As escolas não têm mudado... o mundo tem

As escolas não têm mudado... o mundo tem

         Tempos atrás, visitando algumas escolas de ensino fundamental e médio, e adentrando, aleatoriamente, em algumas classes, constatei alguns fatos reveladores. Vamos a eles. Numa aula de matemática, estudantes estavam resolvendo exercícios para correção no dia seguinte enquanto o professor, em sua mesa, corrigia provas. Em outra aula, agora de português, os alunos liam Machado de Assis e, ao serem questionados sobre a leitura, um deles me respondeu que o trabalho mais longo que conseguira escrever sobre tal autor somara duas páginas. Ao que retruquei, “E o mais longo de todos, para além de duas páginas quando foi?”. Ele, prontamente: “No último ano, tive que fazer um resumo de cinco páginas, na recuperação”. Por sua vez, em outra classe, numa aula de História Geral, perguntei o que os alunos sabiam acerca da personagem histórica John Kennedy. O silêncio foi sepulcral. Numa aula de Ciências, observei que os alunos faziam uma prova de eletricidade e magnetismo. Solicitei uma cópia do teste e verifiquei que todas as questões eram de múltipla escolha. Na sequência, a caminho do meu laboratório na universidade, fiz, a mim mesmo, duas questões: 1ª) Qual a diferença entre o que vi nesta escola e o que vi naquela em que, há mais de 50 anos, eu estudei?; 2ª) Será que os estudantes estão sendo adequadamente preparados para a vida e para o ambiente de trabalho de hoje?

            Frequentemente, ouço de colegas, professores, educadores e políticos, baseados na sabedoria atual, que as escolas de hoje estão fracassando. Entretanto, o que, de fato, eu vejo, não é muito diferente do que vi 50 anos atrás, ou mesmo, do que experenciei há 40 anos, por ocasião do meu início na carreira acadêmica: nada melhor, nem nada pior. Exatamente mais testes e mais ensino dos testes. No mundo de hoje, globalmente competitivo, numa economia de conhecimento, será que as habilidades necessárias para seguir uma carreira, adentrar nas universidades e tornarem-se cidadãos estão sendo fornecidas a todos os estudantes? Entendo que não. O fracasso em ministrar aos estudantes as novas habilidades, demandadas no novo século, deixa os jovens estudantes, e, por consequência, o país, numa grande desvantagem competitiva. As escolas nada mudaram... a despeito de o mundo ter se revolucionado. Portanto, nossas escolas não estão fracassando, mas, sim, estão obsoletas, mesmo aquelas que têm pontuado bem em testes padronizados.

            O que existe é uma grande lacuna global entre o que é ensinado, atualmente, nas escolas e o que é demandado no mundo contemporâneo. Para mim, trabalho, aprendizagem e cidadania no século XXI demandam duas grandes, e fundamentais, habilidades: “Como pensar?”, habilidade que envolve raciocinar, analisar, ponderar evidências e solucionar problemas, e, “Como comunicar-se efetivamente?”, habilidade que envolve usar eficientemente as linguagens escrita e oral para transmitir claramente conceitos, ideias e ações entre indivíduos e equipes. Estas não são mais as habilidades que apenas as elites, numa sociedade, devem dominar. Tornaram-se essenciais à sobrevivência de todos nós.

            Assim considerando, pensar sobre fatos científicos, formular hipóteses, testar, analisar resultados, pensar sobre números, bem como, comunicar-se efetivamente, ter curiosidade pela descoberta e exercitar o pensamento crítico são competências e hábitos essenciais da mente para a vida do século XXI. Por isso, nossas escolas precisam mudar. Antes que elas se tornem desnecessárias.

Compartilhar: