Educação para educar ou para as habilidades?

Educação para educar ou para as habilidades?

      Aquisição escolar, ou seja, os anos de escolaridade completados pelo indivíduo, tem se expandido dramaticamente e sido, quase sempre, plataforma política em época de eleições. Entretanto, a maioria dos dirigentes políticos ou educacionais não colhem as recompensas prometidas do sucesso econômico enfocando suas políticas públicas exclusivamente nos anos de escolaridade. Isto tem intrigado muitos estudiosos e conduzido a um ceticismo em relação ao papel do capital humano no desenvolvimento. Para muitos a solução para esse enigma é clara: aquisição escolar, especialmente no Brasil, como um todo, e em particular, nos municípios deste, tem sido frequentemente expandida sem um aumento corretamente mensurado do desempenho acadêmico ou habilidades cognitivas. Portanto, provocando resultados econômicos insatisfatórios ou, até mesmo, desigualdades econômicas e educacionais. Assegurar que a escolaridade enriquece as habilidades cognitivas requerer-irão diferentes políticas e instituições. Vamos dar um exemplo local.

            Há duas semanas, meu brilhante colega Alberto Matias, docente da FEARP-USP, divulgou dados revelando, enfática e corretamente, que mais dinheiro na educação não tem conduzido a resultados mais elevados no desempenho educacional. De fato, comparações internacionais e entre Estados e Municípios têm revelado que investimento, traduzido, exclusivamente, em dinheiro, nas escolas públicas não tem conduzido a desempenhos escolásticos melhores. Certamente, todas as escolas necessitam de um limiar mínimo de investimento para serem bem administradas. Mas investimento não tem sido o ingrediente ativo. O incorreto do que foi divulgado pela imprensa a esse respeito, se entendi bem, é que o ingrediente ativo seria a escolha de diretores das escolas por parte da comunidade escolar. O que se sabe, de fato, acerca desta variável é que a autonomia, a responsabilidade e opções de escolha por parte dos pais são as variáveis institucionais que afetam o desempenho escolar. Autonomia, resumidamente, implica a liberdade que as escolas devem ter para criar incentivos que as induziriam a buscar programas escolares e professores competentes. Incentivos significam fornecer recompensas para o bom desempenho ou, inversamente, punição para o fraco desempenho. Responsabilidade seria a liberdade de as escolas  introduzirem escolhas e competição, assim como, terem autonomia local na tomada de decisão em contratação e demissão de professores, isto é, contratar s melhores e dispensar os piores. Também, se aos pais e estudantes forem dadas oportunidades de escolhas sobre quais escolas atender, de modo que selecionem escolas que fornecem melhor oportunidade de aprendizagem, tem sido uma variável importante na elevação do desempenho acadêmico.

            Importa destacar, também, que a eficiência do professor é um importante determinante do autodesempenho do aluno. Obviamente, este resultado não surpreende ninguém; mais instrutivo, todavia, é que professores eficientes, nem sempre são os mais experenciados, mais treinados, mais educados e mais bem pagos. De fato, tem sido impossível identificar as características de bons professores, isto é, aqueles que produzem grandes ganhos de aprendizagem em seus estudantes. O porquê de as características de um bom ensino não serem bem descritas é que tem sido impossível identificar, bem como impossível tem sido identificar uma forma de regular as habilidades que constroem um bom professor. Sem um entendimento sólido dos atributos, experiências e treinamento de um professor que conduzam a um melhor desempenho das escolas é impossível estabelecer padrões de qualificação para professores eficientes.

            Assim considerando, embora todas essas variáveis constituam-se em boas políticas públicas, sua execução tem sido, frequentemente, alcançar NENHUM sucesso. Frequentemente, os estudantes gastam tempo e mais tempo nas escolas. Mas, quase nada têm aprendido. Se nada aprendem, nada podem competir no mundo globalizado. O que se deve aprender, em essência, são as habilidades cognitivas básicas para enfrentar os elevados níveis de complexidade que as forças de trabalho futuras estão requisitando. Afinal, escolaridade é sobre aprendizagem, e mais escolaridade deve levar a algum melhoramento. É o senso comum, digamos, que todos apresentam. O cerne, portanto, reside no ensinamento das habilidades cognitivas.

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