
Elite cognitiva 22: inteligência e desigualdade social
Para grande número de pessoas, noções de inteligência e desigualdade são profanas. Já para outros, a premissa “todos os homens são iguais”, longe de significar que todos os indivíduos nascem, com as mesmas liberdades e direitos políticos inalienáveis, assume, sim, que todos nascem com potenciais naturais iguais e, qualquer coisa contrária a isso, não apenas, antidemocrático, mas uma ameaça às liberdades políticas. Particularmente, democracias parecem sentir-se ameaçadas por variações biologicamente embasadas em inteligência geral, com grupos humanos sempre buscando se acomodar à diversidade natural de seus membros. Todavia, nações modernas, de longe mais amplas e anônimas que sociedades passadas, apresentam relações entre membros e nichos sociais mais burocratizados, e regularizados, por arranjos culturais. Exemplos são escolas, ambientes de trabalhos e estratos governamentais. Nações progressivamente se esforçam para medir, monitorar e manipular tais relações, bem como, irregularidades por elas produzidas nos resultados de vida. Em face disso, enfrentam duas questões fundamentais. Uma, empírica: por quê a desigualdade é tão duradora e persistente? Outra, política: como poderia uma sociedade reagir a ela? Em verdade, ambas questões podem ser sumariadas numa só: Por quê a desigualdade socioeconômica é tão entrelaçada com a diversidade cognitiva da população?
Debates acerca desta questão são antigos. Pensadores de diferentes domínios e saberes tentaram oferecer respostas satisfatórias. Mas, enquanto pensavam e debatiam, desigualdades progressivamente aumentavam e continuavam aumentando. Com alguns afirmando que elas nunca desaparecerão pelo fato de fazerem parte da natureza humana, debates filosóficos sobre a relação natural homem e sociedade podem ajudar a reflexão sobre a questão. Em 1746, em seu “Discourse on the Origin and Foundations of Inequality among Men”, Rousseau argüiu que instituições civis magnificavam quaisquer diferenças entre indivíduos. Por outro lado, Huxley argüia o oposto em seus ensaios de 1871 e 1890, “Administrative nihilism”! e “On the natural inequality of men”, indicando que instituições civis funcionavam para nivelar as desigualdades humanas preexistentes. Porém, interessante notar que ambos aceitavam a idéia de que humanos nascem desiguais, quando discordavam sobre se instituições exageram ou minimizam diferenças sociais naturais. Em que ambos acreditavam? Que diferenças sociais são injustas, devendo ser minimizadas, se não erradicadas. Diferenças? Diferiam em considerar se as instituições eram imorais ou eram moralmente responsáveis pelas diferenças humanas naturais. Rousseau acreditava que instituições civis criavam diferenças sociais injustas. Huxley acreditava que tais instituições minimizavam-nas.
Este debate ajuda-nos a enquadrar o papel da diversidade cognitiva dentro das sociedades modernas. Primeiramente, aponta-nos para instituições sociais como reações organizadas às diferenças naturais dentro das populações, que exageram ou minimizam diferenças. Em seguida, incorporando a implícita suposição de que desigualdade é, ela própria, injusta, ilustra o porquê de pesquisas empíricas, acerca do que criam e sustentam, serem tão tensas e politicamente carregadas. A ampla e comum antipatia às evidências do real, bem como, à importância e durabilidade das diferenças de inteligência, podem refletir, exatamente, tal reação às diferenças naturais e suas conseqüências sociais.
Similar à variação na altura humana, a diversidade cognitiva é um fato da natureza. Cada população exibe sua amplitude de inteligência geral e a forma previsível, igual à forma de um sino, em que a maioria das pessoas se junta ao redor da média do grupo. Até onde conhecemos, variação na inteligência fenotípica é, razoavelmente, estável ao longo do tempo para a mesma população genotípica. Não obstante, diferenças genéticas numa população criam dilemas para sociedades democráticas. Desigualdade social é inevitável quando membros de uma sociedade variam num traço geneticamente condicionado, tal como a inteligência, que é, altamente, útil e, portanto, capaz de conferir vantagem competitiva e recompensas sociais. A rigor, oportunidades iguais para usar os talentos naturais garantirão resultados desiguais. Mesmo a mera sugestão de inteligência poder ser enriquecida, e melhorada, principalmente, nos primeiros anos de vida, e que depois é impossível alterá-la para melhor, ofende sensibilidades democráticas devido ao forte comprometimento com a igualdade social dos regimes democráticos. Este sentido de ofensa pode ser observado especialmente nos círculos educacionais, os quais têm, algumas vezes, “balançados” a bandeira da “igualdade” para expressar a crença de que excelência educacional e igualdade de resultados são objetivos mutuamente reforçadores e nunca conflitantes.
Embora democracias não possam eliminar desigualdade das condições humanas, podem, entretanto, encontrar meios melhores, e mais apropriados, para modulá-la. Apontar que diversidade cognitiva contribui para seu dilema não sinaliza que inteligência é “totalmente importante”, ou que poderia ser. Todavia, quanto mais importante desigualdade econômica for para nós, tanto mais nos cabem entender suas raízes na diversidade biológica humana e inteligência, em particular.