Dor emocional e dor física: você conhece a atividade cerebral que elas produzem?

Dor emocional e dor física: você conhece a atividade cerebral que elas produzem?

Com base na ressonância magnética funcional, quatro estudos publicados no New England Journal of Medicine, em 2013, relatam ter encontrado indícios de que há uma atividade neurológica distinta para dor térmica, diferentemente da que ocorre para dor social, a qual pode estabelecer, potencialmente, um meio concreto para quantificar objetivamente a dor, independente do nível de intensidade de auto-relato do paciente. Feito o imagemento magnético funcional de indivíduos submetidos a diferentes níveis de magnitude da intensidade de calor, tal atividade é encontrada em várias regiões cerebrais. Estas descobertas podem, em algum momento, conduzir a um meio objetivo de quantificação de dor, independentemente do nível de intensidade de auto-relato do paciente, oferecerendo, com isso, novas pistas sobre como o cérebro gera, e responde, a diferentes tipos de dor, bem como, ajudando no desenvolvimento de métodos de uso de exames cerebrais que mensurem ansiedade, depressão, raiva e outros estados emocionais. No estudo, que foi financiado pelo Instituto Nacional no Abuso da Droga (NIDA), acompanhado do Instituto Nacional da Saúde Mental, e pela Fundação Nacional da Ciência, eu, e meus colaboradores da Universidade de Johns Hopkins, da Universidade de New York e da Universidade de Michigan, examinamos imagens de resonância magnética funcional (fMRI) de 114 cérebros tomados quando os sujeitos foram expostos a diferentes níveis de calor variando de quente a muito quente.

No primeiro, de quatro experimentos, os participantes foram solicitados a auto-relatar dor por quatro diferentes intensidades de calor, que vão de "inócuo" calor - definido como 1 em numa graduação variando de 1 a 9 na Escala Analógica Visual (VAS) - a três progressivamente mais quente temperaturas. Nele, a atividade neurológica mostrou sensibilidade, e especificidade, de 94% para mais na discriminação do calor doloroso do calor, bem como, na antecipação, e recuperação, da dor. No segundo, que considerou seis temperaturas, tanto a sensibilidade como a especificidade de 93% foram observadas na discriminação de dor versus ausência de dor. No terceiro, com o objetivo avaliar a especificidade da dor social, aos indivíduos que tinham experimentado, recentemente, uma ruptura romântica foram mostrados uma fotografia de seu parceiro anterior e a atividade neurológica registrada foi comparada àquela de sua dor térmica indicada pela fMRI. Á eles também foram mostrados uma fotografia de um amigo próximo, e comparamos as respostas dadas ao "rejeitador" [romântico rompimento] e "amigo" com respostas às temperaturas térmicas. A resposta da atividade neurológica foi substancialmente mais forte para a dor física, todavia, do que para qualquer das outras condições (calor, rejeitador ou amigo). Discriminou-se a dor física e a dor social com 85% de sensibilidade. Finalmente, no quarto, os participantes receberam duas medicações intravenosas de um medicamento de ação curta, durante a varredura fMRI em duas séries de ensaios. Na primeira série, os participantes sabiam da medicação ministrada, mas, na segunda, não. Com a medicação, verificou-se que a atividade neurológica foi reduzida. Sem a medicação, a atividade foi associada a redução de 53%. Tomados em conjunto, tais resultados mostraram, supreendentemente, que a atividade neurológica era específica para a dor física porque estudos anteriores tinham revelado que a dor emocional pode parecer muito semelhante à dor física em termos da atividade cerebral que ela produz. No entanto, a atividade neurológica estava ausente quando eles mostraram fotografias de ex-parceiros de "coração partido", sujeitos,estes, que tinham perdido recentemente essa relação.

Até o mometo, não se conhece nenhuma maneira, clinicamente aceitável, de mensurar a dor, e outras emoções, que não seja perguntar a uma pessoa como ela se sente. Porém, os dados acima revelam a existência, em vários sistemas no cérebro, de um padrão que é diagnóstico de quanta dor as pessoas sentem em resposta ao calor doloroso. Assim considerando, estudos com fMRI poderiam ser usados para confirmar a dor em situações em que os pacientes são incapazes de comunicá-la de forma eficaz, ou quando auto-registros são suspeitos. No entanto, a dor é um fenômeno complexo e diferentes pessoas têm respostas diferentes, o que nos dá uma maneira de começar a analisar os sistemas cerebrais impulsionados pela dor física e quebrar diferentes tipos agudos de dor em vários componentes neurológicos afetados. Este é um começo, não um fim.

Por adição, ainda que tais resultados não nos permitam quantificar a dor física, é certo que os mesmos permitem que lancemos algumas bases para trabalhos futuros que poderiam produzir os primeiros testes objetivos de dor por médicos e hospitais. Certamente, este não é um detector de dor. Podemos confirmar dor na atividade cerebral, e discriminar entre desconforto causado por outros fatores, mas a dor é subjetiva por definição. Neste contexto, auto-relato é importante e deve ser considerado porque pessoas diferentes experimentam dor de forma diferente.

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