COVID-19 e a Saúde Mental (2): Ansiedade, Depressão e Estresse

COVID-19 e a Saúde Mental (2): Ansiedade, Depressão e Estresse

             É de conhecimento geral a Organização Mundial de Saúde (OMS) ter declarado o surto de Covid-19 um problema de saúde pública mundial desde 30 de abril de 2020. Desde então, houve um rápido aumento no número de casos dessa doença em praticamente todos os países do globo, sejam eles ricos ou pobres. Por consequência, esta propagação contínua e crescente do Corona Vírus levou a uma atmosfera geral de ansiedade, depressão e estresse psicológico provocados pelas interrupções dos planos de viagens, pela necessidade de isolamento social e distanciamento físico, sobrecarga de informação pelas mídias virtual e impressa e pânico para comprar produtos de necessidades básicas. Resultante disso, alguns governos e autoridades de saúde pública mais organizados planejaram com urgência intervenções psicológicas e orientações correlatas visando salvaguardar a saúde mental da população. Algumas dessas intervenções focalizaram, em especial, os profissionais de saúde e algumas populações mais vulneráveis em relação à falta de fatores protetivos para sua saúde mental.

            Um dos países que mais tem estudado como os níveis do impacto psicológico, da ansiedade, da depressão e do estresse afetam o ser humano durante a pandemia, a China tem realizado e publicado centenas de estudos sobre o assunto, objetivando analisar tanto o impacto psicológico e temporal quanto os efeitos adversos da pandemia na saúde mental no seu início e nos picos de ondas ocorridos, além de todos os fatores de risco e protetores envolvidos em cada situação. Um desses estudos, realizados por Wang et al, e publicado em Int. J. Environ. Res. Public Health 2020, 17, 1729; doi:10.3390/ijerph17051729, usando a técnica de amostragem de bola de neve, e visando conhecer a incidência da saúde mental na população chinesa, investigou de 31 de janeiro a 02 de fevereiro de 2020, através de um questionário online, os seguintes indicadores: impacto psicológico, ansiedade, depressão e estresse.

            O questionário coletou informações sobre dados demográficos, sintomas físicos nos últimos 14 dias, história de contato com a Covid-19, conhecimento e preocupação sobre a Covid-19, medidas preventivas contra a Covid-19 e informação adicional requerida com respeito à Covid-19. O impacto psicológico foi mensurado usando a Escala de Impacto de Eventos-Revisada, a qual mede, em essência, os sintomas pós-traumáticos em relação a um evento estressante e catastrófico nos sobreviventes do mesmo. Já o status de saúde mental dos respondentes foi mensurado usando a Escala de Depressão à Ansiedade e Estresse, baseada num modelo trifatorial de psicopatologia, que engloba um construto geral de estresse com características distintas. O estudo incluiu 1210 correspondentes, originários de 194 cidades na China.

            No total, 53,8% dos respondentes estimaram o impacto psicológico do surto pandêmico como moderado ou severo; 16,5% registraram sintomas depressivos moderados a severos; 28,8% registraram sintomas de ansiedade moderados a severo; e 8,1% indicaram níveis de estresse de moderado a severo. Uma grande parte dos respondentes despenderam 20 a 24h por dia em casa (84,7%); estavam preocupados se seus membros familiares poderiam contrair Covid (75,2%); e estavam satisfeitos com a quantidade de informação sobre saúde disponível ao longo da pandemia (75,1%). Respondentes femininos, estudantes, com sintomas físicos específicos (mialgia, sonolência e coriza) e que relatam ter pobre status de saúde foram significativamente associados com um maior impacto psicológico do surto pandêmico e com níveis mais elevados de estresse, ansiedade e depressão.    Também, informação de saúde mais acurada e específica ao problema (tratamento, situação local do surto), além das medidas preventivas particulares (higiene das mãos e uso das máscaras) foram associadas com um menor impacto psicológico e menores níveis de estresse, ansiedade e depressão.

            Em conjunto, os dados revelam que, durante a fase inicial da pandemia da Covid-19 na China, mais da metade dos respondentes registraram impacto psicológico como moderado a severo, e, aproximadamente 1/3 registraram ansiedade moderada a severa. Também importa destacar que o estudo de Wang e colaboradores identificou fatores associados com um menor nível de impacto psicológico e um melhor status de saúde mental que podem ser usados para formular intervenções psicológicas para melhorara a saúde mental de grupos vulneráveis durante a pandemia da Covid-19. Assim considerando, vários Governos poderiam focar os métodos eficazes de disseminação e conhecimento não enviesado sobre a doença, ensinando os métodos corretos para conter, assegurar disponibilidade de serviços e equipamentos essenciais e fornecer suporte financeiro suficiente para o presente e futuro objetivando ganhar a batalha corrente contra a Covid-19.

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