
Festschrift para o Dr. Frederico Graeff
Postado em 20 de Abril de 2014 às 13:04 na categoria Educação
Dentre cientistas brasileiros, um que faz jus ao recebimento de um “Festschrift”, palavra alemã que identifica uma publicação que homenageia determinada personalidade tanto por sua carreira acadêmica quanto pelo impacto e relevância de suas contribuições científicas, é Frederico Graeff. Graduado pela FMRP-USP, Graeff é um dos neurocientistas brasileiros que mais tem contribuído para o conhecimento da neurobiologia comportamental, especialmente da ansiedade e das desordens do pânico.
Inteligente, criativo e sábio, domina, prioriza e exercita, como poucos, o método experimental. Com rara felicidade, consegue mediar extremos como pesquisa básica e implicações clínicas. Suas contribuições em Farmacologia Comportamental, campo das interações droga-comportamento, são tão originais e inéditas que é possível considerá-lo um marco da pesquisa antes e após sua atuação. Dentre seus trabalhos, freqüentemente citados na literatura internacional, destacam-se aqueles que, sistematicamente, investigam a ligação entre a matéria cinzenta periaquedutal dorsal (MCPD) e as desordens do pânico. Nestes trabalhos, a proposta de que a serotonina (5-HT) facilita a ansiedade quando atuando na amídala, ao mesmo tempo que inibe o pânico, quando atuando na MCPD.
A serotonina, importante neurotransmissor excitatório, compõe o sistema serotonérgico, sistema este no qual alterações, como as induzidas por aprendizagem, ou processos patológicos, subjazem à plasticidade comportamental e mudanças de temperamento, resultando em comportamentos anormais e transtornos psiquiátricos. Numa “scholar review”, recentemente publicada por ele no prestigioso Neuroscience and Biobehavioral Reviews (2004), são apresentadas evidências experimentais indicando que ansiedade e pânico são diferentes emoções, não apenas em termos de suas experiências subjetivas, mas, também, de manifestações comportamentais e fisiológicas, enquanto respostas à drogas e substrato neural. Nela, ansiedade é associada com reações defensivas à ameaças potenciais, atenuada por ansiolíticos, integrada à estruturas cerebrais límbicas (amídala e hipocampo) e, também, capaz de ativar o eixo hormonal HPA (hipotálamo-pituitária-adrenal). Ao contrário, pânico é relacionado às reações de defesa, eliciadas por ameaças proximais, resistentes a ansiolíticos e integradas nas estruturas primitivas cerebrais, tais como, hipotálamo e PAG (matéria cinzenta periaquedutal) e não ativa o eixo HPA
O modelo teórico-experimental proposto por Graeff e colaboradores, revelando que a serotonina desempenha duplo papel sobre a ansiedade, facilitando-a no prosencéfalo, mas inibindo-a na MCPD, é um dos modelos mais comprovados na literatura em neurobiologia comportamental. Um múltiplo Festschrift à Graeff, portanto!