Elite Cognitiva 20: Por que o mundo todo não é desenvolvido?

Elite Cognitiva 20: Por que o mundo todo não é desenvolvido?

Você já se perguntou o porquê de alguns países serem ricos e outros pobres? Por que há tantas disparidades econômico-sociais entre as nações? Que razões levam a estas diferenças de distribuição de riqueza e qualidade de vida entre os países? De fato, o problema das desigualdades e disparidades humanas tem sido reconhecido e discutido há tempos imemoriais. Disparidades dentro e entre nações têm sido descritas em centenas de estudos. As explicações divergem, sendo muito variadas. Algumas focalizam fatores histórico-culturais. Outras, fatores específicos, especialmente, as condições e estruturas sociais de cada nação. E ainda há aquelas que concebem que tais disparidades estão na natureza humana e nas características inatas da pessoa. Vamos hoje comentar as concepções clássicas que traçam as raízes das desigualdades e pobrezas globais. Principiemos pelos sábios.

            Aristóteles descreveu, em sua A Política, que, em cada cidade, as pessoas são divididas em três categorias: os muito ricos, os muito pobres e aqueles que estão entre ambos. Tal observação aristotélica é ainda válida em qualquer quadrante do mundo, não sendo uma, mas várias, as disparidades sociais humanas por ele identificadas. Além do que, tendo ele também discutido as conseqüências políticas de tais disparidades, embora não explicando o porquê delas existirem, a muitos parece estar o mestre consciente de que há diferenças nas características inatas das pessoas, as quais são refletidas nas instituições e estruturas político-sociais.

            Montesquieu discutindo as disparidades sociais globais em seu livro De L’Esprit des Lois, observou que as nações mais ricas tentem a se situar em latitudes temperadas, enquanto as mais pobres situam-se nos trópicos e semi-trópicos, concluindo que o clima deve estar, de algum modo, associado a estas diferenças. Logo, Montesquieu elaborou a idéia de que a origem das disparidades globais dependia das diferenças climáticas, bem como, de seu impacto sobre a natureza humana, ou seja, das condições políticas e outras características humanas. Rousseau foi um dos primeiros filósofos que tentou explicar a origem de tais desigualdades. Em seu Discourse on The Origin and Basis of Inequality Among Men concebeu que as diferenças que existiam entre os homens se originavam de mudanças da constituição humana. Ele argüiu que a desigualdade era, praticamente, negligenciável quando as pessoas viviam sem qualquer posse pessoal significativa, mas, após as invenções da metalurgia e agricultura, estas levaram ao aparecimento da propriedade privada e desigualdade nas sociedades organizadas. O interessante é que Rousseau traçou a origem de tais desigualdades em paralelo às diferenças nas habilidades inatas das pessoas, assim afirmando “As coisas neste estado poderiam ter permanecido iguais se as habilidades também tivessem sido iguais...mas elas não foram iguais”.

            Adam Smith, em seu livro The Wealth of Nations explorou a natureza e as causas da riqueza das nações, chegando à conclusão de que os fatores responsáveis pelo desenvolvimento econômico eram as habilidades humanas, as especializações e divisões do trabalho e a existência de mercado-livre. Atribuindo o desenvolvimento econômico e o crescimento da riqueza às habilidades especiais e talentos, via a educação e instituições político-econômicas oportunidades apropriadas, e necessárias, para se usar as chances disponíveis. Portanto, Smith viu ser importante destacar a importância dos fatores ambientais no desenvolvimento dos talentos.

            Por sua vez, Thomas Malthus argumentou que a pobreza e a miséria, observáveis entre as classes baixas, em cada nação, são causadas, principalmente, pela tendência constante da população aumentar mais que os meios de subsistência. Como conseqüência, várias mudanças sócio-estruturais se fazem necessárias para manter um grande número de pessoas no nível com os meios de subsistência.

            Alexis de Tocqueville, ficando impressionado pela igualdade geral de condições que observou na América, escreveu “Esta igualdade de condições é fato fundamental a partir do qual todas as outras parecem ser derivadas”. Sendo esta mesma igualdade geral de condições o que levou à democracia, mas em uma revolução democrática incapaz de resolver, totalmente, a eterna diferença entre ricos e pobres. O que o levou a reconhecer que, “mesmo com o advento das melhores condições de igualdade, a desigualdade do intelecto permaneceria como um dos últimos pilares do velho regime... Nem tudo podendo ser elevado ao nível do maior, pois, diferenças de habilidade originam-se de Deus ou da Natureza”. Tocqueville enfatizou, portanto, a significância de instituições e leis apropriadas para o desenvolvimento da igualdade.

            Marx e Engels já argumentavam que a propriedade privada dos recursos produtivos era a causa básica das grandes disparidades econômico-sociais dentro da sociedade, especialmente nas sociedades capitalistas. Não obstante, não explicaram o porquê de os meios de produção serem, em todas as sociedades, desigualmente distribuídos entre as pessoas. Ambos assumiram que seria possível acabar com as diferenças de classe, e disparidades econômicas, abolindo a propriedade privada dos meios de produção e estabelecendo uma sociedade comunista sem classes, baseada no princípio: “De cada um segundo sua capacidade, a cada um segundo sua necessidade (ou necessidades)”. Engels, em seu livro Origin of The Family, Private Property and the State, explica as origens da propriedade privada, mas sem fornecer qualquer explicação para a distribuição desigual da propriedade privada. Porém, ainda que a teoria marxista venha sendo testada extensivamente, todas as tentativas de estabelecer sociedades comunistas têm fracassado. Alguns teóricos contemporâneos entendem que a teoria marxista fracassou porque contradiz o princípio básico da teoria da evolução, de acordo com o qual, a diversidade genética dos indivíduos e a raridade dos meios de subsistência tornem a luta pela existência inevitável e permanente em todas as espécies. Conseqüentemente tem sido impossível concretizar a utopia comunista em qualquer lugar do mundo.

            Estas análises clássicas focalizaram alguns aspectos do problema das disparidades nas condições humanas, as quais, tal qual sinalizou Aristóteles, têm, ainda hoje, sua significância político-econômica assim como o teve na Antiguidade. Retomá-las neste contexto teve por intuito mostrar que, os atuais teóricos, preocupados com esta questão, não devem se omitir de analisar o poder das competências cognitivas (inteligências) como variáveis explicativas de tais disparidades. No próximo texto, trataremos das teorias explicativas destas.

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