
Enem e o QI nacional: por que omitir esta relação?
No mundo atual encontramos
enormes diferenças entre pessoas e países quando consideramos a riqueza,
estruturas sociais e políticas e muitos traços “culturais”. Diferenças
similares são observadas quando consideramos também os níveis escolares,
pontuações escolásticas e o acesso de diferentes pessoas às principais
universidades, mesmo se as mesmas vivam num mesmo país. De acordo com uma
abordagem reducionista, muito destas diferenças resultam de diferenças nos
traços de personalidade e nas habilidades cognitivas entre as pessoas.
De fato, inúmeros estudos têm demonstrado
que a inteligência parece variar, não só entre as pessoas, mas também que o
nível médio de inteligência varia substancialmente entre as nações. QI nacional
médio tem sido encontrado estar intimamente correlacionado com a riqueza
nacional, crescimento econômico, medidas de educação e sistemas de valores
culturais. Amplamente considerada, parece que inteligência é um grande componente
do “desenvolvimento humano”, e um determinante de muitas diferenças culturais e
econômicas entre as pessoas e entre as nações.
Há relações substanciais entre o nível do
QI individual com as séries escolares e com o desempenho nas avaliações
escolásticas. Em vários estudos em diferentes nações, a correlação do QI com
estes resultados educacionais variam, tipicamente, entre 0,5 e 0,7, e algumas
vezes, alcança valores tão alto quanto 0,80. Portanto, as mesmas relações
poderiam ser encontradas quando consideramos diferentes escolas, diferentes
estados e diferentes nações. Em outras palavras, se vale para indivíduos deve
valer também para agregados de indivíduos.
Especificamente, estudos têm
invariavelmente demonstrado que o QI nacional médio é altamente correlacionado
com os resultados das avaliações internacionais dos estudantes, tais como, PISA
e TIMSS, em matemática, leitura, escrita e ciência, bem como, com outros domínios
baseados ou não nos currículos. As correlações registradas dos escores escolásticos
médios com QI são tão altas quanto 0,919 (N=67 países) e, com dados mais
recentes, 0,917 (N=86 países). Estes resultados sugerem que QI e desempenho
escolar são indicadores alternativos para a inteligência alternativa média num
país. Em termos econômicos, ambos, são medidas do “capital humano” ou, do
“capital cognitivo”, de uma nação. Interessante notar que desempenhos escolares
são atualmente disponíveis para 111 países. Oitenta e sete nações têm dados
tanto para os desempenhos escolares quanto para QI (s), e 160 países têm QI(s)
ou avaliação escolar ou ambos.
Considerando estas robustas correlações e
analisando os resultados publicados das avaliações do ENEM, podemos realizar
várias outras análises e depreender várias conclusões, e muitas delas
intensamente doloridas. Uma delas é converter os escores do ENEM em notas QI,
com média 100 e desvio-padrão 15. A conclusão é que a maioria dos concluintes
do ensino médio tem QI abaixo da média. Um grande número de escolas possui uma
grande parcela de estudantes com QI muito abaixo da média. À primeira vista
poder-se-ia pensar que estou exagerando. Não. Vejam que, na “Matriz de
Referência para o ENEM 2009”, publicada pelo Ministério da Educação – Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), as
definições dos eixos cognitivos e as competências esperadas para as grandes
áreas são muito similares às definições que, usualmente, encontramos para as
diferentes formas de inteligência fluída e cristalizada, para não dizer diferentes
tipos de inteligências múltiplas como alguns mais apreciam. Não há
essencialmente grandes diferenças, portanto. Basta ler atentamente cada uma
delas e comparar com as definições de inteligência(s). Tecnicamente, QI e
desempenhos escolares (como definidos pelo INEP), são suficientemente similares
para serem medidas alternativas do mesmo constructo, ou seja, inteligência.
A teoria é que atividades produzindo
riquezas, tais como, empreender negócios, delinear edificações, tratar doenças
e inovar são feitas mais eficientemente por pessoas com maior inteligência
geral. O que podemos esperar dos jovens desta nação em face da robustez destes
dados e que são, invariavelmente, replicados em praticamente todas as nossas
avaliações escolares? Podemos fazer alguma
coisa? Certamente que sim, mas tudo passa na melhoria das habilidades
cognitivas dos nossos estudantes.
A mais importante implicação desta relação
causal (postulada) é que, as condições econômicas atuais das nações
economicamente menos desenvolvidas podem ser melhoradas aumentando, dentro dos
limites que a biologia nos impõe, as habilidades cognitivas da população,
principalmente, de nossos escolares. Vamos, portanto, fomentar a inteligência
das nossas crianças em especial nos primeiros anos de vida. Vamos estabelecer
uma agenda de fomento das habilidades cognitivas, principalmente, das
habilidades cognitivas verbal/lingüística, espacial e lógico/matemática.