
Escolares e seus celulares
A
influência dos celulares no caminhar seguro de pedestres escolares tornou-se preocupante
devido ao fato de tais aparelhos, antes apenas privilégio de alguns, ter se
tornado um bem de consumo de fácil aquisição por aqueles, num ano em que,
aproximadamente, 55% de jovens, entre 8 e 12 anos, encontrarem-se vulneráveis a
todos os “problemas” que eles causam, bem como, podem vir a causar. A principal
razão para se preocupar com o uso de celulares por escolares é a exposição a
acidentes que eles, a estes, submetem, quando utilizados ao atravessar ruas,
atividade cognitiva já altamente complexa, concorrendo com a atenção perceptual
e motora do escolar, e dificultando-a. Estudiosos do assunto defendem a idéia de
que estes escolares não têm ainda desenvolvidas as habilidades perceptuais e
cognitivas necessárias para, simultaneamente, perceber e processar distância,
velocidade e padrões de aceleração de, pelo menos, dois veículos, assim como, a
largura de um lado ao outro da rua e a velocidade de que necessitariam para
cobrir tal largura.
Partindo destas suposições,
pesquisadores hipotetizaram que os pré-escolares comportar-se-iam de maneira
mais arriscada quando cruzando ruas, envolvidos em conversação telefônica, do
que quando atentivos, sem uso celular. Para investigar, experimentalmente, tal
hipótese, quatro indicadores de cruzar uma rua em segurança foram analisados:
(1º) tempo inicial do cruzar a largura da rua, (2º) tempo requerido para cruzar
toda a largura da rua em total segurança, (3º) esbarramento e advertência
sonora e (4°) atenção ao tráfego, com olhadelas à direita e à esquerda antes de
cruzar a largura da rua.
Os resultados sugerem que celulares
distraem escolares enquanto cruzando ruas, pois, em todos os quatro
indicadores, estes tenderam se comportar de maneira mais arriscada enquanto
falando ao telefone, do que quando não falando. Há, também, indicação de que escolares
mais jovens tenham, de algum modo, taxas mais altas de distração do que as crianças
mais velhas. Ademais, é importante reconhecer que o comportamento de um
pedestre é multifacetado, ou seja, um caminhar seguro envolve um conjunto de
tarefas motoras, perceptuais e cognitivas, as quais foram, substancialmente,
alteradas pela distração provocada pelo celular, com a aprendizagem e
experiência no uso do celular não diminuindo tais riscos. Tal padrão de
resultados sugere que, assim como ocorre com os motoristas em geral, que devem
limitar o uso do celular, enquanto dirigindo, os pedestres, especialmente os
escolares, devem limitar o uso do telefone celular enquanto cruzando ruas.
Focalizando excessivamente
adolescentes como potenciais consumidores de suas tecnologias, as companhias de
marketing deveriam ser orientadas a incluir, em seus manuais, modos do “uso
seguro” do celular. Eis um bom mote para a Transerp.