Cruzamentos consanguíneos e heterozigose: como fica a inteligência?

Cruzamentos consanguíneos e heterozigose: como fica a inteligência?

Há um efeito, muito conhecido em genética comportamental, causado pelo endocruzamento, ou cruzamento consanguíneo, que é o aumento da homozigose de genes recessivos, a qual se manifesta através da inferioridade física geral das crianças cujos pais cruzaram-se incestuosamente – pai/filha, irmão/irmã, ou entre primos de primeiro ou segundo grau. Tais crianças são prováveis de serem doentes, de sofrerem de todos os tipos de problemas médicos e também de mostrarem desordens neuróticas e psiquiátricas.

            A razão é que todos os indivíduos carregam em seus cromossomos um número de genes recessivos, isto é, genes que deprimem o QI, a saúde, etc, que não apresentam qualquer efeito em seu fenótipo (características físicas) a menos que, por mero acaso, eles cruzem com um outro de tal gene no mesmo lócus sobre um cromossomo homólogo. Isto, naturalmente, torna-se muito mais provável quando os pais são relacionados.

Desde que tais genes são depressivos, eles tenderão a degradar a expressão fenotípica da característica em questão, seja física ou mental. Consequentemente o QI mostraria um endocruzamento se ele fosse herdado ao longo de linhas similares de herança, tais como, os outros caracteres estudados. Isto se produz porque a alta inteligência é geneticamente dominante sobre a baixa inteligência e, nos matrimônios consanguíneos, os genes recessivos de baixa inteligência têm menos oportunidade de serem compensados pelos dominantes. Os genes recessivos tendem a emparelhar-se, acarretando, portanto, diminuição da inteligência.

            Atualmente, estudos envolvendo, usualmente, casamentos entre primos (os quais são permitidos em algumas culturas, como, por exemplo, a dos árabes), bem como, estudos realizados no Japão, e em Israel, têm demonstrado este efeito. Estima-se que, em Israel, a taxa de matrimônios entre primos de 1º grau e entre árabes seja de 4 por 100, sendo a taxa de matrimônios entre outros tipos de primos tão alta quanto 34 por 100, contra apenas 6 por 100 no Japão e menos de 1 por 100 na Europa e na América.

A maioria dos efeitos mais fortes foi observada, naturalmente, em casos relativamente raros, nos quais irmão e irmã, ou pai e filha, produzem descendentes viáveis, ainda que o efeito esperado também seja encontrado. Em cada estudo, o QI das crianças nascidas de casamentos entre primos tinha vários pontos abaixo do QI esperado de pais cujo parentesco era distante.

Os resultados de pareamento entre pai/filha ou entre irmão/irmã são usualmente catastróficos, com a criança mostrando um QI muito mais baixo do que o esperado. Aqui, novamente, as leis biológicas são claramente observadas na transmissão do QI. Estes estudos, na realidade, confirmam que, para a maioria dos genes que influem na inteligência, há um substancial grau de dominância.

Por outro lado, o oposto do cruzamento consanguíneo é o vigor híbrido (heterosis), ou seja, o efeito do cruzamento entre membros de dois grupos não-relacionados, ou de diferentes raças. Isto é chamado de heterozigose, e produz descendentes superiores em que o emparelhamento de genes recessivos é bem menos provável em tais comunhões. Este efeito é bem documentado em relação às características físicas; já em relação ao QI há poucos estudos, mas, os que existem, suportam a suposição de que a heterozigose possa também ser nele observada. Como os efeitos da heterozigose são opostos àqueles do cruzamento consanguíneo sobre os mesmos traços, esperar-se-ia, teoricamente, encontrar o efeito positivo da heterozigose sobre o QI mensurado, mesmo embora o efeito possa ser relativamente pequeno quando comparado ao efeito oposto, do casamento consanguíneo. Esta predição foi testada num estudo conduzido no Havaí, onde há muitos casamentos inter-raciais entre americanos de origem europeia e americanos de origem japonesa.

Também tem sido mostrado que casamentos entre Chineses e Caucasianos, por exemplo, geram crianças que estão, em média, vários pontos de QI mais altos do que aquele esperado. Esta dedução, a partir da teoria genética, também, é assim confirmada. Recentemente, alguns autores têm inclusive testado a hipótese de que, provavelmente, a heterozigose, ao longo tempo, tenha sido responsável pelo secular aumento no QI. Este aumento secular no QI, usualmente conhecido como Efeito de Flynn, é refletido numa elevação de 3 a 4 pontos no QI por década. É a ideia de arquitetura genética da inteligência ficando cada vez mais clara.

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