Boa governança e a elite cognitiva

Boa governança e a elite cognitiva

                

             Sendo a governança o manejo benéfico e eficiente da sociedade via decisões de instituições, esta (almeja-se) pode fazer fundamental e grande contribuição ao bem-estar das nações. Exemplos notórios de má governança, entretanto, ocorreram ao longo da História, em governos ditatoriais, como o de Hitler, Pol Pot, Idi Amin e Saddam Rhusseim, contrastando com exemplos de boa governança, promotora de prosperidade econômica, como, também, de liberdade, obediência às leis, direitos humanos, segurança e paz. Mas como a boa e a má governança afetam as sociedades? Com seu impacto através da criação e interpretação de leis, de negociações entre países e organizações internacionais, de modelagem das instituições político-econômicas, da influência no desenvolvimento do capital humano e das políticas demográficas, do desenvolvimento e controle dos órgãos executivos, na força de trabalho administrativa, na burocracia policial, judiciária, militar, alfandegária, bem como, na taxação de impostos e de órgãos de inspeção técnica. Ou, seja, nela, a corrupção e a baixa qualidade na administração e economia são controladas e a competência, a eficiência e os princípios meritocráticos, encorajados.

            Uma vez que a governança, na contemporaneidade, opera através de muitos tipos de decisões e de instituições, o desenvolvimento de capital cognitivo é crítico para seu sucesso. Assim, políticas educacionais são importantes tanto para difusão de habilidades básicas, quanto para emergências de especialistas que trabalham em seu manejo nas instituições políticas, econômicas e científicas e para o desenvolvimento de novas tecnologias. A propósito, esta visão de governança é ativamente promovida pelo Banco Mundial e seus pesquisadores. Na realidade, boa governança é uma tarefa cognitiva altamente complexa, a qual atua para líderes e administradores que necessitam, frequentemente, adquirir e interpretar informações, processando seus diferentes objetivos e valores, de forma a se tornarem aptos à tomada de decisões. Governar é, então, engajar-se na solução de problemas complexos, como, por exemplo, o que ocorre com diretores-presidentes de uma grande empresa, ou prefeito, parlamentar, governador e presidente de uma nação.

            Na modernidade, as realizações das classes intelectuais, e de grupos altamente habilidosos, chamados por alguns estudiosos como “elite cognitiva”, “realizadores globais”, competidores internacionais ou que desempenham em nível altamente cognitivo, parecem ser especialmente cruciais para enriquecer a produtividade da nação. Seus impactos operam via inovação tecnológica e via manejo da complexidade nas empresas, indústrias, administração público-privada e governanças nas mais diferentes instâncias. Contrário às outras formas de “capital”, nesta não parece haver qualquer retorno diminuído da habilidade cognitiva, ou seja, quanto mais elevada a habilidade cognitiva, e quanto mais inteligentes forem as pessoas nela envolvidas, mesmo nos níveis mais altos, tanto melhor.

            Refletindo sobre estas colocações, talvez seja interessante perguntar qual a origem da elite cognitiva governamental brasileira (se é que ela existe; existe?). Será que nossos parlamentares, de qualquer uma das casas de leis brasileiras (municipal, estadual e federal), originam-se e emergem de uma classe cognitivamente operante, realizadora, competidora, eficaz em nível internacional, capaz de competir no mundo globalizado? Tanto minha resposta, quanto a sua é, certamente, um sonoro “Não”. Entretanto, tenho certeza de que grande parcela dos representantes da grande nação norte-americana emerge de uma elite cognitiva composta, desde o início, de indivíduos que integram o topo dos percentis da distribuição da inteligência mundial, os quais têm atendido a muitas universidades e colleges de elevadíssimo nível. De fato, estudo, neste contexto, demonstrou, empiricamente, que, em cinco grupos da elite americana, compostos por diretores-presidentes, bem como, por juízes federais, senadores, deputados e alguns cidadãos destacadamente bilionários, listados na revista Fortune, quase todos atenderam à instituições de pós-graduação altamente seletiva ou graduaram-se em universidade de mesmo nível. Importante, ainda, destacar o escore altamente elevado sendo requerido para ingresso nessas instituições. Em outras palavras, essas instituições são reconhecidas por filtrarem seus integrantes em função das habilidades cognitivas que estes desempenham.

            Um exemplo? Elevada porcentagem de seus diretores presidentes (39%), dos juízes federais (41%), dos bilionários (45%), dos senadores (41%) e dos deputados (21%) freqüentaram escola de elite (topo 1%), porcentagem, esta, em que, 13% de seus diretores-presidentes, 12% de seus juízes federais, 11,3% dos cidadãos bilionários, 12% dos senadores e quase 7% dos deputados estudaram em Harvard. Além disso, diferença nos níveis educacionais e de habilidades foi encontrada em vários setores nos quais os bilionários adquiriram sua riqueza, como, por exemplo, em tecnologia versus comércio varejista e similares. Globalmente, tanto aqueles que foram eleitos pelos americanos, quanto os que foram selecionados através de outros meios para ocuparem posições que substancialmente influenciam a sociedade americana emergem de instituições educacionais altamente seletivas, as quais filtram seus candidatos no escore mais alto das habilidades cognitivas. Esses indivíduos da elite emergem largamente da classe intelectual mais talentosa, com muitos deles no topo do 1% da educação e habilidade mais elevada do planeta. E os nossos?

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