A cognição envelhece?

A cognição envelhece?

O tema “diferenças individuais”, no contexto da cognição, é, de algum modo, controverso na contemporaneidade por ser a habilidade cognitiva uma das mais valorizadas características humanas, ocasionando relutância em discutir diferenças individuais, ou de grupo, nestas características. Não obstante, inúmeros estudos examinam relações entre habilidade cognitiva e diferentes tipos de resultados ao longo da vida. Um destes, realizado com homens australianos, revelou que habilidade cognitiva mais elevada, antes de 22 anos de idade, foi associada com um risco menor de morte e, particularmente, mortes no trânsito, entre 22 e 40 anos de idade. Outro estudo, realizado com crianças escocesas de onze anos de idade, revelou que baixa habilidade cognitiva, na idade de onze anos, foi altamente associada com maior risco de mortalidade na idade de 76 anos.

Um dos mais expressivos achados da relação cognição – mortalidade baseou-se na análise de dados de cerca de um milhão de homens suecos, cuja habilidade cognitiva foi avaliada na idade de dezoito anos e, para os quais, mortalidade foi monitorada até, aproximadamente, 45 anos. Os dados, de forma muito clara, revelaram que alta taxa de mortalidade ocorria sucessivamente em níveis menores de habilidade cognitiva, demonstrando, portanto, uma relação dose-resposta.

Outros estudos, nessa direção, revelaram que escores mais elevados nos testes cognitivos foram associados com escores menores de depressão, melhor saúde geral e, significativamente, riscos menores de ter seis, de nove, condições diagnosticadas e quinze, de trinta e três, problemas de saúde. Além disso, há dados revelando que alta habilidade cognitiva, aos onze anos de idade, foi associada com menos contatos psiquiátricos na idade de setenta e sete anos. Mas, o que, de fato, “envelhece” com o envelhecimento cognitivo? Ou seja, quais são as tendências etárias na cognição?

Estudos têm revelado que há dois padrões distintos de envelhecimento para dois grandes tipos de cognição, com uma diminuição monotônica para medidas da inteligência fluída ou de raciocínio e uma estabilidade seguida por declínio para medidas de inteligência cristalizada, ou seja, conhecimento adquirido. Analisando estas duas tendências, pesquisadores estimam que o declínio seja de, aproximadamente, -0,04 desvio padrão por ano, começando na idade de trinta para a cognição fluída, com um aumento entre 20 a 65 anos de 0,03 desvio padrão por ano para a cognição cristalizada.

O interessante é que essas tendências etárias na cognição têm sido similares por várias gerações e não são restritas a certos seguimentos da população, haja vista que estas mesmas taxas permanecem, relativamente, constantes em diferentes idades, sendo independentes de idade, sexo, nível sócio-econômico e educação.

 

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