
Inteligência: ensino e tecnologia
A ideia de que as pessoas possam aprender a pensar melhor, e que essa aprendizagem pode tornar-se duradoura e generalizável para diferentes tarefas em variados contextos é ainda controvertida e reflete um intenso e vigoroso debate acerca da natureza da inteligência. Hoje, diversas teorias da inteligência buscam reconhecimento e aceitação,incluindo a teoria psicométrica clássica (fator g), a teoria neural, a teoria triárquica e a teoria das inteligências múltiplas, e outras que já tivemos a oportunidade de descrever e/ou sumariar em outros manuscritos.
De fato, como se define inteligência tem implicações importantes tanto para os objetivos da aprendizagem quanto para a pedagogia do ensino. As teorias da inteligência parecem enfatizar alguns fatores comuns em suas definições, das quais se podem extrair várias habilidades cognitivas. Exemplos dessas habilidades são: solução de problemas, raciocínio abstrato, representação mental, tomada de decisão, processos executivos e capacidade para aprender. Tomadas em conjunto as teorias da inteligência, podemos depreender, em essência, três categorias de comportamentos inteligentes: A “reflexiva”, a “especializada” e a “neural”. Na categoria reflexiva incluem-se as habilidades cognitivas e a manipulação mental; na categoria especializada incluem-se a experiência e a especialização, e finalmente na categoria neural incluem-se os tempos de reação e de processamento, a capacidade e a eficiência. A maioria das tentativas e esforços para melhorar a inteligência tem se focalizado na categoria de comportamentos inteligentes reflexivos.
É possível ensinar inteligência?
A maioria dos psicólogos e educadores aceita a idéia de que a inteligência pode, em alguma extensão ser mensurada. Mas, podemos modificá-la? Qual a magnitude dessa modificação? Esta modificação é duradoura ou persistente? Esta modificação é generalizável para outras tarefas ou outros contextos? Os argumentos parecem girar mais em torno da quantidade da modificação do que se alguma modificação é de fato possível. Embora as estimativas tenham variado dentro da amplitude de muito pessimista à muito otimista, a melhor estimativa, baseando-se em experimentos bem controlados, é que algum grau de ensino é possível, mas que a melhora varia de modesta à moderada e que raramente a melhora é muito grande. Há vários programas de ensino da inteligência que geraram resultados positivos e promissores, de modo que parece razoável concluir que estes tipos de intervenções na prática funcionam. Claramente algum progresso tem sido feito ensinando inteligência. Vamos comentar rapidamente alguns destes programas que obtiveram sucesso em melhorar a inteligência.
Ensinando inteligência
O programa conhecido como Odisséia tem sido utilizado para ensinar estratégias para melhorar o pensamento e o raciocínio, envolvendo solução de problemas, tomada de decisão e pensamento produtivo. Uma avaliação formal com estudantes de 24 classes oriundas de famílias de baixo nível sócio-econômico e baixa educação dos pais, mostrou resultados promissores. Os estudantes submetidos a técnicas de intervenção de ensino da inteligência mostraram resultados melhores que grupos controles (grupos que não se submeteram a tais técnicas), em diferentes testes de habilidades cognitivas, tais como: solução de problemas, tomada de decisão, raciocínio abstrato, linguagem e pensamento criativo. Os resultados também mostraram que os estudantes puderam transferir estas habilidades apreendidas para novos contextos e novas tarefas. A persistência de tais efeitos não foi investigada.
O programa conhecido como Filosofia para Crianças tem feito uso do método socrático de discussão para melhorar a habilidade de questionamento, de raciocínio indutivo e a natureza da explicação através de estórias que são focalizadas sobre eventos cotidianos. As crianças submetidas a este programa mostraram melhoras nos desempenhos em matemática e leitura quando comparadas com crianças não submetidas a este programa de melhoramento. Outros estudos empregando este programa mostraram que os efeitos foram persistentes e tranferíveis para outras tarefas.
O programa denominado Instrução Heurística melhorou substancialmente o desempenho de estudantes aos quais foram ensinados heurísticas para solução de problemas matemáticos. Comparações entre pré- e pós-testes mostraram que os estudantes que passaram pelo programa ganharam mais pontos e foram mais capazes de transferir tais habilidades para outras tarefas, do que grupos controles que não foram submetidos a tais intervenções. Embora nenhuma informação exista sobre a persistência de tais efeitos, a sua magnitude e generalidade demonstram que o comportamento inteligente pode ser melhorado ou enriquecido.
Outro programa eficiente é o denominado Aceleração Cognitiva através da Educação para a Ciência. Através deste programa diferentes lições foram dadas para melhorar a produção do pensamento científico (como por exemplo, o isolamento e o controle de variáveis), fazendo uso da metacognição e da transferência de conhecimento e estratégias. Os resultados mostraram uma melhora significativa nos testes de desempenho em ciência, matemática, inglês e em exames de educação secundária, por parte dos estudantes que se submeteram ao programa durante dois anos, quando comparados com amostras similares que não se submeteram a tal intervenção. Tais resultados mostram que as estratégias ensinadas tornaram os aprendizes mais inteligentes.
Um programa baseado na noção de inteligência prática mostrou que um grupo experimental alcançou resultados substancialmente melhores que um grupo controle. Por exemplo, estudantes de 5ª e 6ª séries obtiveram resultados melhores em habilidades práticas e acadêmicas, de escrita, leitura, tarefas domésticas e realização de testes. Ao lado disso, os estudantes submetidos a este programa foram mais hábeis em transferir esta aprendizagem para tarefas escolares e para as disciplinas curriculares. A magnitude deste efeito sugere que este programa ajudou os estudantes a se comportarem mais inteligentemente.
Dois outros programas têm mostrado resultados positivos quando aplicados a estudantes de baixo QI e baixo nível sócio-econômico. De fato, o programa Pensamento Produtivo usado para ensinar pensamentos criativos melhorou o desempenho destes estudantes em tarefas similares àquelas do programa, mas não houve transferência para outras tarefas ou problemas fora deste contexto. Do mesmo modo, o programa Enriquecimento Instrumental usado para ensinar estratégias cognitivas, beneficiou certos tipos de aprendizes em termos da magnitude de seus efeitos, da persistência e da transferência para tarefas similares aos testes de QI. Estes resultados sugerem que estudantes menos favorecidos quando submetidos intensamente a estes dois programas de ensino da inteligência podem se beneficiar em termos de elevar os seus QIs.
Em resumo, estes estudos indicam quais elementos são importantes no processo pedagógico que ensina inteligência. Claramente a transferência de uma tarefa para outra ou de um contexto para outro, a extensão do programa e a característica da população submetida a intervenção são algumas das variáveis que determinam o sucesso ou o fracasso de tais programas usados para melhorar ou enriquecer a inteligência.
Inteligências múltiplas e tecnologia
A teoria das inteligências múltiplas baseia-se na idéia de que todas as formas de inteligências têm a mesma importância para os seres humanos. Essas formas de inteligência desenvolvem-se em diferentes momentos e de maneira diferentes em diferentes indivíduos. Baseados nesta teoria o professor e o estudante devem reconhecer que todas as pessoas tem potencialidades e fraquezas para a aprendizagem. Desta forma modificando-se o ambiente de aprendizagem com a tecnologia se pode melhorar e desenvolver cada uma dessas formas de inteligências. Esta teoria supõe, em princípio, que há oito tipos diferentes de inteligências que podem ser enriquecidas com o uso da tecnologia vigente. Então vejamos estas inteligências.
A inteligência visuo-espacial inclui as habilidades para perceber o mundo com acurácia, visualizar objetos e criar imagens mentais. Ela lida com artes visuais, navegação, arquitetura e certos tipos de jogos, tal como o xadrez. Essa forma de inteligência pode se beneficiar dos programas Corel Draw, Corel Photoprint, Microsoft Paint, Image Composer, 3D Software e de outros existentes no mercado que envolvem desenhos, pinturas, gráficos, mapas e cores.
A inteligência verbal/linguística se relaciona as palavras e a linguagem. É a capacidade para usar as palavras de forma eficaz na leitura, escrita, fala e escuta. Essa inteligência pode-se beneficiar dos programas Word Processors, Desktop, Creative Writer, E-mail, Internet Mailing List, Vídeo-cassete, Eletronic Networking, os quais são facilmente encontrados em nossas lojas de computadores.
A inteligência musical inclui habilidades para perceber, discriminar, transformar e expressar formas musicais. Este tipo de inteligência pode-se beneficiar de programas que combinam estórias com musicas, programas de leitura que associam letras/sons com música e programas que permitem aos estudantes criarem seus próprios sons e músicas. Exemplos desses programas são: Music Composing Software, CD-Rom, Vídeodisc-player, Karaoke e Microsoft Musical Instruments.
A inteligência lógico/matemática lida com o raciocínio indutivo e dedutivo, com os números e suas relações. Ela também envolve a habilidade para reconhecer padrões, manipular formas geométricas e elaborar conexões entre pedaços de informação. Esta inteligência pode ser enriquecida e melhorada fazendo-se uso de programas tradicionais tais como: Database Programs, Spread-sheet Programs, CAD Programs, Problem Solving Software, Graphing Calculators e Simulation Games.
A inteligência corporal/cinestésica está relacionada ao movimento físico e ao conhecimento do corpo e como ele funciona. Ela envolve a capacidade para usar o corpo para expressar emoções, jogar e usar a linguagem corporal. Esta inteligência pode ser enriquecida por programas que fazem uso contínuo do Joystick, Mouse e Touch Window. Exemplos são os Word Processing Programs, Animation Programs, Software Games, Science Dissection Software, Physical Education Software e BodyWorks Programs.
A inteligência interpessoal é usada nas relações pessoa-a-pessoa. Ela inclui a habilidade para se comunicar com os outros e para fazer distinções entre emoções, intenções, motivações e sentimentos de outras pessoas. Esta forma de inteligência pode ser implementada a partir do uso de Telecomunications Programs, Computer Games envolvendo duas ou mais pessoas, e-mail, Power Point Programs, Produção de Vídeos, e outros similares que envolvem atividades em grupos.
A inteligência intrapessoal é uma forma de inteligência que é baseada no conhecimento de si próprio. Ela envolve a metacognição, respostas emocionais, auto-reflexão e a consciência de conceitos metafísicos. Este tipo de inteligência pode ser enriquecido pelo uso de jogos envolvendo apenas uma pessoa, programas envolvendo soluções de problemas, programas de pinturas e desenhos para expressarem emoções ou sentimentos, Laserdisc, Edição de Filmes (Adobe Premier), Computer Assisted Instruction (CAI), jogos instrucionais em que o adversário é o próprio computador e outros programas que encorajam a auto-consciência.
Finalmente, a inteligência naturalística é aquela inteligência que permite as pessoas distinguirem, classificarem e usarem os elementos da natureza. Esta forma de inteligência pode ser melhorada a partir do uso continuado de programas que manipulam os diversos elementos da natureza. Por exemplo, jogos envolvendo a natureza (Oregon Trail II), produção de vídeos externos, produção de audios que capturam os sons da natureza, e-mail ou procuras na internet sobre temas específicos da natureza, montagens fotográficas da natureza, produção de página na Web sobre temas específicos da natureza e visitas programadas a florestas, jardins botânicos, museus, etc.
Em resumo, estes recentes avanços na qualidade tanto do “software” quanto do “hardware” oferecem aos educadores possibilidades reais de desenvolver o potencial de cada estudante. O entendimento de cada tipo de inteligência é a peça chave que permitirá aos professores reconhecerem e desenvolverem as diferentes formas de inteligência dos estudantes e, por consequência, compreenderem e lidarem com as potencialidades e fraquezas que acompanham cada inteligência. Neste caso, o professor é imprescindível e nenhuma tecnologia ou máquina, por mais sofisticadas e inteligentes que sejam, poderão substitui-lo. Na realidade, a única maneira de operar uma transformação profunda na sociedade é através da educação. Isso é que é um milagre, isso é que é aperfeiçoamento genético de uma raça. O resto é conversa.