
Educando o talento
Anos
atrás, a Academia Nacional de Ciência, Engenharia e Medicina dos Estados
Unidos, realizou um estudo buscando entender quais seriam as habilidades dos
norte-americanos para competir na busca de empregos de qualidade numa economia
globalizada. A conclusão, geralmente
referida como “Caçando Tempestade”, revelou, após a primeira linha de seu
título, que como nação, os Estados Unidos estaria se tornando menos competitiva.
Todos nós vivemos numa economia, tal como escreveu Francis Cairncross, no “The
Economist”, em que a ‘distância está morta...e ela realmente está”. Não mais
competimos para empregos, ou clientes, com vizinhos próximos à nossa rua; pois,
agora competimos com nossos vizinhos ao redor do globo. Ademais, muitos destes
indivíduos são altamente talentosos e todos são intensamente motivados.
Vários estudos têm indicado que entre 50 e
85 % do crescimento no PIB de uma nação, ao longo dos últimos 50 anos ou mais,
pode ser atribuído aos avanços nestes campos do saber. Não obstante, enquanto
apenas 4 a 5 % da força de trabalho é composta por cientistas e engenheiros,
estes indivíduos desproporcionalmente criam empregos para outros 96-95%. Por
exemplo, afirma-se que durante anos recentes quando apenas 700 engenheiros
estavam trabalhando no desenvolvimento e no manufaturamento do Apple iPod,
14.000 empregos adicionais foram criados nos estados Unidos e, aproximadamente,
28.000 novos empregos foram criados em outros países. Um antigo presidente da
Cal Tech observou que um único e verdadeiramente excelente cientista é mais
valoroso do que 1.000 cientistas muito bons. De fato, parece improvável que
1.000 cientistas medianos poderiam ter produzido a Teoria Geral da
Relatividade, não importa quanto tempo eles dispusessem. Nem poderiam 1.000
escritores medianos terem produzido os trabalhos de Shakespeare. Nem poderiam
1.000 compositores medianos terem criado as músicas de Beethoven.
O padrão de vida de uma nação depende
substancialmente das habilidades de seus cidadãos para competirem por empregos
de qualidade e, portanto, o bem-estar de nossa sociedade como um todo depende
desproporcionalmente do sucesso em reconhecer e amadurecer aqueles indivíduos
que tomam o papel de liderança na criatividade, inovação e, geralmente, pensam
fora dos padrões ditos normais.
Assim, reconhecer e educar jovens
promissores, bem como, maximizar as oportunidades para que os mesmos possam
contribuir para a sociedade é atualmente uma das missões mais importantes de
nossos educadores. O futuro da nação está em como educamos os nossos jovens
talentosos. Entretanto, para isso
devemos desmistificar dois argumentos que têm sido frequentemente usados para
impedir políticas que focalizem atenção especial aos estudantes talentosos.
Primeiro, a crença de que o talento se
equipara ou é sinônimo de sem- esforço, desempenho superior ou que a produção
criativa ou inovação é ampla e possível a qualquer um em nossa cultura. Alguns
dirigentes educacionais argumentam que nenhum atendimento especial ou programas
específicos são necessários para crianças ou jovens com talentos ou dons
acadêmicos especiais. De acordo com esta
visão, visto que jovens talentosos requerem pouco esforço ou instrução para
serem bem sucedidos, eles deveriam participar em classes inclusivas,
heterogêneas e receberem instruções diferenciadas apenas quando e se parecesse
razoável oferecer. Alguns ainda entendem que agrupar crianças talentosas em
função de suas habilidades e altas realizações em classes especiais é antidemocrático
e elitista. A verdade é uma só: estas crianças também necessitam de atenção e
educação especial. O talento precisa ser fomentado.
O segundo argumento enfatiza que programas
dirigidos aos talentosos existem apenas para fomentar um segmento da sociedade.
A percepção comum é que a seleção dos programas para talentosos é algo
relativamente arbitrário. Usualmente entende-se que os talentosos originam-se,
em maior parte, das classes sociais mais afluentes. Ainda que seja verdade que
a maioria origina-se da classe média, há muitos oriundos de outros segmentos
sociais e com variadas características demográficas. O princípio é um só: o
talento deve ser identificado e fomentado esteja onde estiver.
Em nossa sociedade haverá sempre indivíduos
que inspiram-nos admiração, ou inveja, por sua rapidez em aprender, pelo
desempenho gracioso, ou pelas idéias inovadoras. Por realizarem tudo isso,
aparentemente, sem qualquer esforço, e por fazerem contribuições magistrais em
seus campos de saber, estas pessoas talentosas nos intrigam. E, portanto,
tentativas para entender, desenvolver e fomentar suas habilidades são os
pilares da educação futura.