
As eminências
Em
1926, Catharine Cox, um membro da equipe do renomado psicólogo norte-americano,
Lewis Terman, criador e divulgador do teste de inteligência Stanford-Binet, o
mais utilizado no mundo para aferir as habilidades humanas, empreendeu a
notável e complexa tarefa que alguns achavam praticamente impossível, de
estimar o Quociente Intelectual (QI) dos grandes personagens da história da
humanidade. Sua hipótese era de que se confirmasse que esses personagens
históricos se situam na camada mais elevada da distribuição populacional da escala
universal de inteligência, então se poderia corroborar que o QI constitui uma
capacidade mental básica extremamente funcional no mundo cotidiano. Em outras
palavras, foram famosos e produtivos porque foram, sobretudo, inteligentes.
O
estudo compilou uma lista de mil personagens, baseando-se na extensão que lhes
era dedicada nos dicionários biográficos e enciclopédias mais importantes.
Depois de comprovar a informação disponível, a lista foi reduzida para 282
personagens. Em seguida, esses personagens foram exaustivamente analisados,
assinalando a cada um duas pontuações de QI: uma correspondente à primeira
parte da vida (do nascimento até aos 17 anos) e a outra dos 18 nos em diante.
Cada personagem recebeu inicialmente um escore de 100, a pontuação
correspondente à média da população. Posteriormente, adicionavam-se pontos
segundo a informação disponível acerca de seus feitos, prestando especial
atenção às demonstrações de precocidade. Estes dois conjuntos de escores foram
então submetidos a uma formula de correção para ajustar os dados quanto à
fidedignidade, produzindo dois outros conjuntos de pontuações. As correlações
entre estes quatro conjuntos de escores variaram de 0,70 a 0,86 (a correlação máxima
é 1,0), indicando que eles mediam o mesmo constructo. Conseqüentemente, foi
calculada a média dos quatro conjuntos para produzir uma simples pontuação para
cada personagem histórico.
Assim considerando, Cox aplicou uma abordagem historiométrica para obter
estimativas de QI para eminentes criadores e líderes da moderna civilização
ocidental. Em particular, ela examinou informação biográfica de um de seus
ídolos, Francis Galton, um menino prodígio, genial e criativo. No fim de seu
primeiro ano de vida, ele conhecia as letras maiúsculas, e 6 meses depois
conhecia todo o alfabeto com letras maiúsculas e minúsculas; ele podia ler com
dois anos e meio; lia qualquer livro em inglês antes dos 5 anos (o que estava eu
fazendo nesta mesma idade?). Em geral, Galton estava fazendo coisas que a
maioria das crianças não consegue fazer até ter o dobro de sua idade. Ele,
realmente, era um menino brilhante e se tornou um dos cientistas mais
produtivos e criativos de sua geração.
Além de estimar o QI destes personagens históricos, Cox pontuou e
ordenou a eminência que cada personagem tinha realizado. O nível de eminência
foi baseado na quantidade de espaço devotado a cada figura histórica em função
dos trabalhos realizados descritos em referências padronizadas. A correlação
entre as estimativas de QI e os níveis de eminência foi 0,25, a qual foi
posteriormente replicada em vários outros estudos historiométricos, e a mesma
parece se manter para diferentes grupos especializados, tais como, presidentes
norte-americanos, monarcas europeus, líderes religiosos, escritores, artistas,
compositores, cientistas e comandantes militares, entre outros.
O
quociente intelectual de Sir Francis Galton foi estimado em 200, o de John
Stuart Mill em 190, o de Goethe e Leibniz em 185, o de Pascal em 180, o de
Voltaire em 170, o de Mozart em 150, o de Galileu em 145, o de Kepler em 140, o
de Newton em 135, os de Kant, Napoleão e Darwin 130 e os de Cervantes e
Copérnico em 105. Interessante notar que, usando estes mesmos critérios,
estimei o QI de Santos Dumont em, aproximadamente, 148.
O
QI médio dos 282 personagens analisados por Cox foi 155, mas muitos
apresentavam QI por volta de 175 e vários outros acima de 200. Não obstante,
estas estimativas devem ser consideradas como aproximativas e entendidas como
mera curiosidade. Não devemos concluir apressadamente que os grandes
personagens da história são os representantes mais inteligentes da história. É
muito provável que uma alta inteligência seja um requisito para se tornar um
grande personagem da humanidade, devido aos feitos exigidos para entrar neste
panteão de reconhecimento universal, mas uma alta inteligência não garante a
realização de grandes feitos valorizados socialmente. Você acredita?