Gênios e loucura: dados psiquiátricos

Gênios e loucura: dados psiquiátricos

            Há uma opinião generalizada de que os gênios são loucos. Mas, pensemos: “Se são loucos, como podem ser gênios?”. Frequentemente a expressão “gênio louco” é popularizada na sociedade, de modo que se reconheça que “insanidade” pode gerar “originalidade”, ou, então, que alguma forma especial de insanidade é parte intrínseca da definição de genialidade. Uma análise psiquiátrica, baseada nos estudos historiométricos de gênios, que faleceram séculos atrás, é muito difícil. Todos sabem que o diagnóstico clínico não é uma tarefa fácil, mesmo quando o paciente, ou cliente, está sentado a nossa frente, em consultórios clínicos. Portanto, qualquer análise baseada em gênios já falecidos é, ainda que complexa, pura inferência e nada satisfatória.

            Um exemplo seria citar o compositor alemão Robert Schumann, que teve uma série, bem documentada, de crises maníaco-depressivas, bem como, uma tentativa de suicídio e internação em instituição mental. Por sua vez, o compositor russo Sergei Rachmaminoff dedicou seu Second Piano Concert a seu psiquiatra e, adicionalmente, o compositor americano George Gershwin, algumas vezes, quando em férias, levava consigo seu terapeuta. Já o pintor holandês Hieronymus Bosch é considerado psicótico, baseado nas imagens fantásticas de suas gravuras. Para estudiosos, seguramente ele era alucinado.

            Investigações deste contexto? Diversas. A primeira examinou 15 escritores, alguns dos quais grandes nomes da criatividade literária nos EUA. Contrastando escritores com sujeitos-controle similares, à exceção da criatividade literária, análises revelaram que escritores foram cinco vezes mais prováveis de serem tratados por uma desordem afetiva e três vezes mais prováveis de serem alcoólatras. Num acompanhamento posterior, conduzido anos depois, foi encontrado que 80% tiveram alguma desordem afetiva, com 30% continuando a sofrer com o alcoolismo e 10% cometendo suicídio.

            Na segunda, acompanhou-se 47 notáveis artistas e escritores na Grã-Bretanha. Aproximadamente 1/3 buscou ajuda terapêutica para uma desordem afetiva, sendo os escritores piores que os artistas e os poetas piores que todos. Neste contexto, os não-ficcionistas, como, por exemplo, os biógrafos, permaneceram no melhor estado psicológico que os outros escritores. Ainda, aproximadamente metade dos poetas necessitou de sérios tratamentos médicos em forma de medicamentos, ou mesmo, hospitalização. Uma vez mais, depressão apareceu como sintoma mais freqüente, com outras desordens afetivas, iguais à mania, em posições imediatamente anteriores.

            De acordo com ambas investigações, conclui-se que a taxa e a intensidade da psicopatologia parecem ser elevadas nos criadores supremos, permitindo-nos inferir que ambas podem: (a) correlacionar-se positivamente com a magnitude do gênio criativo e (b) parecerem ser mais inerentes nos criadores artísticos do que entre os criadores científicos. Portanto, genialidade e patologia parecem caminhar juntas dentro da mesma linhagem familiar. Mas isto é assunto para os geneticistas.

 

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