Celulares no trânsito: vida ou morte?

Celulares no trânsito: vida ou morte?

O problema: Celulares, embora úteis, podem distrair motoristas que os utilizam no trânsito e este é um comportamento que vem sendo intensamente praticado centenas de horas no ano. Uma conversa ao celular impede a percepção do que está acontecendo nas rodovias, principalmente naquelas muito movimentadas. Portanto, é provável que uma pessoa, mesmo externa ao veículo, ao fazer uma ligação ao celular, possa colocar o motorista em risco pelo fato de requerer a atenção que este iria dedicar às situações críticas inerentes ao fluxo do trânsito. Estudos experimentais, epidemiológicos e simulações envolvendo simulações de tráfego, têm sugerido que o uso de celulares, enquanto dirigindo, afeta, substancialmente, tanto habilidades perceptivas quanto motoras.

 

Telefones celulares e trânsito: Devido à crença de que o uso de celulares, principalmente do tipo manual, enquanto dirigindo, possa causar colisões ou graves acidentes de trânsito graves, vários países têm restringido seu uso em veículos automotivos. Neste contexto, Austrália, Espanha, Portugal, Itália, Chile, Suíça, Israel, Grã-Bretanha, Dinamarca, Polônia, Hong Kong e o Brasil têm elaborado normas e leis proibindo tal uso. Mas, não há como negar que outros países simplesmente não adotam normas específicas para estes casos por entenderem que essas devem ser idênticas àquelas normas gerais, encontradas na maioria dos códigos de trânsito que requerem responsabilidade do motorista para dirigir com segurança e cuidado, atendendo, exclusivamente, às demandas das rodovias/estradas e ao fluxo dos usuários das mesmas.

No Brasil, em particular, o uso do telefone celular manual está terminantemente proibido, enquanto que o uso de celulares do tipo viva-voz, ou com fone em apenas um dos ouvidos, não está sujeito às infrações de trânsito (artigo 252. Inciso 6º, do Código de Trânsito Brasileiro, promulgado em 1998). Acreditam, portanto, que, ficando o motorista com as mãos livres, este não perde a dirigibilidade e a destreza manual, o que, absolutamente, não é verdadeiro. O comportamento de dirigir não envolve apenas a habilidade motora, mas, principalmente, a habilidade cognitiva global. Trata-se de carga mental ou cognitiva e não de carga física ou carga manual. Logo, do mesmo modo que não podemos carregar uma carga física, bastante pesada, devido às limitações do nosso aparelho locomotor e físico, também não podemos atender sem erros a um número muito grande de estímulos apresentados ao mesmo tempo. Há um limite na nossa carga mental. 

 

O tsunami dos celulares no trânsito: Estudos epidemiológicos, psicológicos, comportamentais e fisiológicos compararam desempenhos de motoristas dirigindo enquanto usando celulares com os daqueles que estavam intoxicados por etanol (concentração de álcool no sangue em 0,08% peso/volume).

            Os dados sugeriram que incapacidades associadas aos motoristas falando ao celular podem ser tão profundas como aquelas comumente observadas em motoristas bêbados. Não obstante, déficits relacionados à atenção são relativamente transitórios, ocorrendo enquanto o motorista está fazendo uso do celular e dissipando-se rapidamente quando o foco de atenção retorna ao comportamento de dirigir. Ao contrário, efeitos do álcool persistem por tempo prolongado, são sistêmicos e conduzem a uma incapacitação crônica. Estes dados podem orientar políticas públicas visando regular a distração causada pela conversação mantida no celular.

 

Perigos reais dos celulares: Ao dirigir sob uma destas quatro condições: (1ª) sozinho e sem conversação, (2ª) conversando com o passageiro ao seu lado, (3ª) sozinho, conversando com alguém no celular manual e (4ª) sozinho, conversando, no celular manual, com alguém que têm a mesma visão de trânsito que você, motoristas, ao celular, frequentemente fracassam em reduzir a velocidade quando se aproximam de diferentes situações perigosas, simuladas nas rodovias, resultando, com isso, em maiores taxas de colisão, bem como, em ultrapassar outros veículos, não conseguindo aumentar a velocidade para tal a tempo e a contento.

Somente os que estavam sozinhos, e em silêncio, conseguiam aumentar e diminuir a velocidade com segurança; desacelerar rapidamente em situação periculosa, mantendo velocidade apropriada durante ultrapassagem, raramente envolvendo-se em colisões, e, o mais importante, relembrando, facilmente, dos perigos encontrados após assumirem a direção. De modo similar, motoristas, conversando com passageiros dentro do carro, foram mais capazes de antecipar perigos e reduzir velocidades, desempenhando tão bem quanto aqueles que dirigiam sozinhos. Por sua vez, motoristas conversando no celular com alguém remoto, que tinha a mesma visão de trânsito, desempenharam similarmente àqueles que faziam uso do telefone celular para conversar com pessoas que não viam cenários do trânsito. E, se reagiam aos perigos, usualmente eram mais lentos, pouco os percebendo em comparação aos motoristas dirigindo sozinhos, ou com passageiro no carro.

            Interessante notar que o desempenho de dirigir, em motoristas que se encontravam conversando com o remoto, que via o trânsito, não foi melhor do que na condição em que motoristas faziam uso do celular para conversar com interlocutores que não viam o mesmo cenário de trânsito.

            Dirigir, falando ao celular, é muito diferente de dirigir enquanto conversando com um passageiro: nesta, a hora é amena, porém, naquela, pode ser derradeira. Conversar ao celular, enquanto dirigindo, é extremamente fatal para a vida.

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