
A complexidade das tarefas públicas
Todos os tipos de trabalho, profissão ou
tarefas ocupacionais requerem de um indivíduo comportamentos orientados por
processos cognitivos. E, uma vez que tais processos refletem em algum grau
inteligência geral, pode-se dizer que a proficiência ou o treinamento no
trabalho são saturados de inteligência geral. Este grau, dependendo do nível de
novidade e de complexidade cognitiva demandada pelas diferentes ocupações,
mostra que a principal propriedade que os distingue reside na complexidade
cognitiva de suas tarefas constituintes, indicadas pelos requerimentos de
raciocínio, tomada de decisões, julgamentos, identificações e reações imediatas
às situações-problema, além de, continuamente, apreensão de informações
profissionais e ocupacionais. Quando as tarefas ou funções são classificadas de
acordo com sua complexidade, a inteligência, mensurada por testes de QI,
correlaciona-se mais altamente entre 0,50 a 0,65, do que com tarefas de baixa
complexidade, para as quais as correlações situam-se entre 0,25 e 0,40.
Assim, parece que, quanto mais complexa é
a tarefa, tanto mais inteligência (QI) ela requer. Em outras palavras, a magnitude da correlação
depende da complexidade cognitiva das habilidades requeridas. A correlação é
mais elevada para tarefas que demandam habilidades cognitivas de alta ordem ou
mais complexas, ou seja, requerendo uma maior saturação de inteligência geral.
Nossos dirigentes municipais têm, ao longo
dos últimos anos, enfrentado variadas tarefas, desafios ou funções, que se
diferenciam de acordo com sua complexidade. Muitas destas são altamente
complexas, como, por exemplo, aquelas das esferas da saúde, do transporte
urbano, da educação e da segurança. Outras são de complexidade moderada, tais
como, as que envolvem meio-ambiente, paisagismo e tratamento de esgoto e água.
Muitas outras são de complexidade baixa, ou elementar, tais como, recapeamento,
tapa-buracos e eletrificação, por exemplo.
Obviamente, o envolvimento do fator humano na matriz de
problemas/desafios/tarefas parece aumentar o grau de complexidade. Eliminar
conflitos de interesse e provocar mudanças requer, certamente, uma alta dose de
liderança e alta capacidade cognitiva.
Mas, o que constatamos ao longo destes
anos? Nossos dirigentes mostram-se incapazes de resolver os problemas complexos
e até mesmo os mais elementares na hierarquia da complexidade. Problemas,
alguns outrora agudos, estão se tornando crônicos, parecendo insolúveis, e
pior: estão se agravando diariamente. Entendemos que alguns pela sua alta
complexidade demandariam mais inteligência e, talvez, até mais anos de reflexão
por parte de uma equipe de superdotados ou talentosos. No caso da saúde, tanto
o paciente quanto o médico já estão “morrendo” e as soluções ficando para um
futuro eterno e incerto. Não obstante, o que nos surpreende é que, problemas de
complexidade baixa, ou tarefas cognitivas elementares, também não têm sido
solucionados com eficiência, precisão e com a rapidez esperada pelos
contribuintes. Vejam que nossa bela cidade já está recebendo um novo belo
apelido: Capital dos Buracos, A amplitude e a profundidade dos problemas (e dos
buracos) já ultrapassaram, de longe, aqueles de outras grandes capitais. Em
Ribeirão Preto as coisas estão, de fato, ficando pretas. A verdade é que, nem
mesmo as tarefas de baixa complexidade, ou as que demandam processos cognitivos
elementares têm sido eficientemente solucionadas. Por quê?
Porque as complexidades cognitivas destas
tarefas estão excedendo as capacidades de apreender e de raciocínio de muitos
de nossos dirigentes, ou seja, os mesmos não estão sendo hábeis em lidar com as
complexidades que estes desafios/tarefas exigem. Parece que está faltando
inteligência geral para resolvê-los, mas não para desperdiçar os parcos
recursos públicos.