É preciso separar o joio do trigo

É preciso separar o joio do trigo

         Acredito que a maioria dos leitores que me acompanham sabaticamente sabem que sou um homem de Ciência. De fato, há quase 45 anos, dedico-me a estudar os mistérios e a natureza do comportamento humano. Quando destaco isso, lembro-me que, certa vez, por razões políticas e ideológicas, perguntado a John Ford, magnífico cineasta e diretor cinematográfico, “o quê” ele, realmente, fazia como gênero da sétima arte, ele respondeu: “Faço western!”. De modo similar, meses atrás, estudantes de Psicologia, recém-chegados ao Campus, ao entrevistarem-me como atividade acadêmica, perguntaram-me o que eu fazia. Imediatamente Ford me veio à lembrança e eu respondi “Estudo comportamento humano!”. Em Ciência, há dois mantras fundamentais, muito importantes a serem relembrados em tais contextos. São eles: correlação não prova causalidade e não se deve generalizar mais do que os dados permitem.

            Recentemente, a mídia falada e escrita de Ribeirão Preto, quando não nacional, tem dado destaque aos inúmeros comportamentos inapropriados encontráveis na Bastilha da Política Ribeirãopretana. Contexto, este, em que foram reunidos, num só lote de execráveis, tanto inúmeros representantes do povo quanto outros inúmeros funcionários de empresa, os quais não respondem pelas mesmas acusações que foram imputadas a tantos. Pelo contrário, na grande maioria, apenas trabalham e servem a comunidade, bem como, estão empregados em empresas que tiveram seus nomes citados em investigações. Esclareço: se elementos pontuais são associados com ações desabonadoras, não significa que todos desse grupo estão relacionados à prática desses mesmos atos. O que quero dizer com isso? Que é preciso cuidado para não misturar o joio com o trigo, ou seja, é preciso não generalizar de uma pequena amostra para o todo do qual esta amostra se origina. Em outras palavras: Ribeirão Preto conta com uma boa amostra de políticos que realmente prestam um bom serviço à comunidade. Eu próprio sou testemunha, nestes 45 anos de trabalho nesta cidade, de ações louváveis efetuadas por eles, as quais muito ajudaram o município.

            Por sua vez, também cabe destacar aqui que, imersos na grande crise econômica brasileira, muitos são os cidadãos dignos que recorrem, por pressões as mais diversas, aos seus representantes públicos para que estes, pelo menos, possam lhes orientar sobre como chegar aos feirões de emprego, às empresas privadas que contratam, entre outros, de forma que, esses mesmos representantes públicos possam mediar um contato o qual, sem seu auxílio, para muitos seria impossível. Desempregados não têm dinheiro sequer para o ônibus, que dizer para um currículo. A maioria, por questão de se encontrar fora do mercado de trabalho, chega a perder a autoestima. Todos, sem dúvida, afligindo-se com não poder alimentar sua família, medicá-la e dar-lhe um teto para se abrigar. Nestas circunstâncias, coloquem-se nelas, é quase impossível dizer “Não.”, bem como, não se sensibilizar com tal carência. Eu mesmo, há tanto tempo afastado da administração pública, ainda recebo, constantemente, pessoas que vêm me pedir se posso encaminhar um currículo, lembrar dos nomes de empresas da área que ocupam para que eles possam buscá-las e, até mesmo, se tenho como solicitar, junto aos amigos, uma arrecadação de alimentos, ou remédios, para que os mesmos não passem fome, nem morram sem tratamento médico mínimo. O que estão pedindo? É que eu possa ver se é possível abrir uma pequena porta ou lembrar de alguma janela que possam ouvi-los. Orientar as pessoas, nesse sentido, não significa tráfico de influência, tampouco, garantia de que o empregador poderá auxiliá-los em alguma coisa. Levantar as foices, ranger os dentes e apontar armas é fácil. Difícil é solucionar o problema.

            Orientar e esclarecer não consubstancia garantir emprego. Uma coisa não causa a outra. Porém, foices, ranger os dentes e apontar armas, indistintamente, lembra este episódio de Canudos, na pena de Euclides da Cunha: “Canudos... Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo... caiu... ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados”.

            Não estou dizendo, fique claro, que a corrupção não deva ser combatida. O que digo, especialista do comportamento humano que sou, é que, levantada a bandeira das dificuldades encontradas, é necessário que, àqueles que não cometeram atos desabonadores, mas que foram incluídos no lote destacado, seja dada a oportunidade de terem suas identidades e nomes desvinculados da vergonha pública. E isto após a exaustiva e profunda análise de todas as ações levadas a cabo pelas investigações. Pessoas a quem são imputadas ações levianas que não foram por eles cometidas, quando não se é esclarecido pela mídia quem foi o joio e quem foi o trigo, sofrem injustamente, bem como, veem a família e os amigos também sofrendo pelo que lhes foi apontado, mas não provado, nem esclarecido.

            Na parábola do joio (Mateus 13:24-30), um homem plantou sementes no seu campo mas o inimigo plantou joio no mesmo campo. Uma vez que o trigo e o joio começaram a crescer juntos, os servos sugeriram que arrancassem o joio. O dono da casa não os deixou tirar o joio. Ele deixou o joio crescer junto com o trigo até a colheita, quando o trigo foi recolhido e o joio foi queimado. Em Ribeirão, tanto joio quanto trigo estão sendo queimados juntos, indistintamente. E isso, em muitos casos, por conta da sede insana pelas eleições que se aproximam. É necessário que, aos de bem, seja devolvida a dignidade de circular de cabeça erguida entre os homens de boa vontade.

 

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