Desmistificando as crenças sobre criatividade (2)

Desmistificando as crenças sobre criatividade (2)

Continuando a desmistificação das dez crenças sobre criatividade, abordadas na semana anterior, continuaremos, hoje, a desmistificar as crenças de 6 a 10.

Em relação à Crença 6: Ideias criativas estão adiante de seu próprio tempo, usualmente, entende-se que pessoas criativas não são compreendidas por seus contemporâneos, somente alcançando reconhecimento após a morte. Exemplo clássico disso pode ser encontrado na história de Mendel, cujos trabalhos genéticos, realizados no século XIX, só foram identificados como essenciais à genética moderna cinqüenta anos depois de sua morte. Por sua vez, no mundo das artes, acredita-se que os impressionistas foram, em sua época, considerados elaboradores de obras horríveis, o que negligenciou a exposição de seus trabalhos na Academia Francesa. Em verdade, esses exemplos, quando examinados mais minuciosamente, fracassam em suportar a visão do gênio não reconhecido. O trabalho de Mendel, por exemplo, não foi rejeitado como inapropriado por seus pares, mas, sim, somente redescoberto 50 anos depois, o que torna sua história um mito inapurado. No caso dos impressionistas, embora os mesmos tenham sido excluídos da Academia Francesa, eles rapidamente criaram sua própria rede de galerias, padrões e interações com colegas que pensavam de modo similar. Além disso, eles também foram colecionados por americanos de boa situação financeira, que os deixaram artistas abastados. Pesquisas mostram que trabalhos criativos são, muitas vezes, reconhecidos no seu próprio tempo. Recomenda-se que estabelecer uma rede de amigos, fazendo freqüente uso da mesma, é fundamental para alcançar o sucesso, uma vez que ela permite compartilhar e divulgar o sucesso.

Em relação à Crença 7: Criatividade é um traço de personalidade, temos que, algumas pessoas nascem criativas e, se você não nasceu criativo, não tenha muito esperança de sê-lo. Uma variação dessa crença é afirmar que criatividade é genética e que algumas pessoas nascem mais criativas que outras. Na realidade, pesquisas têm provado que criatividade não é hereditária, sugerindo que, não sendo um traço de personalidade estável, sua estratégia específica depende da situação em que se está envolvido. Há certas disposições que levam uma pessoa a ser mais original que outras, ainda que isso possa ser aprendido. Importa que alguns testes de criatividade podem predizer alguma porção da mesma em certas situações para determinadas pessoas. Recomenda-se que, para se ser criativo, não se deve entender criatividade como traço de personalidade, mas, sim, (1º) dominar profundamente um tema criativo; (2º) ter corretos hábitos de trabalho; (3º) conhecer como selecionar boas idéias e (4º) conhecer como combinar e conectar essas ideias.

Em relação à Crença 8: Criatividade é baseada no lado direito do cérebro e pessoas criativas manifestam padrões de comportamento e pensamento centrados nessa região. Em verdade, pessoas mais criativas usam harmoniosamente o cérebro. Treinamento em um domínio criativo tende a aumentar a bilaterização da atividade cerebral. Também deve-se considerar que, enquanto engajadas em algumas tarefas cognitivas associadas com criatividade, o cérebro é levemente mais ativo no hemisfério direito que no esquerdo, mas, outras tarefas criativas são associadas com maior atividade hemisférica esquerda. Poucos estudos de imageamento cerebral têm indicado padrões de ativação levemente diferentes em pessoas que pontuam elevadamente em testes de criatividade, sendo a maioria desses padrões favorecedores do hemisfério direito. Entretanto, nenhuma dessas tarefas, sozinha, é associada com criatividade. No geral, esses estudos revelam que os padrões de atividade cerebral são mais similares que diferentes entre os hemisférios cerebrais. Recomendação: Pessoas mais criativas têm equilíbrio superior à média, qualquer que seja o traço de personalidade. Se sua personalidade é extrema, tente, de algum modo, equilibrá-la para alcançar o que almeja.

Em relação à Crença 9: Criatividade e doença mental são conectadas, a verdade é que não há evidências sólidas de que doenças mentais são mais comuns entre pessoas criativas do que entre pessoas normais. Em alguns poucos domínios criativos, tais como, ficção e artes em geral, há alguma evidência de que as pessoas mais criativas pontuam mais elevadamente em alguns testes clínicos do que outras menos criativas, embora as mesmas não alcancem um critério diagnóstico para uma doença mental evidente. Recomenda-se que pessoas bem equilibradas e normais são mais prováveis de fazerem contribuições criativas. Não obstante, um pouco de excentricidade não faz mal a ninguém.

Finalmente, em relação à Crença 10: Criatividade é uma atividade auto-afirmativa medicinal ou uma realização plena, o certo é que, embora a crença seja suportada pela pesquisa, há evidências preponderantes indicando que as pessoas criativas são mais saudáveis que a média. Essas pessoas parecem ter um elevado grau de motivação intrínseca, espelhando maior liberdade psicológica que a média. Assim, qualquer programa de treinamento em criatividade deve, necessariamente, enfatizar os seguintes objetivos: fomentar atitudes criativas, melhorar o entendimento do processo criativo e das pessoas criativas, exercitar comportamento e pensamento criativos e ensinar técnicas específicas de criatividade.

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