Eleição é também uma questão de inteligência

Eleição é também uma questão de inteligência

            Em geral, ninguém gosta de ser identificado como “pouco inteligente”. Vejamos: Bruno Mazzeo, ator global da novela “Cheias de Charme”, em entrevista recente, afirmou que o Twitter é um erro, pois as pessoas inteligentes não o usam. O comentário ficou entre os assuntos mais comentados na mídia em geral. Grande parcela se sentiu ofendida, enquanto poucos rejubilaram, concordando em número e grau com a afirmação. Analogamente, podemos ser estereotipados de “pouco inteligentes” quando escolhemos candidatos que fazem propostas utópicas, fantasiosas, messiânicas e até paranoicas. Os candidatos do nosso município não destoam deste último cenário, apresentando-se como hábeis e capazes de erradicar todos os problemas de saúde, de educação, de trânsito, de transporte e de moradia de Ribeirão Preto. Alguns prometem um tablet por aluno e um notebook por professor. Até um estádio para manifestação de fé é prometido. Outros prometem evaporar todas as favelas do município e tornar a cidade sede de grandes instituições nacionais e internacionais. Outros, inteligentemente, nem propostas têm. Mas o que estas atitudes têm em comum? Um desconhecimento total do que é educação, de quais variáveis controlam o desempenho educacional e o progresso socioeconômico individual. Aqueles que prometem tablets e notebooks, sem nos esquecermos das escolas banhadas a ouro, entendem que, equipamentos modernos e variada infraestrutura escolar, constituem as principais variáveis responsáveis pelo desempenho acadêmico dos jovens estudantes.

            Não obstante sua importância para um cenário educacional saudável, estas variáveis pouco explicam os resultados do desempenho educacional. Os candidatos desconhecem uma imensa literatura demonstrando que a principal variável, isto é, o ingrediente-ativo do desempenho educacional é a habilidade cognitiva geral dos estudantes. Há uma grande associação entre a habilidade cognitiva geral média dos estudantes e os diferentes indicadores socioeconômicos, de saúde, criminais e epidemiológicos de uma nação, estado ou município. A habilidade cognitiva está estritamente correlacionada com a riqueza individual e nacional. Exemplos são as relações entre dos escores do PISA médio de uma nação, ou estado com a renda per capita ou com o PIB nacional. Quanto maior o escore no PISA tanto maior a renda, seja individual ou agregada. Portanto, o ingrediente-ativo é a habilidade cognitiva geral e não equipamentos variados. Portanto, fomentar as habilidades cognitivas é a melhor receita para um crescimento sustentável a longo-prazo.

            Aqueles que prometem erradicar as pessoas das favelas, sabidamente, reconhecem que a solução envolve muito mais que conceder simples moradia às mesmas. Mais do que educá-las a viverem em grupos, em vizinhanças, torna-se importante habilitá-las a lidarem com a complexidade que a vida e o trabalho moderno requerem. É preciso fomentar suas habilidades para cuidarem da própria saúde, para as demandas do trabalho futuro, para avaliarem corretamente os riscos de viverem em condições miseráveis, etc... Desfavelar significa fomentar habilidades cognitivas, sociais e emocionais.

           É verdade que a maioria das pessoas é amplamente equipada em suas fontes cognitivas, e em outras características pessoais, para lidar com a progressiva complexidade que surge com os avanços tecnológicos. É também verdade que muitos aproveitam mais esses avanços do que outros. Produto desta crescente complexidade, milhões de pessoas têm encontrado grandes dificuldades para construírem suas próprias vidas de modo confortável. Com os avanços tecnológicos, os lugares para os menos competentes cognitivamente foram se dispersando. E, por consequência, tal fato tem afetado intensamente as pessoas com habilidades mais modestas. Nos empregos, nas tarefas, nas relações sociais, na burocracia, na economia, no direito, na justiça, na educação, e em inúmeras outras esferas de nossa vida cotidiana, a complexidade se tornou cada vez mais progressiva, requerendo, por sua vez, maior inteligência para lidar com ela. Se muitos empregos não especializados desapareceram, muitos outros, inéditos, surgiram nos mais diferentes lugares, requerendo, para serem desempenhados, o domínio de um raciocínio abstrato e de uma elevada habilidade para lidar com símbolos até então não requeridos.  

          Portanto, o papel da complexidade, seja no trabalho ou nas relações, tem provocado um grande efeito colateral, ou seja, tem compartimentado a vizinhança em suas funções tradicionais. A complexidade descentralizou, portanto, a importância da comunidade local. As diferentes favelas são exemplos típicos desta segregação provocada pela complexidade.

         Como inteligência é sinônimo de complexidade, entendo que nossos futuros candidatos devem implementar políticas públicas que promovam a inteligência, ou as habilidades cognitivas. Usando-as como ferramentas, certamente, alcançaremos melhores desempenhos educacionais, bem como, talvez, o desfavelamento. A Polônia é um caso exemplar. Aumentou 25 pontos no PISA e produziu um crescimento econômico vertiginoso.

 

 

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