
Gênios e loucura
Criatividade, similar a
genialidade, já foi concebida como um fenômeno espiritual. Na antiguidade, ser criativo era ser divino.
Quase toda cultura tem seu mito de criação contando as realizações miraculosas
de algum poder espiritual. Ao longo do
tempo, os seres humanos foram vistos também como manifestando criatividade;
mas, mesmo assim, a fonte última da criatividade humana freqüentemente
permanece sendo a espiritual.
Uma concepção intermediária transparece na
clássica mitologia Grega das Musas. No caminhar da história, Zeus, a divindade
suprema no panteão, pai de nove filhas com Mnemosyne (a personificação da
memória). Cada uma destas filhas era responsável por um domínio separado da
criatividade humana: poesia épica ou heróica, poesia lírica ou romântica,
poesia sagrada, tragédia, comédia, música, dança, astronomia e história. Cada
Musa imortal fornecia um guia espiritual ou fonte de inspiração para o criador
mortal. Em outras palavras, cada Musa era o gênio para todos os criadores
contribuindo para o mesmo domínio.
Ao longo dos anos, este mito tem inspirado
muitas manifestações humanas cotidianas. Por exemplo, posso dizer que perco
minha musa quando perco a inspiração para escrever artigos científicos ou
livros didáticos. Até parece que minha musa abandonou-me porque tenho estado,
nos últimos tempos, pouco inspirado a escrever. No filme, de 1999, A Musa, Sharon Stone, que é
mais relembrada pelo seu profano papel na película, de 1992, Instinto Selvagem,
desempenha uma deusa que ajuda um roteirista que tinha perdido seu poder
criativo. O filme ilustra o fato de que a criatividade humana era concebida
como um dom dos deuses ou dos espíritos. Mesmo durante a renascença, esta
atribuição permaneceu. Por exemplo,
Giorgio Vasari, biógrafo do “divino” Michelangelo, declarou que “o grande
criador do universo”, especificamente, colocou o artista na terra para servir
como um exemplar do gênio artístico.
Você assistiu ao filme,de 2001, Uma Mente
Brilhante? O magistral Russell Crowe representa John Nash, um matemático genial
que sucumbe à esquizofrenia paranóide, à sua maneira, até ser laureado com o
Prêmio Nobel em Economia. No clássico Frankenstein, um cientista “louco”,
notoriamente gritou: “Ele está vivo! Ele está vivo! “quando sua criatura ultrajante ganha vida. A
fascinação de Hollywood com gênios loucos não é exclusivamente confinada ao
domínio científico. De Kirk Douglas, como van Gogh no filme Sede de Viver, de
1956, a Ed Harris, como Jackson Pollock, no filme de 2000, Pollock, a
associação entre genialidade e loucura é usualmente enfatizada. Hollywood
parece ter uma preocupação com a brilhante insanidade, propagando a imagem
popular do cientista excêntrico ou do artista atormentado.
Esta fascinação pela genialidade e loucura
também pode ser encontrada nos escritos da antiguidade. O Filósofo Grego Aristóteles
observou que, “Aqueles que se tornaram eminentes em Filosofia, Política, Poesia
e nas Artes têm, todos, tendências à melancolia”, enquanto ao Filósofo Romano
Sêneca é creditado ter dito que, “Nenhum grande gênio existiu sem algum toque de
loucura”. Na verdade, a idéia do gênio louco persistiu ao longo de toda a era
moderna e, até mesmo, foi popularizada nos círculos científicos. Não apenas o gênio
era concebido como louco, mas também, o era associado com criminalidade e
degeneração genética. Sem loucura, não há gênio! Parece que, gênio e loucura
não são gêmeos idênticos, mas são gêmeos fraternos.
O que, de fato, os dados
historiométricos, psicométricos e psiquiátricos nos dizem? Acompanhem-nos...