Herda-se a felicidade?

Herda-se a felicidade?

Postado em 18 de Abril de 2014 às 18:04 na categoria Felicidade

               Nas duas últimas décadas, não mais assunto exclusivo da filosofia, religião e conversações informais, o estudo neurobiológico, tem motivado o interesse de psicólogos, neurocientistas e, recentemente, geneticistas. O constructo, baseado em vivências na primeira pessoa, e comumente conceituado como apreciação subjetiva multidimensional, reflete o grau em que as pessoas pensam e sentem o quão bem suas vidas estão indo. Neste contexto, indagações do tipo “Pessoas que trabalham em suítes são mais felizes, e mais satisfeitas, do que as que trabalham em ambientes comuns?”, “Pessoas de nível socioeconômico mais elevado apreciam mais a vida que aquelas menos afluentes?”, “Os homens mais poderosos são mais felizes que as mulheres?”. Inúmeros estudos indicam que a resposta a estas questões, surpreendentemente, é “não”.

            Dados científicos sugerem que a elevada capacidade de adaptação das pessoas, tanto aos eventos ruins, quanto aos bons, não parece ter efeitos duradouros sobre os ânimos destas, a menos que sejam extremamente penosas. Contudo, algumas pessoas parecem ser mais felizes, em média, do que outras. A que se deve isso? Deve-se ao ponto de equilíbrio da felicidade, que varia de tempos em tempos, e que, aparentemente, difere de pessoa para pessoa. Como os níveis de felicidade parecem ser insensíveis às inúmeras mudanças nas circunstâncias de vida, pesquisadores têm aventado a hipótese de que influências genéticas, predominantemente, explicam tais variações individuais na felicidade.

            Estudos biométricos vêm demostrando que felicidade é fortemente afetada por genes. Escores de felicidade, mensurados numa grande amostra de gêmeos monozigóticos e dizigóticos, revelaram que algumas variáveis, como nível socioeconômico e educacional, renda familiar, estado civil, idade ou orientação religiosa, não foram capazes de explicar mais que 3% da variância destes escores. Para gêmeos criados juntos, as correlações foram 0,44 para gêmeos monozigóticos e 0,08 para os dizigóticos. Para gêmeos separados na infância, e criados à parte, as correlações foram 0,52 para gêmeos idênticos e -0,02 para gêmeos fraternos. (máximo é 1,0). Este padrão de resultados nos leva a concluir que a herdabilidade dos escores de felicidade varia de 40 a 50%, bem como, que o ambiente compartilhado, incluindo estilo paternal, status socioeconômico e sistema educacional, não tem qualquer efeito.

            As diferenças individuais na felicidade humana, ou seja, como você se sente no momento, e, também, o quão feliz você se sentirá, em média, ao longo de sua vida, são, primariamente, um assunto de seus genes. Portanto, geneticistas, comumente estudiosos das doenças e desordens humanas, logo terão um domínio mais prazeroso para enfocar: os genes da felicidade humana.

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