
Inteligência: A abordagem psicométrica (Testagem mental)
Os esforços para mensurar a variação em inteligência entre os indivíduos estão completando exatamente um pouco mais que um século. Ao longo desses cem anos, duas abordagens para medir tais diferenças emergiram: a psicométrica e a experimental. Ambas floresceram a partir da percepção universal de que embora todas as pessoas possam pensar e aprenderem, umas são notadamente muito melhores em ambas do que outras. Consequentemente, a pesquisa em inteligência focaliza como as pessoas diferem em competências cognitivas, e não sobre o que é comum para todas elas. O objetivo da pesquisa em inteligência é muito mais amplo e geral do que explicar as complexidades de como o cérebro e a mente funcionam. Essas complexidades são relevantes para os entendidos em inteligência, mas, geralmente, apenas na medida em que elas iluminam porque as pessoas em todas as culturas diferem tanto em sua habilidade para pensar, conhecer e aprender.
O teste de QI (Quociente Intelectual) é o ícone que melhor identifica e representa a abordagem psicométrica para medir a inteligência. Alfred Binet (1857-1911), em 1905, delineou o primeiro destes testes, na França, para identificar crianças que poderiam ter dificuldades em se beneficiar da instrução escolar regular. A ideia de Binet foi amostrar competências mentais cotidianas e conhecimentos que não fossem estritamente ligados a currículos escolares específicos, que aumentassem sistematicamente através da infância, e, ademais, que pudessem confiavelmente prognosticar importantes diferenças no desempenho acadêmico posterior. O resultado foi uma série de itens padronizados, graduados em função da idade e arranjados em ordem de dificuldade. O escore composto de um conjunto de testes (isto é, baseado na soma, ou a média, dos escores de uma coleção de diversos testes) de uma criança era comparado com o nível de desenvolvimento mental daquela criança média de mesma idade cronológica. Tal escore composto tem sido dito medir a inteligência em geral em contraste com a inteligência geral, ou inteligência psicométrica “g”. O propósito de Binet foi pragmático e seus esforços alcançaram pleno êxito, e o seu teste correu o mundo.
Testes similares têm sido desenvolvidos e refinados ao longo dos anos do século passado. Alguns são testes de papel e lápis, designados de testes coletivos, os quais podem ser economicamente viáveis de serem aplicados a muitos indivíduos ao mesmo tempo e com apenas um pequeno sacrifício na acurácia. Os testes de inteligência em geral, individualmente administrados, são tipicamente compostos de dez a quinze testes que variam largamente em conteúdo. As duas maiores categorias são os testes verbais, como vocabulário, informação, analogia verbal e aritmética, os quais requerem conhecimento específico, e os testes de desempenho, como arranjos de blocos, matrizes de raciocínio, e analogia figurativa, os quais requerem muito raciocínio, mas pouco ou nenhum conhecimento.
O domínio altamente técnico que lida com o desenvolvimento e a avaliação de testes mentais, denominado de psicometria, é um dos mais velhos e rigorosos na psicologia. Seus produtos têm sido úteis nas escolas, nas indústrias, nas empresas, na prática clínica privada e hospitalar, no sistema militar, contextos onde eles são amplamente empregados e seu valor prognóstico, preditivo, constantemente aferido. Os testes mentais, profissional e rigorosamente desenvolvidos, são altamente fidedignos, isto é, eles ordenam as pessoas de forma altamente consistente quando elas são re-testadas. Uma grande preocupação, levantada desde os seus primórdios, foi se os testes mentais poderiam ser culturalmente enviesados. Vieses referem-se à super ou subestimação sistemática das verdadeiras habilidades das pessoas oriundas de certos grupos – um nó na escala – favorecendo-os ou desfavorecendo-os. Há muitas técnicas, desenvolvidas dentro da tecnologia psicométrica, que são específicas para revelar os vieses dos testes. Os testes mentais são rigorosamente peneirados para verificar esses vieses, antes de serem comercializados. O consenso obtido entre os especialistas a partir das análises desses vieses, após décadas de pesquisas que frequentemente tentaram provar o contrário, é que os testes de QI não subestimam sistematicamente as habilidades mentais de um grupo ou de outro.
Finalmente, outra e muito importante questão que tem sido intensamente discutida tanto na arena pública quanto nos recintos da academia, no âmbito dos testes de QI, é se eles são válidos, isto é, se eles realmente medem “inteligência” e se, realmente predizem importantes resultados sociais. A maioria da literatura acerca dessa problemática não deixa dúvidas de que os testes de QI, de fato, medem aquilo que a maioria das pessoas significa pelo termo “inteligência” (em geral), e que os testes predizem uma ampla variedade de êxitos sociais, embora alguns o façam muito melhor que outros, e por razões nem sempre bem entendidas.