
A inteligência pesa na avaliação escolar?
Professores,
pais, dirigentes e a mídia em geral explicam que grandes disparidades ocorridas
nas avaliações escolares brasileiras, especialmente, as diferenças entre
escolas públicas e privadas, diferenças regionais e diferenças sócio-econômicas,
são causadas por uma miríade de fatores, entre eles, tamanho da classe,
qualificação dos professores, disponibilização de computadores, segurança
escolar, renda e nível educacional dos pais, acesso à bibliotecas, entre
outros. Raramente, porém, estes mesmos professores, pais, dirigentes e mídia
aceitam que as habilidades cognitivas dos alunos é que são diferentes, supondo,
erroneamente, que tal diferença não seja a grande responsável.
A suposição de que as variáveis
acima afetam o desempenho escolar, primariamente em leitura, escrita,
matemática e ciência, nunca tem sido sustentada pelas evidências. Aqueles que alegam
que as mesmas são importantes apelam, quase que exclusivamente, na experiência
e no bom-senso que têm, quando deveriam olhar para mais longe. Muitas dessas
pessoas são, ideologicamente, dirigidas a sustentar que o paradigma da pobreza,
e seus correlatos, é o que melhor explica as desigualdades. Se isto for
verdade, simplesmente reduzindo-se a pobreza, deveria, diretamente, reduzirem-se
as diferenças nos desempenhos escolares.
Ora, nem mesmo em nações, cujas
desigualdades são extremamente reduzidas, essas diferenças foram erradicadas.
Tais pessoas omitem que as avaliações obtidas pelo TIMSS também analisam as
associações entre os desempenhos escolares com inúmeras características
escolásticas, como, por exemplo, livro-texto, tamanho da classe, segurança dos
estudantes, renda e nível educacional dos pais, presença de computadores na
escola e de escrivaninhas em casa, resultando na seguinte constatação: nenhuma
destas variáveis tem qualquer efeito preditor para o desempenho escolar. Ou
seja, as únicas variáveis que têm efeito preditor são as habilidades cognitivas
dos estudantes.
Em todo esse debate, um fato simples
e vital tem sido, sistematicamente, omitido: a inteligência dos nossos
estudantes. Dados indicam que avaliações sistemáticas do TIMSS, realizadas nos
anos 1995, 1999 e 2003, bem como, as do PISA 2003, são altamente
correlacionados com as medidas de inteligência, refletidas pelo QI, para quase
70 países. A correlação média entre QI e resultado médio do TIMSS e PISA, é de,
aproximadamente, 0.91, indicando que os testes de avaliação escolar e os testes
de QI medem, certamente, o mesmo constructo: a habilidade cognitiva geral, que
nada mais é que a inteligência. Portanto, questionar que o QI das crianças não
está relacionado à importantes resultados na vida real é admitir, obviamente,
que a aprendizagem de leitura, escrita, matemática e ciências não é importante
para a realidade que estas vivem.
Tradicionalmente, a resistência em
aceitar o peso da inteligência talvez seja porque o desempenho escolar é
creditado à eficiência do sistema educacional, enquanto que inteligência
depende mais de fatores genéticos que de escolaridade. Porém, atentem-se:
nenhuma destas suposições é acurada. Escolaridade determina, não apenas, o
desempenho nos testes de conhecimento e capacidades, explicitamente ensinados
na escola, mas, também, os desempenhos nos testes de QI. Por outro lado, QI,
mensurado na idade de cinco anos, é um forte preditor do desempenho educacional
na idade de 16 anos. Logo, QI e desempenho escolar são como vela e chama, nunca
juntos, mas, também, nunca separados.
Em razão disso, só há uma maneira de
melhorar o desempenho escolar de nossos estudantes. A receita não é simples,
mas é óbvia: fomentar as habilidades cognitivas nos primeiros cinco anos de
vida, enquanto o cérebro ainda é plástico e maleável às mudanças. Os melhores
agentes de mudança? Os pais e os agentes que cuidam das crianças nesta fase.
Nosso paradigma educacional deve ser, portanto, drasticamente alterado.