Falácias dos ignorantes

Falácias dos ignorantes

           Quando somos educados para nos basear somente em processos somente de memorização, em lugar de utilizar o pensamento crítico, tornamo-nos mais susceptíveis a cometer uma variedade de falácias embutidas, especialmente as falácias de relevância. Estas são cometidas quando premissas e argumentos não sustentam conclusões, isto é, quando a conclusão é irrelevante à linha de raciocínio que até ela nos conduziu. Argumentos deste tipo são referidos pelos nomes latinos non sequiturs (da frase latina significando “não implica que”) e ignoratio elenchi (da frase latina significando “conclusão irrelevante”).

            Observando o leitor os debates entre os presidenciáveis e governadores, bem como, as acusações veiculadas na mídia, entre os candidatos e correligionários dos diferentes partidos, nos programas político-partidários, se o mesmo for crítico, observará muitas dessas falácias de relevância, algumas das quais iremos descrever sumariamente.

            Argumentos Ad Hominem – inferências do tipo ad hominem (contra a pessoa) tentam desacreditar uma afirmação atacando seus proponentes em lugar de fornecer um exame racional da própria afirmação. Consideremos quatro tipos: (1) argumentos abusivos ad hominem: atacam as características individuais da pessoa, tais como, idade, caráter, família, sexo, etnia, aparência, status socioeconômico, profissão ou crenças político-religiosas. Implicam que não há razão para considerar uma pessoa seriamente, pois o argumento é mais contra a pessoa do que contra a posição desta sobre um dado tema; (2) associação de argumentos, também conhecida como “envenenando os bons argumentos”: tentam repudiar a afirmação atacando o grupo com quem ele se relaciona e não o argumentador (ou duvidando da reputação daqueles com os quais o argumentador compartilha opiniões); (3) tu quoque (significando “você também”): construídos para refutar a afirmação atacando o argumentador, tendo por base que este mostra conduta questionável. O argumento, neste caso, tentando mostrar que o comportamento da pessoa que fez a afirmação é hipocrítico ou que demonstra padrão duplo; e (4) argumentos revestidos de interesse: que tentam questionar a afirmação sugerindo que seus proponentes são motivados pelo desejo de tomar vantagem de uma situação (a famosa “lei de Gérson”).

            Argumentos informais substitutos – argumentos que tentam refutam uma afirmação substituindo-a por outra, menos plausível, atacando a afirmação mais frágil ao invés de lidar com a afirmação original. Aspecto interessante deste argumento é que ele pode conter boas razões contra a afirmação mais frágil, mas, estas razões sendo irrelevantes à afirmação original.

            Argumentos Ad Baculum – argumentos de apelo, que forçam situações, para tentar estabelecer uma conclusão pela ameaça ou intimidação. O argumentador é convencido ou persuadido pela força e não pela razão.

            Argumentos Verencundiam – argumentos de apelo à autoridades, que ocorrem quando aceitamos, ou rejeitamos, uma afirmação devido, meramente, ao prestígio, status ou respeito que temos pelos seus proponentes ou oponentes. O padrão da falácia de apelo à autoridade é arguir que uma afirmação é verdadeira porque uma autoridade X suporta tal afirmação. Um argumento que apela à autoridade é uma falácia, qualquer que seja a autoridade que não tenha condições de dar evidências empíricas sobre o assunto. É preciso, e muito importante, neste caso, notar que a falácia não está no apelo à autoridade, mas em apelar à autoridade que não é credível para um argumento particular.

            Argumentos Ad Populum – argumentos que apelam à popularidade ocorrem quando inferimos uma conclusão baseando-se, meramente, no fato de pessoas aceitá-los. O raciocínio por trás dos mesmos sendo “se todos pensam deste modo, ele deve ser correto”. A essência dessa falácia repousa em nossa necessidade de conformismo junto às concepções e conclusões populares.

            Argumentos derivados da ignorância – cometidos quando se argumenta que alguma coisa é verdadeira simplesmente porque ela não se provou falsa, ou quando é falsa por não ter se provado verdadeira. Além disso, a falácia de apelo à ignorância podendo ser salientada quando o mesmo argumento é usado para suportar duas diferentes conclusões. Por exemplo: nós não podemos provar que fantasmas não existem, nem seu contrário; portanto, esta falta de conhecimento podendo ser usada nos argumentos daqueles que acreditam, ou não acreditam em fantasmas.

            Portanto, assistir cuidadosamente a programas políticos, a novelas bem-sucedidas, a revistas muito “prestigiosas”, que falam, todos eles, de tudo, não dizendo nada, é um convite ao exercício do pensamento crítico. Por quê? Porque muitas pessoas, embora possam conhecer muito, e amplamente, podem pensar pobremente apesar do conhecimento que têm. Sejamos mais inteligentemente críticos. Chega, ribeirão-pretano, de coisas bonitas por fora, mas tão vazias e pobres por dentro.

 

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