Como o QI muda a concepção de Educação Formal?

Como o QI muda a concepção de Educação Formal?

            Bruce Charlton, editor-chefe do periódico Medical Hypotheses, num editorial recentemente publicado, de forma surpreendente confessou que tudo o que ele havia escrito, nos últimos vinte anos, sobre educação superior, ciência e educação médica, estava totalmente errôneo pela simples razão de ele sempre ter negligenciado o importante papel do QI. Ao longo de todo esse período, Charlton argumentou que a educação formal deveria ser primariamente dirigida para inculcar a habilidade de pensar abstrata e sistematicamente. E que, portanto, a estrutura, e não o conteúdo específico, da educação, era o elemento-chave. Em adição, ele sempre sugeriu que a educação superior deveria ser considerada como um processo não vocacional, em que a maioria das graduações era modular, com módulos opcionais e multidisciplinares, de modo que, cada estudante arranjaria o seu próprio programa de graduação com um mínimo de constrangimento.

            Charlton também afirma ter advogado a idéia de que o pensamento abstrato era essencial para a modernização das sociedades. E que, qualquer reforma, social ou educacional, deveriam incluir tantas pessoas quanto possível na educação formal, bem como, pelo maior tempo possível. Entretanto, no início de 2007, ao tomar conhecimento, e aprender, os fatos básicos sobre QI, ele rapidamente mudou muitas destas concepções. Entendendo, com isso, que todas as suas pregações anteriores estavam erradas, bem como, que era impossível pensar em educação sem incluir, em sua arena, a importância do papel do QI. Para ele, após ler sobre o QI, ficou claro que, o que a educação estava fazendo deveria ser radicalmente modelado. Começando, portanto, a acreditar que o sistema educacional, nas sociedades modernas, estava operando sobre falsas premissas e, por isso, progressivamente, rumando para o pior em lugar do melhor. Assim considerando, Charlton, no editorial citado, sumariou quatro concepções errôneas, que ele entendeu como resultantes de sua falta de conhecimento sobre o QI.

            Concepção Errônea 1: A educação formal moderna deveria ser dirigida, primariamente, em inculcar a habilidade para pensar abstrata e sistematicamente. Segundo ele, esta concepção deveria ser revisada e colocada da seguinte maneira: A educação formal moderna deveria ser primariamente dirigida para inculcar conteúdo de conhecimento específico. Por quê? O raciocínio abstrato é excepcionalmente importante nas modernas sociedades. Muitos acreditam que o raciocínio abstrato é produto da educação formal. E outros tantos, como Charlton, consideravam que esta era a principal função da educação formal. Após conhecer as pesquisas sobre QI, Charlton foi hábil em reconhecer que o raciocínio abstrato é muito próximo da definição de QI. E que, por serem os resultados educacionais, tais como, compreensão de leitura e habilidade matemática, fortemente relacionados com QI, estes são muito difíceis, para não dizer impossíveis, de melhorar por meio de intervenções educacionais. Em outras palavras, habilidade para pensar abstratamente é um dado biológico, e não uma conseqüência da educação formal. A implicação disso, como tenho sustentado em artigos anteriores, é que a educação formal não deveria estar procurando fazer o que não lhe é possível fazer. Isto é: enriquecer o QI. Ao contrário, a educação formal deveria focalizar objetivos educacionais onde ela pode fazer diferença, ou seja, ensinar conhecimento específico.

            Concepção Errônea 2: A estrutura, e não o conteúdo formal, da educação é crucial. Esta crença, colocada de forma revisada por Charlton, após seus conhecimentos de QI, foi por ele expressa como: O conteúdo, e não a estrutura da educação, é que é crucial. Por quê? Charlton, como centenas de educadores que desconhecem as implicações educacionais do QI, acreditava que não importava qual o assunto, ou matéria, eram estudados na educação formal, pois, somente o método educacional era o que nutria o raciocínio sistemático abstrato. Os educadores, e também Charlton, acreditavam que “o como” nós aprendemos era mais importante do que “o quê” nós aprendemos, porque eles acreditavam que o raciocínio abstrato era resultante da educação formal. E esta habilidade cognitiva era mais importante do que qualquer corpo particular de informação que tinha sido memorizado. Mas, a partir de seu entendimento sobre o QI, Charlton começou a advogar a idéia de que “o quê” nós aprendemos na educação formal é mais importante do que “o como” nós aprendemos. Porque “o quê” nós aprendemos pode ter um efeito duradouro sobre o que nós conhecemos. Enquanto “o como” nós aprendemos não nos ensina como pensar.

            Concepção Errônea 3: O principal objetivo de uma reforma social-educacional deveria ser para incluir tantas pessoas, quanto possível, na educação formal, pelo maior tempo possível. Com mais pessoas obtendo cada vez mais educação num futuro próximo. Ao conhecer os fatos empíricos sobre QI, Charlton revisou essa crença, afirmando-a da seguinte maneira: O sistema da educação formal está substancialmente expandido. E deveria ser extremamente reduzido. Além disso, a pessoa média deveria receber poucos anos de educação formal, bem como, poucas pessoas deveriam se matricular nas instituições de ensino superior, e bem menos diplomas de graduação deveriam ser concedidos. E, finalmente, aqueles, na educação superior, deveriam, em média, completar o processo em menos anos. A motivação, subjacente a esta vasta expansão da educação superior, baseia-se na observação de que aqueles com graduação desempenharão melhor nos empregos e serão mais saudáveis e felizes. Todavia, todos estes comportamentos diferenciados podem ser explicados, em termos de seleção, pela inteligência, mais do que por melhoramentos sendo adicionados aos indivíduos por sua experiência educacional. Na realidade, uma longa educação formal está apenas sinalizando, ou fornecendo, evidência indireta sobre o QI de uma pessoa. Isto significa que impor um crescente número de anos de educação formal para uma proporção crescente da população é progressivamente ineficiente, bem como, também o é gastar anos da vida das pessoas, despender grande quantidade de dinheiro na provisão educacional e impor altos custos sociais, e econômicos, forçando as pessoas a permanecerem na educação formal, quando seu tempo poderia ser gasto fazendo outras coisas, mais produtivas economicamente, ou, mesmo, mais satisfatórias pessoalmente. Longos anos nos bancos escolares poderiam ser substituídos pela certificação educacional, de forma mais confiável e válida.

            Concepção Errônea 4: A educação superior deveria ser considerada como um processo geral, não vocacional. E no lugar da especialização, ou preparação vocacional, deveriam ter treinamentos relativamente breves e rápidos no final de um longo processo de educação. Esta concepção, reanalisada em face do conhecimento sobre QI, foi assim expressa por Charlton: O período de educação geral, que não deve se estender para além de 16 anos (a idade aproximada da maturidade do QI), e a educação geral, deveriam ser focalizados nas habilidades básicas de letramento e numeramento em conjunto com um currículo que enfocasse um conhecimento central. Desta forma, ao deixar a escola, por volta dos dezesseis anos, a pessoa carregaria um conjunto de resultados (escores) obtidos em provas, baseados no conhecimento, que demonstrariam seu nível de competência num currículo fundamental. Bem como, com mensurações psicométricas, fidedignas e válidas, de sua inteligência geral. Portanto, a combinação dos resultados destas provas com as medidas psicométricas de inteligência poderia funcionar tal como as avaliações educacionais fazem atualmente, fornecendo uma base para a seleção no emprego ou predições válidas para guiar a alocação de acesso a níveis adicionais de educação formal.

            Após analisar estas quatro concepções errôneas, e reformulá-las, baseando-se nos fatos empíricos concernentes ao QI, Charlton conclui que as sociedades modernas estão, atualmente, sustentando-se em demasia na educação formal e que esta educação tem se sustentado em falsos pilares. Para ele, a tarefa de alocar pessoas, por suas habilidades gerais, poderia ser feita, mais econômica e rapidamente, usando testes psicométricos que mensuram QI. E que, faltando conhecimento psicométrico sobre QI, as pessoas não serão hábeis de entender o sistema educacional, e nem mesmo o que ele realmente faz. Logo, o que ele quer dizer, é que a sociedade atual não deve continuar negligenciando, obscurecendo e vilipendiando os fatos empíricos resultantes do QI.

 

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