Dupla-tarefa na doença de Alzheimer

José Aparecido

28 Mar 2014 07:40

              Dupla tarefa, ou tarefas concorrentes, são atividades que envolvem habilidade para realizar duas coisas ao mesmo tempo. Exemplo comum é manter uma conversação ao celular enquanto dirigimos no trânsito. Neste contexto, vários estudos têm revelado que, em idosos saudáveis, bem como, em jovens adultos, por ocasião de duas tarefas concorrentemente realizadas, o desempenho na dupla tarefa não difere significativamente. Por outro lado, pessoas com Alzheimer, têm sua habilidade substancialmente comprometida quando comparadas com os grupos anteriormente mencionados. Tal déficit cognitivo tornar-se mais pronunciado com o progresso da severidade da doença. Ademais, o desempenho em tarefas concorrentes tem se tornado um indicador para diferenciar, com precisão, o comprometimento cognitivo leve do Alzheimer e, também, permitindo identificar a passagem do comprometimento leve para esta doença.

            Estudo publicado no Archives of Clinical Neuropsychology (2011, 26: 340-348) investigou se a habilidade na dupla tarefa poderia distinguir entre Alzheimer, comprometimento cognitivo leve e envelhecimento normal. Para tanto, cada participante completou a dupla tarefa, que consistia em relembrar dígitos (tarefa 1) e acompanhar objetos (tarefa 2), tanto separadamente quanto simultaneamente. Na primeira tarefa, participantes ouviam, em ordem direta, uma lista de dígitos e, depois, eram solicitados a repetir tais dígitos em ordem inversa, respeitando a mesma sequência ouvida. O desempenho seria a proporção de dígitos relembrados corretamente na ordem exibida. Na segunda tarefa, foram apresentados 319 círculos aos participantes, numa folha A3, solicitando-lhes começar num dado círculo, conectando este ao círculo sucessivo, o mais rapidamente possível, por 90 segundos. O desempenho seria o número de círculos conectados pela linha.

            O grupo de pessoas com Alzheimer demonstrou um declínio mais significativo na dupla tarefa do que o grupo de pessoas com comprometimento leve, com nenhuma diferença significativa entre grupos de pessoas com comprometimento cognitivo leve e grupos de pessoas saudáveis. Logo, o desempenho na dupla tarefa é um discriminador sensível e específico entre pessoas com Alzheimer, comprometimento cognitivo leve e envelhecimento saudável. Além disso, o desempenho na dupla tarefa no grupo com comprometimento cognitivo leve foi caracterizado por uma grande variabilidade, indicando que, indivíduos deste grupo, que desempenharam bem na dupla tarefa, terão deficiências estáveis ao longo do tempo. Já aos indivíduos que desempenharam pobremente, presumiu-se que, os mesmos, poderiam se tornar mais suscetíveis em desenvolver Alzheimer.

            Assim, medidas em tarefas concorrentes podem, confiavelmente, separar envelhecimento normal e comprometimento cognitivo leve da doença de Alzheimer.