
Criatividade tecnológica e científica
Em
recentes palestras que ministrei, em dada instituição de ensino superior,
De fato, a criatividade científica e
tecnológica está no centro das discussões sobre a crescente competitividade na
economia global. Os avanços na ciência e tecnologia direcionam o crescimento
econômico de várias maneiras. Como exemplo, podemos citar a criação de novos
campos, tal como, o de bioquímica, o qual fomenta indústrias inteiramente
novas, como a de biotecnologia. Por isso, não é por acaso que, na grande nação
norte-americana, tem sido registrado o fato de indústrias, caracterizadas por
intensiva propriedade intelectual, a saber, biotecnologia e tecnologia de informação,
serem responsáveis por 40% do crescimento econômico desta nação. Além de seu
impacto econômico, a inovação tecnológica, freqüentemente, melhora a qualidade
de incontáveis arenas da vida, como comunicação, transporte, agricultura,
educação e saúde.
Por isso, num esforço para aumentar
a criatividade científica, algumas nações, além dos EUA, como Espanha, Coréia
do Sul, França, Japão e Alemanha, têm direcionado seus esforços, tanto para
aumentar o número de graduações em ciência, tecnologia, engenharia e
matemática, quanto o número de professores que ensinam nestas áreas do
conhecimento. Todavia, os dirigentes destas nações sabem que tais iniciativas,
de aumentar o número de graduados, nos domínios acima mencionados, precisam
considerar outros atributos psicológicos, e outras diferenças individuais,
relacionados à inteligência e inovação em ciência e tecnologia.
Sábios que são, estes dirigentes
reconhecem que apenas um pequeno grupo de pessoas, dentro de uma dada
disciplina, cria importantes avanços científicos e técnicos. Por isso, eles
sabem que, em essência, para criar o que quer que seja, é preciso que
fomentemos a inteligência para que haja progresso. E, por este motivo, entendo
ser pertinente comentar dois artigos, publicados, ao longo deste ano, em
prestigiados periódicos científicos, acerca da intrínseca relação ente
inteligência e criatividade científica e tecnológica. Estes estudos corroboram
esta premissa, ao afirmarem que inteligência, raciocínio quantitativo e
criatividade tecnológica e científica caminham de mãos dadas, para não dizer
abraçados. No primeiro deles, ficou claramente demonstrado que as realizações
tecnológicas mediavam a relação entre inteligência, expressa nos escores de QI,
e riqueza; ou, em outras palavras, que nações, cujo QI de seus cidadãos é muito
elevado, geram mais conhecimento técnico, o qual, por sua vez, conduz à um
aumento na riqueza nacional.
Para solidificar esta idéia, cumpre
lembrar que, dois conjuntos de dados são importantes. O primeiro é que o QI
médio dos habitantes de uma nação está altamente correlacionado com o índice de
patentes registradas nos escritórios americanos (r = 0,61), bem como, com o
Produto Nacional Bruto (PNB; r = 0,65). Já o segundo conjunto de dados, ao
invés de usar o QI médio nacional, empregou o QI médio dos habitantes daquela
nação, cujo valor era maior que 140. E, neste caso, como esperado, a relação
entre inteligência e registro de patente foi r = 0,83. Enquanto que aquela,
entre QI e Produto Nacional Bruto, foi de 0,78, indicando que, tanto a
atividade de patenteamento, quanto a riqueza nacional, correlacionam-se, mais
fortemente, com um grupo de elite intelectual daquela nação (QI maior que 140).
No segundo estudo, a análise da
relação entre os escores obtidos nas habilidades de raciocínio quantitativo e o
número de publicações em revista de grande impacto, bem como, o número de
patentes, corrobora esta noção. Os dados claramente indicaram que, entre
indivíduos com graus educacionais muito avançados, as diferenças individuais,
na habilidade de raciocinar quantitativamente, predizem inovação científica e
tecnológica. Adicionalmente, também se destaca neste estudo, que o raciocínio
quantitativo foi avaliado quando os indivíduos tinham 13 anos (início da
adolescência), enquanto que seu potencial criativo, em ciência e tecnologia,
foi aferido quando já possuíam graus educacionais avançados, bacharelado,
mestrado e doutorado.
Tomados em conjunto, estes dados
revelam que inovação, que é requerida para solucionar os problemas científicos
e tecnológicos, a serem enfrentados pelo mundo ao longo do século XXI, será
relativamente realizada por alguns poucos indivíduos, que obterão credenciais
nos domínios da ciência e tecnologia, engenharia e matemática. Logo, devemos
fazer tentativas para identificar, precocemente, os talentos que poderão fazer
tais inovações, e fomentá-los. Talvez, não seja demasiado afirmar que, o futuro
da nação brasileira esteja na especial educação desses talentosos. Mas,
credenciais educacionais, não podem, completamente, substituir a inteligência.
Espero, assim, ter esclarecido, se não convencido, aos presentes nas palestras,
os quais citei inicialmente, que criatividade não é algo que está aberto ao
acesso de todos, mas, sim, que é algo inerente aos que processam informações
com a mais elevada capacidade cognitiva. Ou seja, a rigor, é privilégio de
alguns poucos.