Dor física e rejeição social: o que há em comum?

Dor física e rejeição social: o que há em comum?

     É comum ouvirmos pessoas expressarem que perder um amor dói. Ou, mesmo, que, ser rejeitado socialmente é estressante e dolorido. Ambos machucam e, às vezes, a sensação dolorosa que os acompanham é percebida de modo similar. De fato, podemos perguntar quão similar são a rejeição social e a dor física e, para isto ilustrar, considere duas situações: (1ª) sua mão é queimada por um ferro de passar roupa, fazendo com que você experiencie uma dor intensa e (2ª) você relembra uma pessoa de seu afeto, com quem experenciou um rompimento inesperado. Será que estes dois tipos de dor estressantes compartilham uma representação somatosensorial comum?

            Estudo recente, publicado na PNAS (2011: 1-6), demonstrou que sim. Usando a técnica de Ressonância Magnética Funcional (fMRI), o estudo comparou estas duas ocorrências nos mesmos indivíduos, buscando verificar se rejeição social e dor física ativariam regiões comuns dentro da rede de conexões dos componentes sensoriais e afetivos da dor física. Além disso, os participantes, usando uma escala de 1 a 5, com números baixos refletindo maior estresse, estimaram como eles se sentiam após cada condição.

            Globalmente, os dados suportaram que as áreas eliciadas, em ambas as condições, foram similares, ativando, especificamente, os componentes sensoriais da dor física, ou seja, o córtex somatosensorial secundário e a insula dorsal posterior, destacando a existência de uma forte relação neural entre estes dois tipos de vivências em áreas do cérebro, ou seja, uma parte em comum que se torna ativa quando uma pessoa vivencia sensações dolorosas, física ou não.

            Estes dados conferem novo significado à idéia de que rejeição social machuca e dói. Os sistemas cerebrais que subjazem à rejeição social, desenvolvidos por cooptar circuitos cerebrais que suportam o componente afetivo da dor. Rejeição social e dor física não são apenas similares por serem ambas estressantes, mas também porque compartilham representações comuns no sistema somatosensorial. Tais resultados também esclarecem como experiências similares conduzem à várias desordens de dor física, do tipo psicossomáticas e fibromialgia, enfatizando o papel que o processamento somatosensorial pode desempenhar neste processo. Ademais, têm implicações para pesquisa básica em emoções e suas manifestações como, por exemplo, medo, tristeza, raiva, ansiedade e culpa, podendo explicar, também, o fenômeno conhecido como “dor social” ou “dor da alma”.

            Portanto, dor física machuca, rejeição social dói, fazendo com que a rejeição social seja, também, uma dor que machuca. Logo, ambas são dores que precisam ser prevenidas.

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