Ciência versus senso comum na educação

Ciência versus senso comum na educação

         Escritores de ficção científica argumentam que ciência é um pouco mais do que o senso comum formalizado. Não está correto. A essência da ciência é o senso não-comum, ou seja, ciência é não-natural porque ela, frequentemente, nos requer sobrepujar nossos palpites e intuições sobre o mundo natural, neste incluindo o mundo psicológico. A rigor, ciência é um potente antídoto contra o realismo ingênuo, a tentativa, mas errônea suposição, de que o mundo é, exatamente, como nós o vemos. Uma variedade de ditados em nossa linguagem atesta o uso do realismo ingênuo em nosso pensamento cotidiano: “vendo e acreditando”, “eu acreditarei quando eu o ver”, “eu o vejo com meus próprios olhos”. Um exemplo clássico foi que, por um longo período de nossa história, as pessoas assumiam que a Terra era o centro do Sistema Solar, senão, do universo, por causa de suas cruas percepções e de seu realismo ingênuo. Afinal, todo dia, nós, aparentemente, permanecíamos plantados em terra firme enquanto o sol fazia um arco do nascente para o poente do globo. Assim, da perspectiva fenomenológica, nos parece estarmos no centro de todas as coisas, embora esta perspectiva seja, certamente, incorreta.

           De modo similar, professores e educadores devem permanecer vigilantes contra um conjunto de erros de pensamento que podem resultar na aceitação não-crítica e inquestionável de práticas educativas e, especialmente, daquelas que parecem ser científicas quando, na verdade, não o são. Assim como as ilusões visuais, estes erros, os quais podemos conceber como “ilusões cognitivas”, tendem a ser subjetivamente atraentes, não nos parecendo serem erros, ainda que o sejam. Elas são subprodutos de tendências psicológicas adaptativas, especialmente, de nossa tendência para extrair significado de nossos mundos mesmo quando tais significados estejam ausentes. A boa notícia é que podemos desenvolver habilidades de pensamento, ou hábitos mentais, que nos permitem lidar com elas.

           É importante notar que tais erros cognitivos são largamente independentes da inteligência global e, consequentemente, não podem ser atribuídos à baixa habilidade cognitiva. Realmente, a história da ciência é repleta de exemplos de cientistas, altamente inteligentes, mesmo Nobel laureados, atuando de forma ingênua. Por exemplo: Linus Pauling, duas vezes Prêmio Nobel, estava convencido de que grandes doses de Vitamina C, a despeito de substancial evidência do contrário, curava o câncer. Tal observação revela que o pensamento científico não surge naturalmente à mente humana: indivíduos altamente inteligentes, e mesmo brilhantes, podem estar altamente predispostos a sérios lapsos em tais pensamentos. Ou seja, enganados pelas ilusões cognitivas. Isto é porque nós necessitamos da ciência.

           É importante que professores e educadores saibam que “tradição” não pode ser confundida com “validação”. Eles devem atentar às técnicas educativas alicerçadas em pesquisas educativas mais sólidas. Em outras palavras: por fim aos “achismos” em educação brasileira. Ou, como dizia Boris Casoy, “É uma vergonha”.

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