Efeito Mozart

Efeito Mozart

           Dados publicados na Nature, em 1993, mostrando que estudantes pontuam 8-9 pontos a mais nos testes de QI de raciocínio espacial quando expostos ao primeiro movimento “allegro con spirito”, da Sonata KV 448 para dois pianos em D maior, de Mozart, despertou vasto interesse na comunidade científica e na mídia popular. Embora o efeito Mozart tenha sido originalmente demonstrado em estudantes, e empregado apenas testes de habilidades espaciais, a mídia, exageradamente, veiculou que mera exposição à música de Mozart, também, enriquecia a inteligência das crianças. A indústria, aproveitando este momento, amplamente, comercializou milhões de fitas, discos e CD das músicas de Mozart, todas  supostamente tendo impacto positivo sobre a inteligência das crianças.

          Este contágio chegou rapidamente aos dirigentes políticos, a ponto do governador da Georgia (USA), solicitar, numa legislatura, recursos para fornecer gratuitamente fita ou CD de música clássica para cada recém-nascido no Estado. Citando evidência científica para suportar sua incomum solicitação de recursos, destacou “há estudo mostrando que estudantes  que ouviram uma sonata ao piano de Mozart, por 10 minutos, têm seu QI aumentado em 9 pontos”. Ele adicionou, “alguns argumentam que isto não é duradouro, mas ninguém duvida que ouvir música, especialmente, nos primeiros anos de vida, afeta o raciocínio espaço-temporal que subjaz à matemática, engenharia e ao xadrez”.

          Assim, o chamado efeito Mozart é um dos mais veiculados exemplos recentes de nossa crescente preocupação com a maleabilidade da inteligência, tema que, não apenas teima em ir adiante, mas também continua gerando tempestades de controvérsias. A rigor, tal efeito tem sido difícil de replicar e tem gerado abundância de resultados conflitantes. Recentemente, amplo estudo, envolvendo 40 experimentos e mais de 3000 sujeitos, foi empreendido com o propósito de clarificar se existe ou não um específico efeito Mozart. O estudo demonstrou que há apenas um pequeno suporte para um efeito Mozart específico nos experimentos analisados.

          Ainda que os resultados tenham indicado um positivo e significante efeito da exposição à sonata de Mozart quando comparada com a condição de nenhum estímulo em todos os desempenhos nas tarefas espaciais, os efeitos observáveis foram muito pequenos. Ademais, exposição a outros estímulos musicais comparados à exposição a nenhum estímulo, produziu efeitos idênticos. No todo, há pouco suporte para a noção de um enriquecimento específico do desempenho nas tarefas espaciais através da exposição à sonata de Mozart.  Portanto, a questão da maleabilidade da inteligência ainda continua em aberto.

 

 

 

 

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