Cognição e emoção na educação médica

Cognição e emoção na educação médica

          No Censo de Educação Superior, o número de candidatos à carreira médica subiu 40% em 2009-2010, quando, em período anterior, a elevação foi de 1%. Em números absolutos, 542 mil alunos concorreram a uma vaga em Medicina em 2010, com razão de seleção 34 estudantes por vaga. Devido a esta alta relação candidato/vaga, o processo seletivo para a carreira médica se depara com a intrépida tarefa de selecionar uma classe de estudantes médicos dentre uma grande quantidade de candidatos altamente qualificados. No Brasil, historicamente, processos seletivos para Medicina têm sido baseados em exames vestibulares, de conteúdos centrados em medidas cognitivas, que podem, eventualmente, focar capacidade de raciocínio, solução de problemas, processamento de informação e tomada de decisão, mas que, freqüentemente, enfocam conhecimento cristalizado em diferentes disciplinas acadêmicas. Exemplos típicos destes exames são a FUVEST e o ENEM.

            Em que pese o valor preditivo destes exames cognitivos para o sucesso na carreira médica, em países como Estados Unidos e Canadá, tem havido recomendações para capturar, também, habilidades não-cognitivas na determinação do sucesso futuro em prática médica. Por adição, também têm sugerido necessidade de mensurar e identificar, fidedignamente, estes atributos nos candidatos. Dentre estas habilidades incluem-se empatia, resiliência, altruísmo, confidência, integridade, compaixão e capacidade de comunicação.

            Uma medida, não cognitiva, passível de ser usada durante o processo de seleção é a inteligência emocional (IE), entendida como habilidade para elaborar raciocínios acurados sobre emoções e habilidade para usar estas e conhecimento emocional no enriquecimento do pensamento. Para tanto, há escalas de inteligência emocional que oferecem uma avaliação direta da capacidade de um indivíduo para identificar emoções nos outros, bem como, usar emoções para facilitar o pensamento, entender o vocabulário emocional e significados e conhecer como manipular emoções. IE é, particularmente, importante para médicos porque entender e controlar suas emoções, assim como, entender a dos pacientes, durante consulta médica, são essenciais no funcionamento da equipe clínica, ao lado de oferecer o melhor atendimento aos pacientes.

            Estudo canadense revelou que escores de IE não se correlacionam com medidas acadêmico-cognitivas utilizadas, atualmente, em processos seletivos, sugerindo que IE avalie um construto fundamentalmente diferente das habilidades capturadas nos processos de admissão à carreira médica. Portanto, seria interessante que conselhos profissionais de medicina começassem a refletir sobre a importância de avaliar outras habilidades, ou traços de personalidade, válidos no contexto clínico, considerando o amplo espectro de especialidades atuais da medicina.

 

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