
Dor no trabalho
Pessoas que sofrem de dor crônica conhecem
que esta sensação perturba seu cotidiano e que completar qualquer tarefa,
cognitiva ou motora, mesmo sob dor moderada, é sempre muito difícil. De fato, a
dor tem sido descrita quase sempre como uma distração cognitiva constante, que
agregada a outros componentes afetivos negativos se deve evitar ou aliviar. Se
pessoas com dor são mais predispostas se distrair cognitivamente, aquelas
melhor equipadas para lidar com as demandas extras da distração poderiam também
ser menos afetadas por tais sensações.
Considerando a conexão entre atenção e percepção de dor, um estudo (Memory, 2011, 19(2), 226-232) comparou o
desempenho de indivíduos, diferindo na capacidade da memória funcional (alta e
baixa), em tarefas de processamento e de amplitude mnemônica em condições de
dor moderada e sem dor. Na tarefa de processamento, participantes foram
solicitados a resolver, em 45 segundos, o maior número de problemas algébricos
(por exemplo, (5x1) + 6 = ?), sendo avaliados pelo número de soluções corretas
e erros cometidos. Na amplitude mnemônica, os participantes receberam 20
palavras que deveriam ser estudadas durante 45 segundos e, após 30 segundos, relembrá-las.
O total de palavras relembradas e o de intrusões produzidas foram calculados.
Para induzir dor, os participantes gargarejaram 20 mL de um antisséptico
bucal alcoólico (21,6% por volume) durante 45 segundos, sendo um gargarejo por
segundo, com a mesma sendo produzida pela irritação do álcool nos tecidos
sensíveis das gengivas. Na condição sem dor, o uso era de água destilada,
durante o mesmo período. Em ambos os casos, os participantes completaram uma
tarefa, linha de base, na qual deveriam responder a um questionário de dor
indicando 0 (nenhuma dor) ou 10 (dor extrema). Após, repetiam este procedimento
completando as tarefas de processamento ou de amplitude mnemônica.
Os
resultados indicaram que gargarejar com o antisséptico alcoólico produz níveis
mais elevados de dor que com água destilada. Na tarefa de processamento, e na
de armazenagem, os gargarejos com álcool foram mais dolorosos que aqueles com água
destilada. O processamento de simples equações matemáticas sendo reduzido
quando efetuado sob dor moderada, indicando que dor reduz o total de respostas
corretas. Todavia, a dor física não parece reduzir a acurácia do processamento;
ao contrário, reduz a taxa com que os problemas são tentados ou completados, afetando
a pontuação total. Na tarefa de amplitude mnemônica a dor física produziu
déficit significativo no número de palavras corretamente relembradas e, também,
no número de intrusões, ou de palavras incorretamente relembradas.
Estes
dados suportam a noção da dor como distração cognitiva e que pessoas preparadas
para lidarem com estas sensações intrusivas são as menos afetadas pelas
sensações dolorosas.