
Crenças sobre criatividade
Crenças sobre criatividade variam de país para país. Certamente, o mundo ocidental compartilha um conjunto de suposições implícitas sobre criatividade. A despeito disso, muitas são as diferenças interculturais. No manuscrito de hoje, vou apresentar dez dessas crenças, sem, todavia, discutir se cada uma delas é suportada por pesquisa científica ou se são completamente falsas, ou parcialmente verdadeiras, ou, ainda, se são mal interpretadas, o que faremos na semana vindoura. Vamos a elas.
Crença 1: A essência de criatividade é o momento do insight. Pessoas criativas obtém sua grande ideia num insight, podendo, até, delegá-las a terceiros. Após isso, tudo o que elas têm a fazer é executá-la ou mandar que o façam, pois execução é ação e não requer processo criativo.
Crença 2: Ideias criativas emergem misteriosamente da inconsciência. Pessoas criativas têm idéias radicais que vêm de algum lugar, não podendo ser explicadas por experiência prévia.
Crença 3: Criatividade é mais provável quando se rejeita as convenções. Pessoas criativas ignoram cegamente as convenções, uma vez que estas são inimigas do processo criativo por bloquearem a inspiração pura que emerge do espírito criativo. Por isso, talvez, crianças sejam mais criativas que adultos.
Crença 4: Contribuições criativas são mais prováveis de originarem-se de um estranho do que de um expert de um dado domínio. Algumas vezes, pessoas mais criativas conhecem o mínimo de um domínio. Pessoas líderes de qualquer campo são limitadas pela velha maneira de fazer as coisas, o que lhes limitam a possibilidade de novas ideias. Assim, uma pessoa estranha àquele domínio, pode ver as coisas de uma nova maneira, executando-as de modo alheio ao tradicional.
Crença 5: Pessoas são mais criativas quando estão sozinhas. Terceiros interferem negativamente no processo criativo de qualquer indivíduo, o que reclama caminhar pelas próprias pernas. Independente do que se faça, não permaneça no centro da cidade, mas busque isolar-se dos outros.
Crença 6: Ideias criativas estão adiante de seu próprio tempo. Pessoas criativas antecipam o vindouro, não sendo reconhecidas em seu tempo de vida, mas, sim, quando cada um tenta interpretar a idéia visionaria que tiveram.
Crença 7: Criatividade é um traço de personalidade. Criatividade, tal como o QI, é um traço geral do modo de ser de cada um. Se você for criativo, você será mais criativo em qualquer coisa que você venha a fazer. Pessoas que não têm muito desse traço de personalidade, têm poucas chances de serem criativas, o que deixa deduzir que criatividade é algo genético, sendo algumas pessoas mais criativas que outras.
Crença 8: Criatividade é baseada no lado direito do cérebro e pessoas criativas manifestam padrões de comportamento e pensamento centrados na região direita do cérebro. Cérebros criativos têm diferenças biológicas distintas dos cérebros não criativos.
Crença 9: Criatividade e doença mental são conectadas. Pessoas criativas são mais prováveis de serem mentalmente doentes, e a doença mental fomenta a criatividade. Redemoinho interno associado à doença mental é fonte de ideias e inspiração. Quando a doença mental é tratada, as pessoas tornam-se menos criativas.
Crença 10: Criatividade é uma atividade auto-afirmativa ou uma realização plena. Atividades criativas constituem a realização mais completa da experiência humana, expressando o ser interno da pessoa, o que resulta num pleno preenchimento pessoal. Atividades criativas contribuem para a saúde psicológica, fato que confirma que terapia mescladas à música e arte são, para alguns, ações eficazes.
Essas dez crenças contém um ínfimo de verdade, sendo, muitas vezes, mais mitos que realidades. Nos artigos seguintes decomporemos suas estruturas em busca de seu conteúdo realmente verossímil.