
Escola, Educação e Inteligência (5)
Outra maneira de analisar o peso, ou a quantidade, de variância associada com as diferenças nas escolas tem sido analisar a porcentagem da variância devido a variáveis como série escolar, atributos da direção, o local da escola, a natureza da escola, a formação dos professores, as características do alunos, bem como, combinações entre essas variáveis. O propósito principal deste tipo de análise é determinar a contribuição direta dos efeitos dos professores, diretores e a própria natureza da escola sobre o desempenho acadêmico dos estudantes. Dito de outra forma, qual dessas variáveis explica mais a variabilidade nos escores acadêmicos. Vamos a alguns resultados principais.
Foi mostrado que os diretores contribuem apenas com 0,3% para o desempenho acadêmico dos estudantes. Os professores são associados a 3% desse desempenho. No total, todos os fatores associados com escolas explicam 9,2% do desempenho acadêmico dos estudantes. Aquelas características não associadas com a escola explicam 90,8% das diferenças nas notas dos estudantes.
Observou-se, também, em outros estudos, que a variável professores explica aproximadamente 1/3 da variância no desempenho acadêmico atribuível a escolas, e eles têm dez vezes mais influência do que os diretores. É verdade que os professores podem ter influência mais elevada no desempenho acadêmico que qualquer outro componente da escola apenas quando as características dos estudantes são ignoradas. Por exemplo, num grande estudo realizado nos Estados da Flórida e Carolina do Norte (EUA), a variância total associada com as escolas foi 9,6%, mas os professores explicavam 6,7% desse total. Em outras palavras, os professores, neste caso específico, explicavam 70% da variância total da escola no desempenho acadêmico.
É obvio, assim, que por ocasião de se avaliar a variância escola, o foco das políticas públicas centra-se essencialmente sobre os professores, os quais são provavelmente os grandes contribuidores para o desempenho acadêmico para as escolas. Ampla revisão da literatura tem claramente revelado que as escolas explicam, aproximadamente, 10% da variância total do desempenho acadêmico, com os professores, dentro das escolas, explicando de 1 a 8 % desse mesmo desempenho, ou de 10 a 80% da contribuição das escolas para o desempenho acadêmico.
Ainda que os professores possuam poderosos efeitos sobre o desempenho acadêmico somente quando os efeitos das escolas são considerados juntos, eles têm efeitos fraquíssimos quando todas as fontes afetando desempenho acadêmico são consideradas. O que se conclui desses dados quando os mesmos são tomados em conjunto? Para nós é evidente ser totalmente inapropriado culpar os professores por todos os problemas do sistema sócio-educacional.
A verdade é que todos esses dados, juntos, ao serem multiplicados pela pequena proporção do efeito dessa variança no desempenho educacional alcançado pelos professores, nos sugerem que é pouco provável que os professores possam revolucionar a educação num futuro próximo. Entendemos que, se o sistema educacional de fato precisa mudar, deveríamos investir esforços em entender os 90% da variância associada com estudantes. Talvez aqui esteja o ingrediente ativo da variável capaz de mudar o sistema educacional brasileiro. Até que isso ocorra, poucas deverão ser as mudanças na educação e nos desempenhos alcançados.