Clima e Habilidades Cognitivas

Clima e Habilidades Cognitivas

              Num dos momentos descontraídos e felizes da vida, encontrei-me com meu colega, Dr. Paulo Finotti, brilhante ambientalista e cidadão pleno, encalorado com os 40 graus ribeirãopretanos, saboreando, com sua bela família, o geladíssimo e refrescante chopp dos canaviais. Radiante em nos encontrar, imediatamente falou: “Está quente, hoje!” Ao que, repliquei: “Oh, colega. Sinta-se privilegiado. Embora vivas numa terra ardente, sua grande habilidade verbal-linguística não tem diminuído mesmo com o decorrer de nossa maturidade”. Digo isso porque há inúmeros estudos mostrando que QI, ou habilidades cognitivas variadas, tanto a nível estadual e nacional, tem se mostrado altamente correlacionadas com as diferenças climáticas. Por exemplo, a relação entre clima e QI de, aproximadamente, 120 nações tem se situado por volta de -0.76, sugerindo que países com menores temperaturas tendem a ter habitantes com QIs mais elevados. Outros estudos, envolvendo, também, nações, revelaram que as médias para temperatura e os QIs estimados foram altamente correlacionados, particularmente, para as altas temperaturas do inverno.

            Por outro lado, considerando os Estados Norte-Americanos, há estudos mostrando correlações significativas entre o QI médio destes estados e um número de variáveis, incluindo, por exemplo, produto estadual bruto e crime violento. Analogamente, analisando-se as províncias espanholas e as regiões italianas, especialmente as diferenças norte e sul, pesquisadores têm demonstrado uma alta correlação entre os resultados acadêmicos do PISA e os QIs estimados com a temperatura média destas províncias ou regiões. A rigor, os dados indicam que as regiões do norte da Itália e da Espanha são mais ricas, apresentando menos problemas econômico-sociais, de saúde, criminológicos e educacionais. De modo similar, será que há diferença entre o norte e o sul brasileiros? Talvez você já tenha ouvido, num passado remoto, economistas e políticos dizerem que há dois Brasis, um sul rico e um norte pobre, o contrário do que ocorre na Itália e na Espanha. Em caso afirmativo, você já se perguntou quais as razões para isso ocorrer?

            Certamente, a direção da causalidade é difícil de comprovar. Mas, tomando os dados do ENEM 2009 e 2010, e do PISA 2006 e 2009, verificamos que as correlações entre esses resultados escolásticos e a temperatura média de cada Estado brasileiro revelam correlações negativas e altamente significativas. Assim é que, ENEM 2009 versus Temperatura tem o r = -0,76; ENEM 2010 versus Temperatura tem o r = -0,70; PISA 2006 versus Temperatura tem o r = -0,67 e PISA 2009 versus Temperatura tem r = -0,78. Portanto, quanto maior os escores escolásticos, aferidos pelo PISA ou ENEM, menores as temperaturas dos Estados, ou quanto menor a temperatura do Estado, tanto maior as habilidades cognitivas. Será, então, que baixa temperatura melhora a habilidade cognitiva? Há estudos indicando que sim, ou seja, em termos evolutivos, os habitantes de nações mais frias necessitaram, ao longo do processo evolutivo, usar mais eficientemente suas habilidades cognitivas para manterem a sobrevivência, a moradia, a saúde e o controle da prole. Em outras palavras, os humanos primitivos que migraram dos climas tropicais para aqueles mais frios foram forçados a empreender tarefas cognitivas desafiadoras, as quais resultaram na seleção de tamanhos de cérebros maiores e aumentada inteligência, quando comparados com indivíduos e grupos que permaneceram nos climas mais quentes.

            Não obstante, Finotti e eu, como muitos outros destes canaviais, somos privilegiados: contamos com o bom chopp da terra que, além de manter a inteligência ativa, algumas vezes, é um ingrediente-ativo para aumentá-la. Porém, sou mais privilegiado que os demais por contar, é certo, com a amizade de Finotti.Terminado o Carnaval, um bom ano a todos!

 

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