Estilos de comportamento ao dirigir

Estilos de comportamento ao dirigir

        A Psicologia do Trânsito é um ramo da Psicologia que investiga, analisa e estuda os comportamentos humanos de deslocamentos individuais ou coletivos (motorizados ou não), em função de um conjunto de normas, regras, leis ou convenções que visam a assegurar a segurança e a integridade daqueles que se locomovem tanto em ambiente natural quanto em ambiente construído.

            Para alcançar seus objetivos, a Psicologia do Trânsito entende que este é composto pela interação entre três grandes subsistemas, a saber, o homem, a via e o veículo e que uma locomoção segura, e organizada, envolve três fatores principais, que são engenharia, educação e policiamento / legislação. Não obstante, a despeito da grande preocupação da dinâmica com o trânsito, ainda não foi possível encontrar meios extremamente eficientes para reduzir o número de acidentes fatais nas vias, talvez porque pouco ainda conhecemos sobre o homem, fator de maior importância e o mais complexo dos três fatores que fazem parte do sistema de trânsito.

            Talvez o homem, com suas múltiplas dimensões sensoriais, motivacionais, emocionais e de personalidade, seja, realmente, o maior responsável pelas diferentes causas dos acidentes de trânsito, uma vez que estes, provocados por fatores humanos, têm aumentado tão rapidamente, e de tal forma, que, em muitas nações, mesmo nas mais desenvolvidas, eles se tornaram mais graves do que as doenças que, historicamente, mais intensamente afetam a população.

            Considerando isso, que uma elevada parcela dos acidentes de trânsito é provocada, comprovadamente, por fatores humanos, entre eles, características de personalidade do motorista, realizamos um estudo em colaboração com o mestrando Luiz Carlos Paiva e Silva, na Universidade de São Paulo, Câmpus de Ribeirão Preto, em que foram analisados estilos de comportamento ao dirigir de 500 motoristas da cidade de Ribeirão Preto, cujos perfis podem espelhar os comportamentos dos motoristas habilitados a dirigir em todo território nacional.

            Tal estudo nos permitiu decompor 8 tipos de estilos de condutores, alguns dos quais podendo ser perigosos e responsáveis pelos 90% dos acidentes de trânsito provocados por falha humana. Os estilos identificados foram: 1º) senso-emocional - aprecia a sensação de dirigir perigosamente, no limite do veículo. Para ele vale tudo para escapar de um engarrafamento, desde rodar pelo acostamento até subir na calçada. Fica nervoso se a fila ao lado está seguindo mais rápido que a sua e fecha os demais carros para mudar de faixa; 2º) perigoso - gosta de infringir a lei, da emoção de flertar com a morte e o desastre. Costuma avançar o sinal vermelho, não diminuindo a velocidade nem em caso de mau tempo e subestimando a velocidade de outros veículos que se aproximam do cruzamento; 3º) negligente - não costuma planejas as próprias rotas, motivo pelo qual fica preso no trânsito e tende a perder o foco e refletir sobre outra coisa enquanto dirige, tomando decisões erradas que atrapalham o fluxo de veículos; 4º) desatento - vive no mundo da lua, não prestando atenção sequer numa saída de semáforo, por exemplo, na qual coloca a marcha errada. Costuma se esquecer de por o cinto de segurança, não percebendo que a porta está aberta e ligando o limpador de pára-brisa no lugar dos faróis. Às vezes, confunde freio com acelerador; 5º) agressivo - costuma xingar os demais motoristas. Quando o semáforo fica verde, e o motorista da frente não parte imediatamente, fica nervoso, colando seu veículo na traseira deste e jogando farol alto para ofuscar os demais motoristas. Não respeitando o limite de velocidade, tenta impedir outros condutores de mudar de faixa.; 6º) o estressado - quase sempre fica nervoso por ter que dirigir. Sente-se perturbado, desconfortável e frustrado, acreditando que não tem o domínio completo do veículo. Acaba ignorando a sinalização da via e desrespeitando semáforos no vermelho. Comete erros grosseiros por estar nervoso; 7º) o preventivo - são motoristas que acham melhor prevenir do que remediar, motivo pelo qual costumam planejar com antecedência as longas viagens. Dirigem cuidadosamente e com cautela, evitando freadas bruscas e prestando atenção no que os outros motoristas estão fazendo para se antecipar a eles. Dão a preferência em cruzamentos; 8º) o tranquilo - costumam realizar outras atividades enquanto dirigem, como, por exemplo, ler o jornal, revisar algum relatório ou usar técnicas de relaxamento enquanto dirigindo.

            Conhecer tais dados, portanto, pode auxiliar na formação dos condutores e, principalmente, no entendimento dos comportamentos e atitudes destes em relação à obediência das normas, regras e leis do trânsito, uma vez que os mesmos nos permitem entender tanto as diferenças entre os motoristas quanto as diferenças entre grupos de motoristas. Um exemplo? Jovens de 18 a 24 anos, que compõem a maioria dos motoristas no estilo senso-emocional, submetidos à aferição, ou testes mais rigorosos, de direção defensiva, como, por exemplo, o teste de percepção de perigo (hazard perception test), antes de receberem a carteira nacional de habilitação. Neste teste, a simulação de diferentes cenários de trânsito, requerendo respostas sensoriais, motoras, perceptuais, cognitivas, tempo de reação e, até mesmo, julgamentos e tomadas de decisão ficam prejudicadas pelo nervosismo por eles apresentado.

           Através deles torna-se possível a adoção de medidas preventivas mais eficientes e mais econômicas. Afinal, os acidentes de trânsito custam bastante para a economia nacional brasileira, quiçá para a integridade emocional das famílias dos que neles se envolvem. Dúvidas? Basta ver as estatísticas e os depoimentos dos familiares.

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