
Avanços na Medicina Mente-Corpo (9)
Ao longo de nossa vida, defrontamo-nos com vários eventos que requerem diferentes graus de reajustamento social, em face de serem estressantes, numa escala de maior ou menor intensidade. Tal reajustamento envolve tanto a intensidade, quanto o período de tempo, necessários, para alguém se acomodar aos mesmos. Com o propósito de escalonar o grau de ajustamento requerido para diferentes eventos de vida, pesquisadores elaboraram uma escala contendo, originalmente, 43 itens. Exemplos destes são: casamento, morte da esposa, gravidez, mudança de residência, dificuldades sexuais, divórcios, problemas no emprego, férias, detenção, mudança nas atividades religiosas, elevado financiamento para aquisição de imóvel, aposentadoria e feriado de natal, entre outros.
Os participantes deste estudo foram, então, instruídos a assinalar um valor que refletisse a magnitude do reajustamento social requerido por cada evento de vida, em comparação a um módulo inicial, arbitrariamente selecionado desta lista, tomado como referencial. Deste modo, todos os demais itens eram escalonados em proporção a este módulo. O evento de vida previamente escolhido foi o casamento, cujo módulo foi 50. Assim, se um outro evento de vida requeresse metade de reajustamento social que o casamento, a ele deveria ser designado 25. Ao contrário, se um evento de vida necessitasse de um reajustamento social duas vezes maior que o casamento, os participantes deveriam assinalá-lo com o valor 100. Logo, os observadores deveriam julgar os demais 42 eventos restantes levando em consideração o valor 50, previamente atribuído ao casamento.
Esta escala foi aplicada em vários segmentos da sociedade norte-americana, bem como, nas culturas japonesa, mexicana, dinamarquesa, sueca, francesa, belga, holandesa, etc, revelando, sempre, que as estimativas de magnitude dos reajustamentos sociais, requeridos por estes diferentes eventos de vida, são independentes da cultura e, mesmo, de etnias, raça e sexo. Outros estudos investigaram se os escores dos eventos estressantes variam entre gêmeos monozigóticos e dizigóticos, revelando que há maior similaridade entre as pontuações dos fatores estressantes entre gêmeos univitelinos do que nos fraternos.
No Brasil, com colaboradores, realizamos estudos similares em Ribeirão Preto, Uberlândia e Rio de Janeiro. E os principais dados revelaram que os eventos de vida “morte do cônjuge”, ou de alguém íntimo da família, assim como, “detenção” e “divórcio” foram os de maior grau de reajustamento social. Enquanto que feriado de Natal, férias, alterações no sono, mudanças nos hábitos alimentares e pequenas violações da lei, foram considerados os de menor grau de reajustamento. Ademais, os dados obtidos com estas três amostras brasileiras foram altamente concordantes com a amostra americana. E, também, altamente estáveis ao longo do tempo. O que prova que o evento Natal demanda pouco reajustamento social, ou seja, é menos estressante do que muitos julgam.