Elite cognitiva 18: os pais como professores

Elite cognitiva 18: os pais como professores

   Inúmeras pesquisas educacionais suportam o ponto de vista de que as mais importantes influências ambientais sobre as competências cognitivas das crianças devem acontecer antes da idade pré-escolar, quando as mesmas podem acarretar um benefício máximo no desenvolvimento cognitivo. Isto não significa que os programas pré-escolares não têm qualquer efeito sobre as competências cognitivas ou sobre o desempenho acadêmico, mas, sim, que há um retorno gradativamente diminuído das intervenções quando as crianças tornam-se mais velhas. Portanto, como já destacamos, o grande desafio das políticas públicas envolve como utilizar o grande potencial das características das famílias, de modo que elas possam ter um efeito máximo sobre as competências cognitivas e o desempenho das crianças.

            A literatura revela que há, conceitualmente, três abordagens que podem ser usadas para elevar as competências cognitivas das crianças usando tanto a potencial influência da família, quanto os fatores de riscos da paternidade ao longo dos primeiros anos de vida. Duas destas abordagens focalizam os comportamentos paternais críticos, tais como, a estimulação cognitiva e o suporte emocional. A primeira delas, intervenção mais direta, envolve cuidados intensivos para os infantes e crianças muito jovens, nos quais, técnicos treinados fornecem instruções adicionais e interação positiva (estimulação cognitiva e suporte emocional) seja o que for que a criança receba em casa.

            A segunda abordagem, levemente menos direta, envolve visita domiciliar, onde profissionais e para-profissionais visitam periodicamente as famílias com o propósito de treinar um ou ambos os pais em várias habilidades e comportamentos paternais, tais como, estimulação cognitiva, amadurecimento, disciplina e práticas de saúde. Há, todavia, outras intervenções que combinam ambas as abordagens de modo que tanto as visitas domiciliares, quanto o treinamento das habilidades paternais, são oferecidos ao mesmo tempo. O importante é que ambas as abordagens sejam usualmente endereçadas para as crianças potencialmente em risco.

            A terceira abordagem é menos direta, mas potencialmente mais globalizada. Ela tem sido denominada de “Família Total” e tenta mudar totalmente o nível sócio-econômico e a estrutura familiar das famílias de baixa-renda, de modo que os comportamentos paternais possam melhorar porque as características familiares melhoraram. Esta abordagem se baseia nos fatores de risco que podem prejudicar o desenvolvimento das competências cognitivas, ao longo da vida das crianças. e tentam melhorar os níveis de educação paternal (por exemplo, prevenção em relação á evasão escolar), aumentar o número de famílias com dois pais, aumentar a renda, reduzir nascimentos em jovens adolescentes não casadas, limitar o número de crianças e melhorar as habilidades paternais. Estas intervenções tentam mudar os fatores de riscos pós-parto, especialmente os comportamentos paternais de estimulação cognitiva e suporte emociona, além de considerar os fatores de riscos pré-natal, tais como, nutrição e baixo peso dos nascidos. Alguns programas também localizam, determinam a paternidade, se necessária, e obrigam “pais malandros” a contribuírem financeiramente com a educação de suas crianças independente do estado civil.

            Análises estatísticas do impacto destas abordagens sobre os escores de QI revelam, grosso modo, que tais escores melhoram numa amplitude de 4,4 a 13,2 pontos, com um aumento médio de 8 pontos. Em outras palavras, o efeito médio é aproximadamente meio desvio padrão, haja vista que a maioria dos testes de QI considera como 15 o desvio-padrão. Vários estudos também revelaram ganhos significativos nos desempenhos acadêmicos. Ademais, simultaneamente otimizando todos os fatores de riscos ambientais, pode-se, provavelmente, elevar o QI das crianças em até 10 pontos, e se mudanças podem ser implementadas pelas próprias famílias, os custos monetários podem ser extremamente reduzidos.

            Assim, estas abordagens, principalmente a última, envolvendo toda a estrutura da família, elevam o QI das crianças mais desfavorecidas, representando uma opção política diferenciada. Se as características familiares, e comportamentos paternais das crianças de baixa-renda, melhoram como resultado das intervenções dentro das famílias como um todo, então os escores de QI e o desempenho acadêmico destas crianças também se beneficiam de tais mudanças.

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