Existe homologia entre sensações dolorosas e descritores de dor?

Existe homologia entre sensações dolorosas e descritores de dor?

            A sensação de dor pode ser descrita, em essência, por quatro atributos: localização, duração, intensidade e qualidade. A localização, a duração e a intensidade da experiência de dor, embora não facilmente mensuráveis, são, pelo menos, conceitualmente aceitas pelos clínicos. Porém, no contexto da “qualidade” de dor, não parece haver concordância similar para a definição e, tampouco, para os métodos de mensurá-la. Em muitos contextos clínicos de pesquisa, dor é mensurada ao longo de uma única, ou, em, pelo menos, duas dimensões: magnitude sensorial e afetiva. Estas, embora distintas, podem ser altamente correlacionadas. Mas, muitos consideram dor um fenômeno extremamente complexo para ser capturado por, apenas, duas dimensões. Isto é, acreditam que a experiência de dor é, inerentemente, multidimensional, na qual, dor é percebida como variando, simultaneamente, em intensidade ao longo de várias diferentes dimensões, aqui incluindo emoções, cognições, comportamentos e respostas fisiológicas. Mas há uma homologia entre as experiências dolorosas e os descritores que, cotidianamente, utilizamos para descrevê-las?

            Experimentalmente, pesquisadores têm utilizado a técnica de escalonamento multidimensional para examinar a similaridade entre estímulos eletrocutâneos dolorosos e descritores que a estes descrevem. A hipótese principal foi a de que, se os dois tipos de objetos-estímulos (físicos e descritores verbais) são homólogos, esperar-se-ia que os estímulos físicos e verbais, com o mesmo significado, fossem escalonados com valores similares, ao longo de uma única dimensão. Para isso, observadores estimaram a similaridade de todos os pares compostos por 16 estímulos, sendo 8 estímulos eletrocutâneos, variando na intensidade de 3 a 235 mW, e oito descritores verbais, para cada estímulo registrado. Este últimos foram, então, divididos em 4 descritores de intensidade, a saber, sensação leve, sensação moderada, dor fraca e dor severa, bem como, em quatro descritores afetivos, a saber, confortável, perturbadora, formigamento e pulsando.

            Os resultados, globalmente, revelaram que os observadores basearam seus julgamentos na dimensão, única, de intensidade, desconsiderando se os estímulos eram palavras ou choques eletrocutâneos. Portanto, os dados mostraram que há homologia entre estímulos elétricos dolorosos e descritores verbais de dor, bem como, para validar os registros de dor clínica destes mesmos pacientes, na qual o estímulo interno jamais pode ser precisamente conhecido. Embora muitos clínicos duvidem de descritores de dor, a ciência revela que as palavras parecem ser homólogas, ou seja, emparelhadas e correspondentes, às experiências de dor que são relatadas.

 

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