
Felicidade: hedonomia versus economia
Um dos objetivos fundamentais da Humanidade é a busca da felicidade. Pesquisas sobre felicidade têm vindo a lume, nos últimos anos, com uma questão comumente levantada pelos pesquisadores, a saber, “Como nós podemos aumentar a felicidade?”. Embora o objetivo da maioria destas pesquisas científicas seja uma compreensão mais profunda da felicidade, mais, até, do que do desenvolvimento de prescrições para aumentá-la, a pesquisa comportamental tem implicações para esta questão popular. Neste sentido, há, pelo menos, quatro respostas de embasamento científico que tentam responder tal questão. São elas: 1ª) A inexistência de qualquer método comportamental que possa elevar, substancialmente, o bem-estar subjetivo ou felicidade. Subjacente a esta resposta encontra-se o raciocínio de que cada indivíduo é privilegiado com um ponto de equilíbrio pessoal ou de adaptação, análogo, ao peso corporal básico de si próprio. E que, manipulações ambientais, ainda que continuamente pesquisadas, não podem alterar este estado de equilíbrio. Portanto, ainda que existam perturbações momentâneas na felicidade, isto é, altos e baixos ao redor do ponto de equilíbrio, a felicidade ambiente sempre retorna ao nível padrão.
A 2ª resposta já é fomentada pelos pesquisadores que focalizam as características pessoais de um dado indivíduo, tais como, coragem, sabedoria, temperamento e empatia, bem como, por aqueles que acreditam que identificar e fomentar tais virtudes pessoais são atitudes que aumentam a felicidade de alguém. Diferentes das duas primeiras repostas, que focalizam variáveis pessoais, a 3ª e 4ª respostas focalizam as condições externas que afetam a felicidade. A 3ª resposta envolve enriquecer o número ou o nível de resultados externos desejados, tais como, renda, empregabilidade e condições de vida. Esta idéia é assumida por um grande número de pessoas em nossa sociedade, incluindo economistas, políticos e consumidores. Acreditando nesta abordagem, muitas pessoas competem por acumular bens materiais, que as torne, progressivamente, mais ricas. Entretanto, o grande problema apresentado pela mesma é que, um grande aumento de bens materiais não é correlacionado com indicadores de bem-estar subjetivo e de felicidade. A 4ª resposta origina-se da literatura vinculada aos comportamentos de tomada de decisão, buscando rever as decisões sobre resultados externos sem elevar o nível dos resultados externos per se, denominada abordagem hedonômica, a qual contrasta com a abordagem econômica, não a substituindo, mas, sim, complementando-a.
Enquanto que economia estuda como maximizar riqueza com recursos limitados, hedonomia estuda como maximizar felicidade com riqueza limitada. Observe que hedonomia não seria necessária se felicidade dependesse, apenas, do nível absoluto dos resultados externos almejados. Tampouco seria necessária se as pessoas pudessem, precisamente, predizer qual opção lhes traria maior felicidade, bem como, pudessem basear suas escolhas nestas opções. Porém, nenhuma destas condições é verdadeira. Pesquisas, invariavelmente, indicam que felicidade não depende, simplesmente, do nível absoluto dos resultados externos desejados, mas, também, de como estes resultados são apresentados e avaliados. Além disso, as tomadas de decisão exibem vieses sistemáticos que conduzem a predições e escolhas que fracassam em maximizar a felicidade.
Hedonomia também é complementar à economia em sua conceituação do que é felicidade. Quando? Quando exibe o conceito econômico tido como o mais comparável à felicidade, a saber, utilidade. Na economia moderna, utilidade é conectada às preferências entre bens, sem nenhuma referência aos sentimentos ou estados psicológicos vivenciados. Em outras palavras, utilidade funciona, estritamente, em termos de preferências comportamentais. Contrastando, em Psicologia, a definição de felicidade é “um estado de sentimento interno mensurável pelos auto-registros das experiências subjetivas, e não pelas preferências comportamentais”. Assim considerando, a análise econômica da felicidade é fundamentalmente comportamental e focalizada nas escolhas externas, enquanto que a análise psicológica é subjetiva e focalizada nos sentimentos internos.
Logo, a grande questão aberta reside na natureza da relação entre os dois enfoques, a saber, como são as medidas econômicas e utilidades relacionadas às medidas de felicidade e sentimentos subjetivos. Não obstante, economia procura enriquecer felicidade otimizando a relação entre resultados externos, escolhas e experiências. Se, com Epicuro, a Humanidade aprendeu buscar prazeres moderados, que não conduziam a sofrimentos indesejados, com a economia, aprendeu a face da felicidade de mercado, ou seja, o prazer individual que somente se plenifica por meio de sua extensão para o maior número de pessoas. É o Hedonismo mostrando sua face mercadológica no mundo moderno.