Como a renda afeta a felicidade?

Como a renda afeta a felicidade?

        Certamente você já leu, ouviu falar ou se perguntou se dinheiro traz felicidade. Para responder a essa questão, torna-se necessário analisar três aspectos da relação renda e felicidade: 1º) num dado momento no tempo, são as pessoas com alta renda mais felizes que aquelas com baixa renda?; 2º) um aumento na renda, ao longo do tempo, aumenta a felicidade?; 3º) em países ricos, as pessoas são mais felizes do que aquelas que vivem em países pobres?

            Em relação à primeira questão, isto é, renda mais alta significa felicidade mais elevada? Entende-se que pessoas com maior renda têm mais oportunidades para alcançar o que elas desejam? Em particular, elas podem comprar mais bens materiais e serviços. Ademais, elas têm um status maior na sociedade. A literatura científica sobre o assunto tem revelado que as pessoas mais ricas, em meia, registram maior bem-estar subjetivo. Nesse sentido, dinheiro “compra felicidade”. De fato, dados baseados em levantamentos sociais obtidos nos EUA, Europa e Alemanha, analisando a relação entre rendas equivalentes e estimativas médias de felicidade, indicam que a felicidade média eleva-se com a renda. Um exemplo? Para níveis de renda mais baixos a pontuação média de felicidade é 1, 94. Para pontuações de renda moderada, a média 2,19 e para as rendas mais elevadas o escore médio de felicidade é 2,36.

            Todavia, renda adicional não aumenta a felicidade ad infinitum. A relação renda e felicidade não é linear, havendo uma utilidade marginal diminuída com a renda absoluta, isto é, felicidade aumenta até um dado limiar, a partir do qual renda adicional não implica aumento da felicidade.

            No caso da segunda questão, a felicidade é relativa. A literatura científica revela que nós, seres humanos, somos incapazes de fazer julgamentos absolutos, nem usualmente o desejamos. Ao contrário, nós, constantemente, efetuamos comparações a partir de nosso ambiente, de nosso passado e de nossas expectativas de futuro. Assim, as pessoas informam-se e reagem aos seus próprios níveis de aspiração e desvios. Há dois processos principais modelando as aspirações individuais e produzindo a relatividade nas avaliações das pessoas.

O primeiro processo dão as comparações pessoais. Neste caso, as pessoas se preocupam com sua posição na pirâmide da renda. Neste caso, não é o nível absoluto de renda que mais importa, mas, sim, a posição relativa da pessoa em relação aos outros indivíduos. Esta ideia da renda relativa é parte substancial do nível de aspiração inerente das pessoas. Alguns teóricos têm cunhado o termo “hipótese da renda relativa”, indicando que as pessoas comparam-se a outras que lhes são significativas nos quesitos renda, consumo, status ou utilidade.

            O segundo processo ou mecanismo que reduz os efeitos hedônicos de um estímulo repetido ou constante, como a renda, por exemplo, é chamado adaptação. Isto significa que bens e serviços materiais adicionais que inicialmente fornecem prazer-extra tornam-se, posteriormente, transitórios. Satisfação depende de mudança e desaparece com o consumo contínuo. Assim, processos de adaptação hedônica suplementam comparações sociais ou mesmo competitivas ou processos de consumação. Em palavras mais simples, o que é demais sempre enjoa. É bom saber que grama do vizinho nem sempre é a mais verde.

            A terceira questão envolve diferenças na renda e na felicidade entre países. Vários estudos evidenciam que, em média, pessoas vivendo em países mais ricos são mais felizes que aquelas vivendo em países mais pobres. De fato, estudos que analisaram a relação entre a renda per capita e satisfação média com a vida, em 63 países, mostram claramente que registros d bem-estar subjetivo elevam-se com a renda. Observa-se, entretanto, uma relação côncava indicando que renda provoca felicidade em níveis inferiores de desenvolvimento, mas até um limiar de, aproximadamente, 20 mil reais. A partir do qual o nível de renda num país tem pouco efeito sobre o bem-estar subjetivo médio.

            Assim considerando, as evidências sugerem que renda e felicidade são correlacionadas entre as nações, mas, por serem os efeitos pequenos e sujeitos a um limiar, outros fatores podem ser tão importantes quanto em explicar diferenças no bem-estar subjetivo registrado entre nações. Mas, fica claro que, a noção de que pessoas, em países pobres, são mais felizes porque vivem em condições mais naturais, e menos estressantes, é um mito

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