente
que não. Jogo fora todos os meus diplomas, títulos acadêmicos, nacionais e
internacionais, se algum educador desta cidade me provar que isto possível. Não
estou dizendo sobre, mas vale relembrar que, há dados mostrando que quase 55%
dos brasileiros são analfabetos funcionais em leitura e escrita, assim como,
que quase 60% dos mesmos não entendem, nem são capazes de manipular, conceitos
matemáticos elementares e fundamentais.
Está na hora dos nossos educadores,
e dirigentes, assumirem, e não fugirem, nem serem induzidos e obrigados a, suas
responsabilidades. O líder da sala de aula é o professor, e ninguém mais. E, em
assim sendo, cabe a ele determinar, controlar e impor os critérios de aferição
dos domínios factuais, mnemônicos e cognitivos. Além disso, para resolver os
problemas de normas de conduta, os professores devem adotar algumas regras
simples, mas adotadas em todo o mundo: (1ª) a estudantes com comportamentos
inadequados não se deve permitir a presença em sala de aula; (2ª) estudantes
que são, cronicamente, violentos, devem ser suspensos e afastados de qualquer
atividade de convívio escolar; (3ª) estudantes que ameaçam, verbal ou
fisicamente, um professor devem expulsos da unidade escolar. Em outras
palavras, os professores precisam saber que, temporariamente, ou não, um grande
número de estudantes, suspensos ou expulsos, é parte do preço a ser pago para
se ter escolas ordeiras e seguras. Para tanto, cabe, e urge, aos professores, e
dirigentes, entenderem que, o que compete aos professores é ensinar, bem como,
aos estudantes, aprender.