Crianças-prodígio: natureza versus ambiente

Crianças-prodígio: natureza versus ambiente

           O debate natureza versus ambiente existe desde o começo da história registrada. Séculos atrás, Platão e Aristóteles ofereceram opiniões conflitantes sobre ser a natureza ou o ambiente a força-motriz subjacente às diferenças individuais. Enquanto Platão acreditava que inteligência era uma habilidade nata, Aristóteles, por sua vez, estava convencido de que o ambiente era mais responsável pelas diferenças aparentes nas habilidades humanas. Na atualidade, o debate acerca da natureza versus ambiente tem focalizado os talentos excepcionais.

            Um dos mais interessantes grupos de talentos excepcionais constitui-se nas crianças-prodígio. Enquanto há algum debate considerando quem se qualifica como criança-prodígio, a maioria concorda que crianças-prodígio são indivíduos d desempenham no mesmo nível de um adulto profissional, dentro de um domínio culturalmente relevante, por volta dos dez anos de idade ou antes da adolescência. A despeito da idade extremamente precoce em que estes indivíduos alcançam um nível de desempenho profissional, o mesmo debate entre prática versus talento ocorre com respeito a esses indivíduos profissionais. Alguns pesquisadores fortemente argumentam que treinamento é tanto necessário quanto suficiente para produzir uma criança prodígio, enquanto negando a existência de talentos inatos ou dons em conjunto. Outros teóricos, apresentando posição contrária, admitem que talento inato, agregado à prática, é essencial para um indivíduo produzir realizações extremas das crianças-prodígio.

            Entretanto, estudos recentes, examinando perfis cognitivos de crianças-prodígio, revelaram fortes evidências de que, enquanto a prática, certamente, não é irrelevante, essas crianças-prodígio consistentemente revelam vários atributos inerentes que dificultam omitir o papel decisivo do talento inato em produzir suas precoces realizações excepcionais.

            Recentemente, a literatura científica a esse respeito tem introduzido a teoria conhecida como Teoria da Somação, em que supõe que, tanto a natureza quanto o ambiente devem ser, conjuntamente, mensuradas para predizer o desempenho excepcional. A teoria toma como suporte o cenário dos excepcionais talentos musicais, afirmando que todo desempenho similar pode ser melhor predito a partir da equação de regressão na qual Y’ = Xg ( inteligência geral) + Xde (habilidades de domínio específico) + Xp (prática).

            A inteligência geral é um traço hereditário amplamente estudado e análises estatísticas envolvendo estudos com gêmeos afirmam que o coeficiente de herdabilidade para inteligência geral é aproximadamente 50% de um máximo de 100%. Inúmeros outros estudos, focando, apenas, a inteligência geral têm registrado uma correlação positiva entre desempenho musical e inteligência geral. Todavia, a existência de “savants musicais”, indivíduos que têm habilidades musicais avançadas coexistentes com uma incapacidade, frequentemente o autismo, suporta a existência de habilidade de domínio específico como uma variável que é importante para o desempenho musical.

            Em relação às habilidades de domínio específico, a teoria da somação tem ilustrado que alguns indivíduos com a síndrome “savant”, pontuando em inteligência geral em um QI por volta de 60 (portanto, com déficit de inteligência geral, mas com elevadas habilidades de domínio específico em música agregada a pratica intensiva), apresentam, ainda, excepcional talento musical, demonstrando que habilidades excepcionais podem ser desenvolvidas independentes de quaisquer habilidades hereditárias. Devido a isso, pesquisadores sustentam a ideia de que o talento é somente o produto de fatores ambientais, focalizando ou o tempo de prática, ou o envolvimento parental.

            No que toca à prática, pesquisadores sustentam que esta última, sozinha, independente de qualquer habilidade inata, é suficiente para produzir desempenho musical excepcional. Em suporte a este ponto de vista, pesquisadores apresentam dados demonstrando que músicos excepcionais despenderam, significativamente, mais tempo praticando até a idade de 23 anos do que outros tipos de músicos. Adicionalmente, tais teóricos registram a necessidade de 10 anos de prática deliberada para alcançar níveis excepcionais de realização dentro do domínio musical.

            Portanto, enquanto Aristóteles e Platão podem ter discordado sobre a importância relativa da natureza e ambiente na criação de indivíduos excepcionais, a ambos faltou o benefício de um crescente corpo de pesquisa sugerindo que tanto as habilidades inatas quanto o tempo de prática têm importantes papéis em fomentar os talentos excepcionais. Mas, a partir de pesquisas recentes, também é claro que habilidades inatas não são somente importantes, como, também, essenciais para que os prodígios desenvolvam suas habilidades genuínas.

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