Educação, Inteligência e Política
Fomentar a Inteligência, enquanto
reconhecido determinante de desenvolvimento econômico, tanto nos níveis
individual e nacional, quanto internacional, tem sido a principal razão para o
contínuo suporte em pesquisa educacional, dado pela Organização para o
Desenvolvimento e Cooperação Econômica (OECD), e outras organizações
internacionais, à pesquisa educacional em todo o mundo. Este suporte evidencia,
portanto, que educação e habilidades cognitivas, enquanto médiuns fundamentais da aquisição de conhecimento, são as promotoras
fundamentais das habilidades e desempenhos econômicos. Todavia, afluência
econômica é apenas um dos aspectos do bem-estar subjetivo de indivíduos e
nações. A democracia, através do cumprimento de leis e do estabelecimento da
liberdade política e da paz, ausentando práticas de tortura, despotismo,
terrorismo político, violência e supremacia do medo na sociedade, são
igualmente importantes.
A rigor, características
econômicas e políticas devem ser trabalhadas conjuntamente. E, de tal forma,
que democracia seja vista como determinante do crescimento econômico, fomentada
pela afluência que proporciona aos cidadãos. Neste contexto, relações positivas
entre educação e habilidades e condições políticas das nações devem permanecer,
mesmo quando a variável Produto Doméstico Bruto (PDB) é, parcialmente, retirada
das análises estatísticas. Pois, ainda que a pobreza afete resultados sociais, dentro
de uma democracia, são a educação e a inteligência, viabilizadas, que
fortalecem o entendimento do que seja democracia, gerando, ainda que
indiretamente, riqueza econômica. Pormenorizemos esta situação.
É a influência positiva da
educação e das habilidades cognitivas, individual e nacional, adquiridas na
escola, que enriquecem a eficiência do trabalho e das organizações. Já sobre o
desenvolvimento político esta relação, ainda que igualmente existente, é menos
óbvia. Entretanto, torna-se facilmente perceptível se entendermos democracia
como um sistema político baseado num modelo racional dos valores e ações
humanas. Racionalidade per se não
pode ser concebida sem educação, inteligência e conhecimento, bem como, sem
compreensão das relações causais, previsão e apreciação do mundo e de seus
habitantes. Como dizia São Thomas de Aquino: “ratio onitur in umbra intelligentiae”; “racionalização fomentada
pela mais elevada expansão educacional”. Educação, portanto, é prática que
amplia os horizontes do homem, capacitando-o a entender a necessidade das
normas de tolerância, restringindo-o à adesão à doutrinas extremistas e aumentando,
substancialmente, sua capacidade para fazer escolhas eleitorais racionais. Quanto
mais alta a educação de um indivíduo, tanto mais provavelmente ele acredita nos
valores democráticos e suportes de práticas democráticas. Portanto, efeitos
individuais promovidos pela educação, tais como, tolerância, moderação das
posições políticas, atitudes positivas em relação aos valores democráticos e
habilidade para decisões racionais influenciam, indubitavelmente, a cultura
política das nações.
Pesquisadores, identificando dois
efeitos relevantes da educação e das habilidades cognitivas sobre a política, a
saber, um efeito cognitivo, presente
na competência para fazer escolhas racionais e melhor processar informação, entre
outros, e um efeito ético, a saber,
conceder suporte aos valores democráticos, à liberdade e aos direitos humanos, enquanto
pré-requisitos para o desenvolvimento moral, esclarecem que são ambos efeitos
que fomentam, nos quatro cantos do mundo, a vontade de pensar e aprender
competências cognitivas e seus adicionais. Similarmente, a OECD postula a
influência da educação sobre a qualidade
das decisões de votação e intensidade
da participação política. Depreende-se, assim, que, pessoas com maior
escolaridade são mais prováveis de fazer boas escolhas, por se pautarem pela
melhor informação que detêm do quesito ou pessoa a ser votado, participando,
com isso, de um modo mais ativo em suas comunidades. Educação, relevante por
ser o determinante que confere ao Homem sua capacidade de processamento de
informação, estabelece-se em terrenos democráticos, portanto, porque a
democracia depende de cidadãos que processem tanto simplicidades quanto
complexidades, e com isso participem, ativamente, dos mais diversos processos
políticos.
Uma vez melhor compreendendo a
natureza e práticas dos jogos políticos, os cidadãos, nas sociedades modernas,
não seriam tão facilmente manipuláveis, sejam por falsas promessas ou por
propostas inviáveis, e, tampouco, marionetes de elites dominantes mal
intencionadas. Em contextos políticos, portanto, a tese da relação educação
versus habilidade cognitiva versus participação política revela, claramente,
que educação requer democracia tanto por esta aumentar a quantidade de cidadãos
que se envolvem no processo eleitoral, elevando a probabilidade de votação, quanto
por melhorar a qualidade do envolvimento dos cidadãos com informações sobre
política. Pessoas com acesso à educação, portanto, têm maior probabilidade de
votar melhor, e mais consciente, bem como, de ler jornais, revistas e outros
suportes da informação que as esclarecem para melhor exercer seu livre-arbítrio
sobre diferentes temas que permeiam as sociedades modernas, tais como, antirreligiosos,
militaristas, de homossexualidade, de raça, e de outras questões mais
complexas, tais como, sobre células-tronco, dor fetal, valor dos testes de QI, importância
da inteligência, entre outros.
Numa democracia, portanto, inteligência
e conhecimento são requeridos pelos cidadãos para distinguir boas de más informações,
e também para o julgamento de promessas e de programas políticos, desenvolvimento
de expectativas realísticas sobre política e o que, nestas últimas, pode ser
considerado como plausível ou quimérico. A democracia necessita de cidadãos
informados, inteligentes e racionais. Por isto, tanto cidadãos, quanto
políticos têm que respeitar regras saudáveis de sociabilidade e integridade nas
disputas e conflitos políticos. Não obstante, inteligência também é importante
para a política em nível macro-social, ou seja, inteligência é requerida para a
tomada de decisões politicamente institucionalizadas, administrações
eficientes, implementação de sistemas legais, simplificação de burocracias e viabilização
de boas instituições econômicas. O funcionamento das instituições públicas per se é uma condição para o cumprimento
das leis. Todas estas são instituições racionais que dependem de uma cultura
inteligente. Além disso, a liderança política é uma tarefa que requer alta capacidade
cognitiva.
Em resumo, educação e inteligência,
concebidas como acima discutido, favorecem a democracia, o cumprimento das leis
e a liberdade política. Ademais, ao criarem riqueza material elas melhoram a
qualidade de vida, fomentando, qualitativamente, o desenvolvimento das
instituições legais e democráticas.