Dez “achados” replicados em genética comportamental

Dez “achados” replicados em genética comportamental

Artigos, recentemente publicados em variadas revistas psicológicas e comportamentais, têm questionado o porquê de uma grande parcela dos achados, estatisticamente significativos, incluindo alguns dos resultados clássicos, não estarem sendo replicados. Na Psicologia, tentativa sistemática de replicar 100 estudos, mostrou que apenas 36% deles produziram replicações convincentes. Em tentativa similar para replicar 17 estudos relacionados aos achados cérebro-comportamento, autores concluíram que eles “foram incapazes de replicar com sucesso qualquer um deles”. E, embora muito tenha sido debatido, e escrito, sobre o diagnóstico, causas e prescrição para reparar tais “rachaduras” no edifício das ciências psicológicas, há um consenso científico de que o árbitro final certamente é a replicação.

Assim considerando, um dos mais renomados pesquisadores em genética do comportamento, Robert Plomin, do King’sCollege, Londres, e seus colaboradores (Perspectives on Psychological Science, 2016, 11(1): 3-23), destacaram 10 “achados” sobre as origens genéticas e comportamentais das diferenças individuais no comportamento que têm sido, consistentemente, replicados. Estes “achados” tendo sido selecionados pelo fato de seus resultados serem relevantes achados tanto em termos do tamanho do efeito, quanto impacto potencial nas ciências psicológicas.

Vejamos, então, estes dez grandes achados:

1. Todos os traços psicológicos mostram substancial e significativa influência genética. A partir dos estudos envolvendo delineamentos geneticamente sensitivos, nos quais a similaridade entre gêmeos é comparada em pares de gêmeos idênticos e fraternos, tem sido revelado que vários traços humanos, tais como, habilidades e incapacidades cognitivas, psicopatologia, personalidade, uso e abuso de substâncias, entre outros, sofrem significativa influência genética a ponto de este fato ser considerado como a primeira lei da genética comportamental. Para inteligência geral, por exemplo, estimativas da herdabilidade situam-se, tipicamente, ao redor de 50%; para personalidade, entre 30% a 50% e, para bem-estar subjetivo, 34% a 38%.

2. Nenhum traço é 100% herdável. Embora estimativas de herdabilidade sejam maiores que 0%, elas também são significativamente menores 100%. Em geral, estimativas variam entre 30% a 50%, mas nunca alcançam 100%. Mas os estudos foram incapazes de revelar qualquer achado demonstrando que herdabilidade de um traço comportamental seja próximo de 100%.

3. Herdabilidade é causada por muitos genes de efeitos pequenos. Evidências sustentam que muitos genes afetam traços complexos, incluindo comportamentos analisados em pesquisas envolvendo animais não humanos. Com freqüência, não existem associações com efeitos maiores que 1% na população. Algumas mutações, extremamente raras, têm grandes efeitos sobre os indivíduos, mas, pelo fato de elas serem raras, seus efeitos na população são pequenos. Se os maiores efeitos são, também, pequenos, os menores efeitos são prováveis de serem infinitesimais, implicando que herdabilidade seja causada por muitos genes de pequenos efeitos.

4. Correlações fenotípicas entre traços psicológicos mostram mediações genéticas substanciais e significativas. Muita pesquisa psicológica é sobre a relação entre traços. Por exemplo, há estudos mostrando associações entre criatividade e saúde mental, reatividade ao stress e neuroticismo, empatia e comportamento moral e entre personalidade e desempenho no trabalho. Quando delineamentos, geneticamente sensíveis, são usados, dados apontam, consistentemente, para as seguintes implicações de longo alcance: covariança fenotípica entre traços causada, substancial, e significativamente, por covariança genética, e não pela covariança motivada ambientalmente.

5. A herdabilidade da inteligência aumenta ao longo do desenvolvimento. Este resultado é um dos mais surpreendentes, e contra intuitivo, mostrado pela genética comportamental. Um exemplo? Herdabilidade da inteligência ser, consistentemente, em mais de três décadas de pesquisa, mostrada aumentar quase que linearmente ao longo do curso da vida, seja em análises longitudinais e transversais,seja  em estudos envolvendo gêmeos, bem como, adoção de crianças.

6. Estabilidade idade para idade ser, principalmente, devido à genética. Estudos genéticos longitudinais mostram que correlações fenotípicas, de idade para idade, ocorrem, largamente, devido à estabilidade genética. Em outras palavras, efeitos genéticos contribuem para a continuidade (os mesmos genes afetam os traços entre idades), enquanto mudança de idade para idade é, primariamente, provocada por fatores ambientais.

7. Muitas medidas do “ambiente” mostram influências genéticas significativas. Isto significa que muitas medidas do ambiente, amplamente usadas nas ciências psicológicas, tais como, parentalidade, suporte social e eventos de vida, podem ser tratadas como medidas dependentes em análises genéticas. Se elas fossem, verdadeiramente, medidas do ambiente, elas não mostrariam influência genética. Todavia, evidências revelam que, medidas objetivas do ambiente, tais como, registros de parentabilidade, gravados de videoteipe, bem como, altos registros de parentalidade, suporte social e eventos de vida, mostram influências genéticas significativas.

8. Muitas associações entre medidas ambientais e traços psicológicos são, significativa e geneticamente, mediadas. Exemplo? Mais que assumindo que correlações entre parentalidade e comportamento de crianças sejam causados por efeito ambiental de parentalidade sobre comportamentos da criança, pode se considerar a possibilidade de que a correlação é, em parte, devido, a fatores genéticos que influenciam tanto a parentalidade, quanto o comportamento da criança. Em outras palavras, diferenças individuais na parentalidade podem refletir diferenças geneticamente motivadas nos comportamentos das crianças ou diferenças na parentalidade podem ser devido às predisposições geneticamente motivadas de pais que são diretamente herdadas por suas crianças.

9. Muitos efeitos ambientais não são compartilhados pelas crianças que crescem numa mesma família. É razoável pensar que, crescer na mesma família, torna irmãos e irmãs psicologicamente similares. Todavia, para a maioria das dimensões, comportamentais e desordens psicológicas, é a genética que explica a similaridade entre irmãos. Embora os efeitos ambientais tenham grande impacto, as salientes influências ambientais não tornam similares irmãos que crescem numa mesma família. similares. Isto não implica que experiências familiares não sejam importantes. Ao contrário. Implica que as experiências relevantes são específicas para cada criança na família.

10. Anormal é normal. Métodos genéticos quantitativos sugerem que, desordens comuns são casos extremos dos mesmos fatores genéticos responsáveis pela herdabilidade em toda a distribuição dos escores relativos a qualquer traço considerado. Em outras palavras, efeitos genéticos e ambientais sobre as desordens psicológicas são meramente extremos quantitativos dos mesmos fatores ambientais e genéticos que afetam o resto da distribuição.

A conclusão? Tomados em conjunto, estes achados têm começado a mudar a conhecida perspectiva psicológica sobre as origens das diferenças individuais no comportamento, incluindo, entre elas, as habilidades humanas e desordens mentais. Importante ainda mencionar que o pêndulo natureza-ambiente que no passado inclinou-se para o lado do ambiente, agora tende a inclinar-se para  o lado da natureza, mas na verdade, parece estar parando no meio.

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