A inteligência na qualidade das instituições

A inteligência na qualidade das instituições

               Inúmeros estudos têm documentado as relações dos QIs nacionais não apenas com o crescimento da economia, como, também, com um vasto conjunto de fenômenos. De fato, ao lado do efeito direto sobre o crescimento econômico, inteligência tem efeitos significativos sobre outros fatores que a este afetam diretamente, tais como, corrupção e eficácia governamental.

            Neste contexto, inteligência também afeta a qualidade das instituições governamentais porque governá-las requer habilidade para entender os princípios norteadores da alta qualidade da produção. Sendo inteligência positivamente relacionada à paciência, e pelo fato de, habilidades cognitivas, como o conhecimento geral e proficiência em raciocínio abstrato, serem importantes determinantes da aprendizagem individual, inteligência e conhecimento suportam decisões racionais, não apenas no domínio privado e individual, como, também, nas instituições e sistemas políticos. Assim considerando, é sensato esperar que inteligência tenha um forte efeito na qualidade das instituições, com seus agentes requerendo conhecimento dos princípios e leis que governam as instituições governamentais.

            Por adição, tem-se que o papel das instituições governamentais é concebido como uma máquina do mais elevado nível de confiança e cooperação. Disso decorre que trabalhar em instituições governamentais requer um grau de altruísmo que pode sinalizar inteligência, pois é ação que reclama alto poder cerebral para apreciar os benefícios da cooperação a longo-prazo. Assim é que, dados da economia comportamental revelam agentes de QIs elevados sendo mais cooperativos em jogos demandantes de confiança, com inteligência para causar prosperidade através dos canais de escolha pública.

            Nesse cenário, a população de QI mais elevado melhora a qualidade das instituições, afetando positivamente o crescimento econômico através de instituições governamentais de alta qualidade. Para testar esta hipótese, artigo recentemente publicado por Kanyana ( Intelligence, 42: 44-52 ) analisou o efeito do nível de inteligência média sobre diferentes medidas das qualidades das instituições, usando dados de 164 países, ao longo do período de 2006 a 2010. O principal resultado foi que inteligência nacional média, como medida do capital humano, afetou positivamente quatro das seis medidas de qualidade institucional consideradas, denominadas controle de corrupção, eficiência governamental, qualidade regulatória e obediência às leis. O efeito positivo da inteligência é robusto em controlar outros determinantes da qualidade institucional.

            Especificamente, o QI explica mais do que 1/3 das variações na qualidade institucional: 33% das variações no controle da corrupção; 44% das variações da eficiência governamental; 21 % das variações da liberdade de expressão e responsabilidade social; 23% das variações da estabilidade política; 37% das variações na qualidade regulatória e 38% das variações na obediência às leis.

            Decorre disso que, países com níveis mais elevados de capital humano exibem instituições de melhor qualidade do que países de capital humano mais baixo. Esse padrão de resultados, todavia, de forma alguma deve ser interpretado como evidência de que existem alguns países com populações mais inteligentes que constroem instituições muito melhores e alguns outros países, com populações menos inteligentes, que edificam instituições mais pobres. O que o estudo demonstra é o fato de que um nível de entendimento de uma nação acerca das leis e princípios que governam as instituições e o grau de cooperação de capital humano dentro das instituições nacionais constituem elementos fundamentais para a qualidade institucional.

            Em outras palavras, inteligência realmente importa para a qualidade das instituições governamentais.

 

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