Diferenças nas habilidades cognitivas e a desigualdade no Brasil

Diferenças nas habilidades cognitivas e a desigualdade no Brasil

           Nos últimos anos, têm sido publicados vários estudos mostrando associações significativas entre diferenças regionais na inteligência, nas mais diversas nações, e a riqueza, a pobreza de diversos indicadores de desigualdade social. Um exemplo? Diversos estudos mos altas correlações entre inteligência e a renda per capita de diferentes regiões, Estados e províncias dentro das nações. Do mesmo modo, muitos desses estudos também revelaram correlações significativas entre diferenças regionais e inteligência e uma variedade de fenômenos sociais, incluindo saúde, fertilidade, crime, aquisição escolástica, expectativa de vida etc.

            O fato é que as habilidades cognitivas são preditores de grandes eventos de vida já ocorridos, bem como, de eventos futuros, como expectativa de vida, ou longevidade, desempenho acadêmico, nível de escolaridade, tipo de emprego e salários. Estas predições valem tanto para indivíduos quanto para populações. Assim considerando, ao longo dos últimos cinco anos, temos analisado a hipótese de que a inteligência tem impacto positivo sobre as condições desejáveis e um impacto negativo sobre as condições indesejáveis que grassam pelo Brasil. Mais especificamente, temos demonstrado que a inteligência média aferida nos diferentes Estados brasileiros tem uma correlação moderada a alta, e positiva, com educação superior, renda, expectativa de vida e disponibilidade de água. E de moderada a fortes correlações negativas com mortalidade infantil, fertilidade, pobreza e taxa de homicídio.

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A análise dessas correlações adiciona, nos Estados ou regiões de um grande país continental como o Brasil, um outro pedaço ao quebra-cabeça da inteligência e seus correlatos. Por quê? Por tratar-se de um estudo com implicações no mundo real do constructo psicológico da inteligência. Considerando a escala geográfica do Brasil, onde cada Estado pode ter o tamanho de um país europeu, o tema desse estudo extrapola interesses puramente locais. Na realidade, seus resultados podem apontar para a importância social e educacional de desenvolver as habilidades cognitivas das pessoas e, talvez, forneça indicações de como esse objetivo possa ser alcançado.

            Para tanto, medida da inteligência de vinte e sete Estados brasileiros, incluindo o Distrito Federal, foram calculadas a partir do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), envolvendo as pontuações de mais de 48 mil estudantes brasileiros nos exames de Matemática, Ciência e Leitura para os anos 2006, 2009 e 2012. Tais escores de cada Estado, para os três anos analisados, foram ponderados pelo tamanho da mostra fornecendo um escore total do PISA. É bom que se diga que s dados do PISA têm sido usados como medidas de inteligência em várias outras nações, tais como, Itália, Turquia e Estados Unidos, entre outros.

            Os indicadores sociais e econômicos foram coletados do Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil, veiculados em 2013, versando sobre dados do Censo de 2010 (se usássemos os Censos de 1991 e 2000, a robustez das correlações não se mostraria diferente daquelas que aqui estamos a sumariar brevemente). Tais dados apontam 7 pontos de interesse: 1º) há uma alta correlação positiva entre a inteligência dos Estados e a renda familiar (r=0,81); 2º) também são elevadas as correlações entre inteligência e variáveis que diretamente afetam a vida das pessoas, tais como, um r=0,82 entre o QI dos Estados e a disponibilidade de água em suas residências, bem como, um r= -0,81 entre o QI dos Estados e a pobreza; 3º) é negativa a correlação entre inteligência e mortalidade infantil (r= -0,80); 4º) é negativa a correlação da inteligência com a taxa de fertilidade (r= -0,75); 5º) é positiva a correlação entre inteligência e expectativa de vida (r=0,85); 5º) é positiva a correlação entre inteligência média dos Estados brasileiros e a porcentagem de estudantes no nível superior (r= 0,74); e 7º) é negativa a correlação da inteligência com taxa de homicídio (r=-0,44). Lembramos que a correlação máxima é 1, na direção positiva, e -1, na direção negativa, e 0 quando não há qualquer correlação.

            Várias explicações poderiam ser aventadas. Não há, entretanto, espaço aqui para todas. Mais importante que discutir as possíveis interpretações, é considerar os altos valores das correlações. Entretanto, duas explicações podem explicar o pobre desenvolvimento cognitivo em alguns dos Estados: 1ª) as crises econômico-financeiras dos Estados mais pobres levam as pessoas a trabalharem mais do que estudarem, o que, por sua vez, conduz a deficiências educacionais e cognitivas, as quais, por sua vez, encadeiam-se para outros indicadores de pobreza e sociais; e 2ª) as necessidades financeiras restringem acesso aos alimentos, em especial, os saudáveis, fato que leva a um pobre desenvolvimento cerebral e às deficiências cognitivas. Esse é o Brasil gigante que estamos conhecendo.

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