A educação e seus inimigos: a falta de pesquisa experimental

A educação e seus inimigos: a falta de pesquisa experimental

            Uma das coisas mais importantes que se pode fazer pela educação é melhorar o ensino. O ensino básico e fundamental, por responderem pela base formativa educacional, têm sido os mais focados. Entretanto, o que mudaria se começássemos pelas próprias faculdades de educação? A reclamação geral dos graduandos é receberem muita teoria e pouca prática. Reclamam que não estão lhes oferecendo experiência em ensino. Que não deve ser confundida com estágios curriculares obrigatórios. Experiência de campo, de atuação em projetos-piloto, que os coloquem face a face com a gravidade do problema educacional no país. Do contrário, ao concluírem suas graduações, e buscarem o mercado de trabalho, o excesso teórico lhes servirá para elaborarem aulas. Mas, muito pouco, para lidarem com a violência, o desinteresse, a desmotivação, o analfabetismo funcional, o baixo desempenho, e centenas de outros problemas em que se vê imersa a educação brasileira.

            Irmanado a isso, milhões de reais governamentais, apesar de despendidos em reformas educativas, e programas de avaliações de desempenho, também não fomentam, a contento, a pesquisa educacional no Brasil. Resumidas a relatos subjetivos de variáveis que afetam, hipoteticamente, o desempenho acadêmico, poucas alcançam um nível cientificamente aceitável. Se experimentais, permitiriam que uma dada intervenção educacional, aplicada a uma amostra de crianças, fosse comparada com outra intervenção, também aplicada a outra amostra de crianças, ambas aleatoriamente selecionadas. O que muda? Sem conhecer que um tratamento é eficaz, não há maneira de conhecer como ele é eficaz.

            Analogamente, se diferentes indústrias farmacêuticas estivessem lançando seus medicamentos sem avaliarem, sistemática e criteriosamente, os efeitos secundários e a eficácia dos mesmos, junto a indivíduos com dada doença, a falta de registros porcentuais dos pacientes que melhoraram com estes, bem como, dos que melhoraram sem se submeter a qualquer tratamento, pouca credibilidade lograriam ter. Apenas ensaios que identificam uma amostra de pacientes e, então, distribuem aleatoriamente alguns à condição de tratamento, e outros à condição de não-tratamento, ou condição de tratamento alternativo, são considerados preencher critérios de uma pesquisa adequada.

            Este tipo de pesquisa experimental é, certamente, muito melhor que basear o ensino em registros anedóticos. Não obstante, este padrão de rigor quase nunca é adotado nas intervenções educacionais. Ironicamente falando, por que pesquisas educacionais devem seguir diferentes padrões, como os envolvidos nas pesquisas com medicamentos? Simples: você tomaria qualquer medicamento sem que sua eficácia fosse comprovada? Certamente não. Mas, o mesmo rigor parece não primar nas intervenções educacionais. No Brasil, o “achismo” reina incólume, tendo se tornado comum nossos dirigentes receitarem “drogas” educacionais sem verificarem sua eficácia e, mesmo, suas contra-indicações.

 

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